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Artigos-->A VIOLÊNCIA É FRUTO DOS EXEMPLOS DA REPÚBLICA -- 12/08/2010 - 13:39 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A VIOLÊNCIA É FRUTO DOS EXEMPLOS DA REPÚBLICA



Crescem as violências diárias no Brasil, os assaltos e roubos. Verdadeiras quadrilhas formam o que podemos denominar “pelotões de assaltos” e de extermínio do pobre cidadão indefeso, porque simplesmente o país – este amado Brasil – retirou, à força de lei, as armas que poderiam nos defender. Talvez isto tenha ocorrido para salvaguardar os bandidos e assassinos já que os políticos parecem fazer parte também dessa malta, quando as notícias explodem na imprensa quase sempre apontando mais um político ladrão. O fato é que para todos os governos brasileiros o cidadão comum não vale nada. Podem ser assassinados no atacado. “Eles” esquecem que esses cidadãos são eleitores e poderiam votar neles políticos. Então isto se torna uma politicalha errada “deles”. É coisa de dar muitas risadas, embora seja algo dramático e aterrorizante. Realmente não temos mais soluções para conter a criminalidade, simplesmente porque o Código Penal de 1941 é uma piada festiva para a falta dos direitos do cidadão honesto com grande lucro para quem rouba, assalta, mata e faz o que bem entende e gosta de fazer. Este é o Brasil de todos nós, mas muito mais para quem não é honesto. O honesto não passa de um otário e os ladrões agem na calada da noite, isto é: trabalham demais. Cadeias para eles gozarem umas férias? Parece que as vagas estavam se acabando e já de pronto o governo prepara-se para a construção de novos presídios, digo, hotéis de uma ou de várias estrelas. No meu simplório entendimento com a pena de morte não necessitaríamos de mais cadeias.



Muito diferente do tempo em que prenderam os inocentes Irmãos Naves. A família inteira foi torturada durante meses para contar o crime que eles nem sabiam de sua existência. Um delegado nomeado pelo ditador Vargas adorava torturar os Naves. Até uma criança recém nascida foi torturada juntamente com a mãe. Hoje, bandido vive mil vezes melhor do que um trabalhador honesto e bem por isto o crime aumenta a olhos vistos. E se não existem cadeias para políticos criminosos, seria de bom alvitre que não houvessem cadeias para os criminosos comuns, posto que o direito seja para todos e não apenas para os políticos. Ou será que o artigo 5º da Constituição já foi para os quintos? Neste caso, o criminoso poderia requerer sua “carteira profissional de criminoso”. Lembro-me de um freguês-ladrão nos meus tempos de camelô, quando me perguntou se a honestidade valia a pena. Eu lhe disse que valia a pena porque o homem honesto não vive assustado, já que não tem nenhum débito com a sociedade. Ele sorriu e ironizou: “não vive assustado, mas vive sem dinheiro!”. Depois me perguntou: “você vive sem dinheiro?”. Respondi-lhe: “até vivo sem dinheiro, mas acabei de lhe vender umas cuecas e o seu dinheiro veio parar no meu bolso”. O ladrão puxou o revólver e apontando para mim, disse: “eu posso tomar esse dinheiro que era meu”. Respondi-lhe então: “sim. Você pode. Mas, ainda que este dinheiro vá para o seu bolso, ele continuará sendo meu”. O rapaz afastou-se meio constrangido. Percebi que ele compreendera o que eu lhe dissera.



Nos tempos do Império Brasileiro havia a pena de morte e prisão perpétua. Maria Quadrado, uma jovem de 20 anos fora condenada à morte. O imperador comutou a pena para prisão perpétua. Mas, a mocinha conseguiu fugir e pegou a estrada para Monte Santo, carregando uma pesada cruz de dez metros, porque fora violentada quatro vezes após sair de Salvador BA. No início da caminhada ela vestia duas saias, usava tranças e alpercatas. No caminho resolveu doar as roupas aos mendigos, os calçados foram roubados em Palmeira dos Índios. Quando chegou a Monte Santo já estava descalça e vestia apenas um saco de esparto com buracos para os braços. Sua cabeça raspada lembrava os loucos do hospital de Salvador. Ela mesma raspara depois de ser violentada pela quarta vez. Mas, esta mocinha tornou-se tempos depois o braço direito de Antônio Conselheiro, o chefe supremo da extraordinária Canudos. Hoje sua fama e aventuras correm os países como personagem literária de nossa cultura, no livro de Mario Vargas Llosa. Foi preciso um estrangeiro contar uma história proibida pela nossa República porque nós não ousamos falar de Canudos. Principalmente da coragem dos canudenses, uma coragem que a maioria dos brasileiros de hoje não possuem. Maria Quadrado morreu degolada com trezentas outras mulheres e dezenas de crianças, defendendo e dando vivas ao Conselheiro sem reclamar da República, que não queria deixar testemunhas do grandioso banho com o sangue dos pobres. Hoje nada mudou. Os pobres continuam pobres. O sangue deles derramado pela criminalidade não tem nenhuma importância para todos os governos empinados em seus pedestais. Mas, quando um rico é assassinado tudo é providenciado, até a imediata pensão vitalícia para a esposa “queridinha”.



Jeovah de Moura Nunes

escritor e jornalista

Autor do romance “A cebola não dá rosas” entre outros livros

(artigo publicado no jornal "Comércio do Jahu" numa sexta-feira, 30 de outubro de 2009)
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