Todo ano é a mesma coisa, em fevereiro, todo mundo faz as malas e vai brincar o carnaval em qualquer outro lugar que não seja a cidade onde se vive. Alguns vão para o Rio desfilar na avenida, mas os que moram no Rio, não vêem a hora do carnaval chegar e sair da cidade, rumo às praias mais afastadas. Outros vão parar na Bahia, em Salvador, a desfilar no Pelourinho, enquanto os baianos, ficam na cidade a fim de ganharem todo o dinheiro que puderem.
Mas não vim aqui, pra falar da Bahia, nem do Rio de Janeiro, queria falar dos grandes centros, que por ventura encontram-se completamente vazios nestes feriados prolongados. São Paulo é um bom exemplo, Brasília também, apesar de não ser lá um grande centro, mas é a capital ‘minha gente’. Gostaria de apelar, a todos que saíram de férias, que sejam simpáticos e fiquem onde estão, não voltem.
As cidades que ficam vazias tornam-se maravilhosamente aconchegantes nas férias. Já dizia Luis Fernando Veríssimo, sobre Porto Alegre ser maravilhosa nas férias de verão, apesar do calor insuportável. Brasília é assim, apesar das chuvas de verão. São Paulo também, pode-se até passear de carro no Brás, durante o fim de semana. Sem falar nos outros grandes centros urbanos, os quais não conheço realmente.
Gostaria de estender meu apelo a todos os que ficaram, para que juntos, formemos um mutirão... Vamos construir um muro ao redor da cidade, e para adentrar dentro de nossa muralha altamente fortalecida, serão precisos passaportes especiais. Todos que chegarem aos nossos portões, serão pegos pela surpresa de uma nova lei exigindo tais passaportes. Por via das dúvidas, colocaremos estandes especiais para efetuarem o cadastramento dos passaportes especiais, às pessoas que estavam de férias, e por conseguinte ainda não voltaram. Os estandes ficaram apenas alguns metros da entrada dos portões, de ferro inoxidável é claro, e somente com o mesmo passaporte, poderão os excluídos entrarem dentro de nossa muralha.
A cidade, qualquer que fosse ela, ficaria deserta e vazia para sempre, e nós que sempre fomos excluídos de todas as farras homéricas e carnavalescas, seriamos a prova viva de que os últimos serão os primeiros, e teremos o paraíso terrestre aos nossos pés. Uma cidade inteira só para nós, que trabalhamos tanto o ano inteiro, e ainda não saímos de férias durante o carnaval. Pra quê? Para que construíssemos um muro ao redor da cidade, vingando assim todo um histórico de antepassados que sempre odiaram o carnaval, por nunca fazerem parte da folia.
Usando as mesmas letras imortalizadas por Sergio Sampaio, digo e repito que: Eu quero é botar meu bloco na rua... Não um bloco de carnaval, um bloco de concreto, um tijolinho, um pedaço do muro que vamos todos erguer ao redor da cidade. Pra ver no que vai dar, e o que vai acontecer...