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Artigos-->SÓCRATES: MAIS DOS QUE UM FILÓSOFO -- 10/08/2010 - 14:06 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sócrates: mais do que um filósofo



No ano 463 antes de Cristo nascia em Atenas um garoto que iria mudar o mundo em seus conceitos sociais e humanos. Além de filósofo Sócrates foi escultor, militar, um bom guerreiro em campos de batalha, estudou geometria e física. Tudo isto autodidaticamente. Não se limitou em seus estudos; não se fixou em escolas; não compôs nenhuma ciência; não escreveu nenhum livro. O seu modo de ensinar, sem ser professor, era conversando e dialogando com as pessoas que buscavam a cultura. O método era claro: interrogar ironicamente e preparar uma dialética, que levava o interessado em aprender a compreender sem muito raciocínio as informações daquele homem que já nascera mestre.

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A filosofia de Sócrates chegou até nossos dias através dos pergaminhos onde constavam os “Diálogos de Platão” e dos deixados por Xenofonte. Nos seus agravos combatendo a falsa retórica com seus gracejos satíricos e cheios de sarcasmos, levou-o a ganhar inimigos. Três de seus discípulos: Anito, Mélito e Lícon, a pretexto de vingança por se sentirem ofendidos, acusaram o mestre de impiedoso nas palavras, claro que não passando tal acusação de pretexto já do conhecimento das autoridades políticas. Diante de seus juízes Sócrates manteve uma atitude altiva e digna, rogando como penalidade que fosse condenado a viver no Pritaneu às expensas do Estado. O Pritaneu era um edifício habitado pelos pritanes, estabelecimento fundado para a aposentadoria dos que mereceram da pátria alguns favores. Igualzinho aos nossos políticos brasileiros que recebem muitos favores mesmo sem merecerem após suas inúteis vidas políticas.



Condenado a beber a cicuta Sócrates manteve a calma e até sorria diante dos juízes. Xantipa, sua esposa, protestou veementemente alegando uma farsa, o que era verdade. Conhecida pelo seu irascível gênio a mulher do filósofo rodou à baiana e quase derramou o cálice contendo a cicuta na mão do carrasco. Xantipa amava o marido e chorou vendo Sócrates brindar aos que lhe desejavam a morte. Sócrates, ao contrário dos filósofos anteriores naturalistas, pregou como objeto da filosofia o próprio homem, ou uma interpretação refletida do procedimento humano e das regras que a ele presidem. Foi o criador da ciência moral e humana. Talvez tenha sido sem a percepção da humanidade, o precursor de Jesus, que nasceria 400 anos depois dentro dos parâmetros da evangelização e não da ciência humana ensinada constantemente pelo filósofo.



Nós, aqui no Brasil, vivemos numa situação onde a pobreza da maioria da população é uma evidente catástrofe, sem solução de continuidade, porque os ricos e poderosos insistem em preservar as condições da boa vida deles. Surgindo no Brasil um Sócrates deixa mais do que evidente o assassinato dessa personalidade, posto que a politicalha de plantão não permite a coexistência entre os ladrões dos cofres públicos e as palavras terríveis e mágicas do filósofo revoltado com as injustiças pendentes da suposta República. Uma República brasileira injusta já no seu nascedouro, quando se banhou no sangue dos pobres, chamados pelos republicanos injustamente de “jagunços”, somente porque eram morenos acaboclados, mulatos, quase negros e mesmo negros, revelando os caracteres físicos típicos do sertanejo nordestino.



Euclides da Cunha escreveu: “Canudos não se rendeu. Exemplo único de toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, caiu no dia 5 de outubro de 1897, quando mataram os seus últimos defensores. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados”.



Antes da queda de Canudos 300 mulheres se renderam, acreditando que seriam poupadas. Ao contrário do que imaginavam foram todas degoladas, juntamente com seus filhos pequenos. Antes disso ficaram, provavelmente, submetidas aos constantes estupros dos “raivosos” soldados republicanos. Nossa República já nascera banhada em sangue. O quê diria Sócrates sobre isto, ele, que inspirou a República ao seu pupilo Platão? Tenho certeza de que preferiria beber a cicuta novamente, brindando-a ao Brasil e seus falsos políticos.



A República brasileira ofenderia ao filósofo, assim como ofenderia à revolução francesa. Nossa própria Constituição ofende ao povo com mentiras deslavadas: quando é que fomos iguais perante a lei? Cadê a cidadania do pobre? Se somos livres por que amordaçam à imprensa?



O Brasil não passa de uma república infernal quando enganadores, ladrões e criminosos são os donos do poder com raríssimas exceções. Tão raras que Diógenes procuraria alguns poucos bons políticos brasileiro com a tocha acesa em pleno dia e jamais encontraria.



Jeovah de Moura Nunes

escritor e jornalista, Autor do romance “A cebola não dá rosas” entre outros livros.



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