Pensando bem, não sei até que ponto valerá à pena participar das eleições que se avizinham, para renovar a estrutura de poder neste País. Não que eu seja contra o processo democrático de eleições livres e gerais para escolha de nossos representantes. Não é isso. Aliás, é bom que se diga, sou contra qualquer tipo de continuísmo. E muito francamente a favor da renovação do poder, pois entendo ser esta a forma mais democrática de oxigenação política. Não foi por outra razão que muito critiquei, enquanto pude, a adoção da reeleição no Brasil, principalmente da maneira como ela foi conduzida e direcionada.
A reeleição produz o desgaste político, a vulnerabilidade do poder e desemboca, quase sempre, no fisiologismo, no desperdício de recursos, na corrupção e tantas outras mazelas já conhecidas do povo brasileiro. A rotatividade do poder, ao contrário, é medida saudável e necessária, pois traz consigo a oxigenação política, de que falamos, apagando desenganos e reacendendo esperanças.
A bem da verdade, estas eleições não estão me agradando. Primeiro, porque os que postulam à presidência da república, até agora, não se fizeram claros em relação aos planos, projetos e programas de que dispõem (se é que existem) para resolver o elenco de questões nacionais pendentes, que não são poucas, e bastante conhecidas de todos. Não é o caso de aqui mencioná-las, em respeito aos leitores que precisam ser preservados de leitura bastante fastidiosa.
Depois, dentro do que seria a seqüência lógica dos planos, projetos e programas, não há, de idêntico modo, qualquer alusão à forma, à maneira, aos meios, ao “como” esses candidatos pretendem, efetivamente, dar curso à resolução do rol de problemas a que fizemos referência.
Ademais, face ao confuso e desordenado contexto internacional, aliado ao grande nível de endividamento público e privado em que se encontra o Brasil, não vejo, qualquer que seja o eleito, como ele encontrará os meios necessários para modificar ou implementar medidas saneadoras que traga de volta o desenvolvimento sustentado deste país. Será mais um governo, infelizmente, vítima da globalização e, portanto, presa fácil do sistema financeiro internacional.
Tudo me leva a concluir, que o eleito, seja ele qual for, passará todo o tempo de seu mandato desenvolvendo a mesma política do “chove e não molha” (olha aí a chuva novamente!) dopado pela obediência aos amargos e repetidos remédios ministrados pelos representantes do sistema financeiro internacional, que nos empurram pela goela abaixo, remédios amargos, em doses exageradas e sem levar em conta as interações medicamentosas e os efeitos colaterais, remédios preocupados apenas em atender o cumprimento da receita neo-liberal que, entre outras coisas, implica caminhar na direção da atração de investimentos estrangeiros, do desmantelamento da máquina pública, das forças armadas, o que resulta na falta de recursos para investimentos em setores estratégicos, tornando o presidente indefeso, anêmico e sem forças para atacar, sequer, um mosquitinho da dengue, que seja.
Quanto mais a violência patrocinada pelo crime organizado, pelo tráfico de drogas, pelo contrabando de armas, a injustiça social, o desemprego, a correta e mais justa distribuição de renda e outras mazelas que assustam e arranham a própria estrutura de poder do Estado.
O Estado, hoje, tornou-se fraco, desde o momento em que foi obrigado, pelas circunstâncias, a retirar-se do direito e do dever de interferir no setor produtivo, no mercado, desde que precisou vender todas as suas empresas estatais, estratégicas ou não, produtivas ou não; desde que perdeu o controle das questões econômicas e sociais,como um todo; desde que só tem trabalhado para manter em dia o pagamento de uma dívida, sabidamente impagável, que cresce em proporções geométricas, e que, somente no ano passado, conforme dados colhidos no SIAFI, Sistema de controle de despesas do governo, gastou, só com juros e encargos da dívida externa, R$52,8 bilhões. Quantia semelhante a soma dos investimentos em Educação, Saúde e Trabalho e Emprego, conforme nos dá conta o colunista do Jornal de Brasília, Cláudio Humberto.
A grande questão que hoje se coloca, conforme indaga em excelente artigo, publicado na imprensa, o atual prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT-RS), é a respeito de até que ponto as relações globais construídas e baseadas no na força do capital financeiro, que dita e impõe regras, “não estão fazendo submergir a contratualidade moderna.
A democracia, nos termos colocados pelo citado prefeito, “foi sempre uma bela construção teórica e, mesmo com as suas vicissitudes práticas, mostrou-se superior às tentações de sua superação ‘totalizante’. Estas, cujos extremos foram as tendências fascistas ou stalinistas, nunca tiveram um sistema conceitual tão coerente como aquele produzido pelos grandes juristas e pensadores burgueses. “Principalmente quando estes forjavam., na teoria, o Estado Democrático de Direito que se consolidou ao longo deste século”.
É visível, portanto, a pouca influência de que dispomos, nós, os eleitores, em relação aos mandatários que, por ironia, elegemos para serem nossos representantes e que por eles, em nome do Estado, somos subjugados.
Um Estado, por seu turno, onde “predominam as premissas ‘técnicas para orientar políticas e não premissas ‘políticas’ para escolher as técnicas”. Um Estado, aliás, que se mostra frágil para o exercício de suas funções públicas. Que perdeu a capacidade de influenciar, positivamente, os rumos de sua própria política interna, face ao predomínio do capital externo, que visa, tão-somente, a reprodução do capital aqui empregado, sob condições impostas de aplicação, exigindo enormes sacrifícios da população, sem que possamos vislumbrar, a médio e longo prazos, qualquer saída plausível.
Sem uma grande unidade de força social e uma maioria política comprometida com as mudanças, de modo a rediscutir um novo contrato social e inaugurar uma nova era de relacionamentos, em que o Estado avocasse para si, novamente, sua força política e, de certo modo, coercitiva, para “revogar a força normativa do capital financeiro; e tornar a inclusão social o centro de todas as políticas públicas o elemento ético de uma nova e forçada redistribuição da renda,ficaremos dando murros em ponta de faca.
Por estas e outras razões, é que precisamos torcer para que os resultados das discussões levadas a termo entre as duas diferentes forças ou partes da solução inteira e definitiva, caminhe naquela direção de que trata o parágrafo anterior. Estas forças a que me refiro são, naturalmente, representadas, de um lado, pelo II Fórum Social Mundial, levado a efeito na capital Gaúcha, e de outro, pelos países mais ricos do mundo, o Fórum Econômico Mundial, que está sendo realizado, em Nova York, num gesto de solidariedade contra os atentados terroristas de 11 de setembro.
Ao final das discussões, é preciso ter esperanças, de que possamos, após praticar a tolerância e a justa negociação, encontramos as soluções para todos os problemas de ordem econômica e social que nos afligem, e ao mundo todo, única maneira, assim penso, de inaugurar uma nova ordem, um novo contrato social, de caráter mundial, capaz de encontrar a tão almejada paz mundial, que passa, necessariamente, pelo desenvolvimento econômico sustentado de todas as nações do nosso planeta, com disciplina e justiça social.
Não vejo, portanto, outra saída. Estas eleições, para ser sincero, poderiam até despertar maior interesse. Tudo irá depender do encontro de soluções que estão sendo discutidas nos fóruns.