Diante das leis caninas do Irã, ainda dos tempos de Jesus, o presidente Lula calou-se, ou disse o que não era para dizer. Depois vacilou e voltou atrás diante da pressão popular e ofereceu asilo à Sabineh Ashtiani para que ela não seja morta por apedrejamento. Provavelmente esta atitude foi simplesmente para impressionar mais ainda os eleitores da candidata Dilma, já que a oferta lulista foi realizada no sábado, dia 31 de julho, em pleno palanque eleitoreiro. Tanto que o Irã pouco se importou, mesmo repercutindo na imprensa de lá. A família de Sabineh vibrou ao ganhar esperanças. Sabineh tem 43 anos de vida. Já fora castigada com 99 chicotadas, o que significa no meu entender 100 chicotadas. Covardes chicotadas! Isto porque também no meu entender, quem bate em mulher não passa de um gigantesco covarde! O “grande erro” de Sabineh foi manter relações sexuais com dois homens, já que ela perdera o marido. O interessante nessas leis idiotas é que os homens não são castigados. Haja machismo! O Irã, outra vez no meu entender, parou no tempo. Vive os tempos de Jesus. Nascer na qualidade de mulher no Irã é nascer no inferno. Lá a mulher está de volta aos tempos bíblicos. Aqui no Brasil a mulher também é vítima e está sendo morta pelos assassinos. Leis são criadas, mas as leis, ora as leis! Criar leis aqui é o mesmo que plantar milho para o gado vacum. O Brasil é o país onde ser bandido é quase ser um doutor. O doutor da bandidagem, cujo diploma de faculdade foi conseguido nas ruas.
Para alguns setores mais conservadores do Irã, Lula pisou na bola. Interferiu nos assuntos internos daquele país e Teerã rejeitou imediatamente a proposta de asilo do presidente Lula. Numa carta pública enviada ao presidente Lula, a coordenadora da campanha pela libertação de Sakineh, Mina Ahadi, elogiou a oferta de Lula, criticando veementemente o Irã. Ela escreve com todas as letras: “esse é um regime que apedreja e executa, que prende pessoas todos os dias e corta seus pés e mãos” e completou: “um regime como esse não pode ser reconhecido”. Mas, segundo o que pensa nosso “grande” presidente: “cada país tem sua lei, sua Constituição, sua religião, e precisamos, concordando ou não, aprender a respeitar o procedimento de cada país”. Imagine se nossos ascendentes houvessem respeitado os procedimentos de Hitler, o líder desesperado por sangue. Combinar religião com política governamental é o fim da picada. Só o fato de existir religião já causa um certo desagravo em determinadas pessoas. Isto porque quem fundou religião foram os interessados em alguma coisa, porque os filósofos, os grandes mestres da espiritualidade, mesmo o fundador do cristianismo, Jesus, não fundou nenhuma religião. Ele apenas nos deixou uma receita de bem viver na Terra, para que possamos bem viver no outro lado da vida e esta receita é denominada de Evangelho, que significa “Boas Notícias”. Aí vem igreja disso, igreja daquilo, com a finalidade do poder. O poder paralelo, ou o próprio poder do Estado.
A igreja católica já teve um poder no Brasil quase que de lei. E religião no poder significa autoritarismo. Significa escravidão humana. Este é o trágico efeito da religião no Irã. Domina, escraviza, tortura e mata de forma cruel e desumana. Depois ajoelham e vão rezar o dia inteiro. Deve ser horrível ficar tanto tempo beijando o chão e rezando igual a um maníaco. Cristo, como todos nós sabemos, é completamente diferente. A máxima: “Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, é extraordinária. Já diz tudo. Apesar disso, ainda existem cristãos que solapam as palavras de Cristo só para ganhar dinheiro. Na televisão já não achamos mais com facilidade os canais de nossa preferência. Só dá pastor. Pastor de uma seita, de uma igreja, pastor mentiroso, pastor que nunca foi pastor, pastor que vive da vendagem da palavra de Deus. Ninguém imita Paulo, o seguidor de Jesus. Tornou-se apóstolo depois da morte de Jesus. E foi um grande pastor, vivendo não às expensas do pastoreio, mas da fabricação de tendas, ou as chamadas casas dos árabes que viviam nos desertos.
Termino este artigo com o coração pesado, lembrando o fato de que Jesus indagou aos que iam apedrejar uma mulher, que eles, os homens a condenavam como pecadora. E Jesus indagou se existia entre eles alguém sem pecado para ter o direito de atirar a primeira pedra. E hoje voltamos novamente à lei antiga. Pela lei iraniana, uma mulher condenada ao apedrejamento deve ser enterrada até a altura do peito e golpeada até à morte com pedras nem pequenas nem grandes demais. (Folha SP – 04.08.2010). No Irã os homens não são puros e sem pecado. Para mim não passam de criminosos disfarçados de cidadãos e os mais pecadores que já vi em toda a minha vida. Nem mesmo um nazista dos tempos de Hitler iria apreciar uma condenação por pedradas a uma mulher que não poderá nem se mover. Estamos de volta aos tempos bíblicos e, por conseguinte os tempos bárbaros.
Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista, autor de “És Mulher” entre outros livros.