ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA: RECUPERAR TEMPOS PERDIDOS
MEIRELES,Plácida Amaral* e MENDES,Maria Alzenir Alves Rabelo**
*Pós-graduanda PROEJA pelo Instituto de Desenvolvimento da Educação Profissional Dom Moacyr/ Secretaria de Estado de Educação–Acre/ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. Licenciada em Geografia pela Universidade Federal do Acre - UFAC. Contato: proejaturma01@hotmail.com / placida.meireles@hotmail.com
**Mestre em Letras, Linguagem e Identidade - UFAC; Especialista em Didática e Docência do Ensino Superior - UNINORTE; Graduada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e suas Literaturas - UFAC. Contatos: alzenir.mendes@gmail.com
RESUMO:
A evasão e o reingresso de alunos trabalhadores na Educação de Jovens e Adultos (EJA) são os pontos fulcrais deste artigo, cujo objetivo é analisar as causas da desistencia e do retorno dos egressos dessa modalidade de ensino à sala de aula. Para o alcance de nossos objetivos, realizamos pesquisa bibliográfica complementada pela de campo. Esta consistiu em entrevistas com alunos da Escola Estadual Theodolina Falcão Macedo, em Rio Branco, Acre. Averiguamos que a causa principal da evasão, bem como do retorno aos estudos, é a necessidade de trabalhar e de qualificar-se para manter-se ou ingressar no mercado de trabalho.
PALAVRAS-CHAVES: Evasão; Reingresso; Educação de Jovens e Adultos – EJA.
ABSTRACT:
The evasion and reingresso of diligent pupils in the Education of Young and Adultos (EJA) are the fulcrais points of this article, whose objective is to analyze the causes of the desistance and the return of the egresses of this modality of education to the classroom. For the reach of our objectives, we carry through bibliographical research complemented by the one of field. This consisted of interviews with pupils of the State School Theodolina Falcão Macedo, in Rio Branco, Acre. We inquire that the root cause of the evasion, as well as of the return, is the necessity to work and to characterize itself to remain themselves or to enter the work market.
KEYWORDS: Evasion; Reingresso; Young education of e Adult – EJA.
1 INTRODUÇÃO
A evasão e o reingresso escolar de alunos trabalhadores na Educação de Jovens e Adultos (EJA) é o tema deste artigo, no qual analisamos as causas preponderantes que incidem na problemática, bem como as perspectivas dos estudantes que retornam à sala de aula. Para tanto, revisamos nossas leituras sobre o assunto e realizamos entrevistas com estudantes de faixas etarias heterogeneas, da Escola Estadual Theodolina Falcão Macedo, situada no bairro Placas, em Rio Branco, capital do Estado do Acre. Todos os entrevistados são reingressos à EJA e matriculados na segunda etapa do Ensino Básico, que corresponde ao Ensino Medio regular.
Partimos do pressuposto de que os principais fatores que determinam a desistencia e a volta à escola envolvem circunstancias que extrapolam o plano individual desses alunos, pois dizem respeito também a questões de ordem familiar, econômica e social. E estas solicitam o avigoramento de políticas públicas capazes de alcançar, contornar ou, pelo menos, minimizar os efeitos negativos da evasão.
De antemão, constatamos que nas políticas públicas educacionais, mesmo com todos os avanços e com as melhorias empreendidas, voltadas para jovens e adultos, ainda resta muito a ser realizado, principalmente nas camadas mais pobres. Isso porque, embora a oferta ao acesso escolar tenha sido ampliada, não foram criados mecanismos capazes de garantir a permanencia do aluno nos estudos até a conclusão das etapas do Ensino Básico, sem interrupções.
De acordo com Rosalba Lopes de Oliveira e Maria José Medeiros Dantas de Melo, na obra Alunos da EJA: um olhar para além da escola (2001), a EJA é uma modalidade de ensino amparada em lei e destinada às pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino regular na idade apropriada ou que o tiveram de forma insuficiente e descontínua, sem a devida qualidade, ou seja, em situações e condições contrarias àquelas prevista na legislação brasileira.
A ausencia das condições adequadas à educação infringe a Constituição Federal, especificamente o seu capítulo III, seção I, artigo 205, que trata do assunto nos seguintes termos: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (CF/1988).
Infringe também a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB/1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Em harmonia com a Carta Magna, a LDB vigente, em seu título II, artigo 3º, inciso I, determina que o ensino deve ser ministrado com base nos princípios da igualdade de condições tanto para o acesso como para a permanencia do aluno na escola. E no inciso IX, do referido artigo, prevê a garantia de padrão de qualidade para o ensino público.
Conscientes do que significa uma educação harmônica com a legislação e com as necessidades dos alunos, em especial, dos alunos trabalhadores, é que justificamos esta pesquisa. Porquanto acreditamos que a construção de estrategias para diminuir a evasão, estimular o retorno e garantir-lhes a permanencia na escola deve ter por ponto de partida o conhecimento dos fatores que os afastam e que os movem de volta a ela.
Ademais, o saber escolarizado é inegavelmente um instrumento capaz de reduzir a exclusão social, tarefa que não nos remete apenas a uma questão de especificidade etária, mas a uma questão de especificidade social, econômica e cultural (OLIVEIRA & MELO, 2001).
Dessa constatação é que indagamos sobre como se dá evasão e o reingresso dos alunos de EJA à escola. Também indagamos sobre quem são eles e de que classes sociais advêm. As respostas a estas questões visam à promoção de debates e à busca de proposições que sinalizem ações proativas, dirigidas não apenas à clientela de EJA, mas a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, no contexto do respeito à diversidade social.
As diretrizes metodológicas desta investigação situam-se predominantemente no campo da pesquisa qualitativa. Entre os autores que discorrem sobre os princípios deste tipo de pesquisa, merece destaque o conceito defendido pela professora Maria Cecília de Souza Minayo (2002), para quem a pesquisa qualitativa alcança questões muito particulares, absorvendo um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois trabalha com o mundo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos métodos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variaveis.
O apanhado geral do nosso estudo está estruturado em cinco partes básicas. Na primeira, “Introdução”, explicamos como surgiram as nossas indagações acerca do assunto. Na segunda, “Da evasão ao reingresso escolar”, discorremos sobre o dilema dos alunos que precisam optar pelo trabalho em detrimento do estudo. Na terceira parte, “Os que retornam: perfil”, centramos a discussão na problemática desta pesquisa. Na quarta e última parte discursiva, “Considerações finais”, fazemos a síntese dos resultados alcançados na análise. E por fim, apresentamos as “Referencias Bibliográficas”.
2 DA EVASÃO AO REINGRESSO ESCOLAR
A evasão escolar, de modo geral, tem em suas origens uma soma de fatores sobre os quais não se esgotarão, tão cedo, os debates dos agentes do ensino-aprendizagem. No rol das discussões, além da busca de conhecimento sobre o problema e dos meios para contorná-lo, é importante enfatizar que a interrupção dos estudos tem os efeitos negativos que abrangem não somente aspectos econômicos, mas também de natureza afetiva, interferindo na aprendizagem por ocasião do reingresso dos alunos à escola.
Os altos índices de evasão na modalidade EJA, se por um lado indicam a ausencia de conhecimento sobre as especificidades de sua clientela, por outro, incitam o delineamento das necessidades dela. Dado que exige a elaboração de programas, currículos e métodos de ensino voltados para um público, cujo percurso escolar ocorre de forma irregular e que não é “alvo nativo” da instituição.
Diversos educadores citam que um dos prováveis motivos da evasão em EJA pode está diretamente relacionado a métodos didáticos inadequados às necessidades da clientela. Edna Lúcia Ferreira Campos e Dalila Andrade de Oliveira tratam do assunto na obra: A Infrequencia dos alunos adultos trabalhadores, em processo de alfabetização, na Universidade Federal de Minas Gerais (2003). Para essas estudiosas, os jovens e adultos se evadem por causas diversas, as quais têm sido banalizadas por alguns gestores do ensino.
As autoras chamam atenção para o fato de que o aluno da EJA é diferente dos demais e que traz consigo as lembranças das derrotas vividas ao longo de um processo de ensino-aprendizagem inclinado para o fracasso, resultando em sentimentos negativos que abalarão sua auto-estima. Para elas, qualquer decepção sofrida na escola, por mínima que seja, serve como impulso para que esse indivíduo abandone os estudos.
Para a pesquisadora Rosalba Lopes de Oliveira, em Jovens e adultos como sujeitos de conhecimentos e aprendizagem (1999), muitos adultos retardatários têm vergonha de frequentar a escola. Eles chegam a pensar que serão os únicos em classes de crianças, sentindo-se por vezes humilhados, tornando-se inseguros quanto à sua capacidade de aprender por causa da diferença de idade.
Merece também consideração o material didático e a adequação dos conteúdos e da metodologia de ensino às expectativas da clientela. O trabalho escolar que, quando não é devidamente programado, pode significar uma sobrecarga e impulsionar a desistencia. E não há como negar que os fatores socioeconômicos impedem os alunos de se dedicarem plenamente a seu projeto de crescimento profissional e intelectual.
Somado a essas questões, o despreparo do corpo docente para lidar com as especificidades da EJA é um fator a mais para aumentar a evasão. Isso se dá, principalmente, quando o professor não valoriza o conhecimento de mundo e a experiencia de vida que o aluno trabalhador adulto traz consigo, por já estar inserido num processo de produção.
De forma sucinta, sabemos que o aumento da evasão tem em suas bases, além das causas específicas, vinculadas ao universo particular do aluno e ao contexto em que ele se insere, as regras de funcionamento da escola e sua linguagem, as quais devem ser conhecidas por aqueles que estão envolvidos na problemática.
Do contrario, estas se constituirão em um obstáculo maior à aprendizagem do que o próprio conteúdo ou, até mesmo, do que as barreiras já impostas pela condição social dos excluídos. De posse desse conhecimento, passamos a refletir sobre as razões que motivam os desistentes ao reingresso à sala de aula.
Sabemos que, predominantemente, o retorno aos estudos ocorre devido à acelerada tecnologização do mercado de trabalho e suas inovações, que exigem conhecimentos comprováveis por meio de atestados de escolarização. Fato que obriga as pessoas a reconhecer a importância do Ensino Básico e da capacitação técnica, como requisitos mínimos para se manterem ou se inserirem nos meios produtivos que lhes garantam uma vida digna. Em outros termos, a competitividade do mercado força a busca pela elevação da escolaridade e da ampliação das perspectivas de empregabilidade.
No referido contexto, as palavras-chaves para a entrada e permanencia nos espaços do desenvolvimento são: “qualificação, conhecimento e adequação”, e quem não os tem, corre serio risco de ser colocado à margem do sistema e de perder as oportunidades de ascensão social. Os alunos que abandonaram a escola, quando se dão conta de que estão em desvantagem em relação àqueles que concluíram o Ensino Básico, buscam a EJA a fim de se capacitarem.
Da necessidade de oferecer educação a quem não teve acesso ou que não pode concluir os estudos em idade adequada, a EJA tem ampliado a oferta de possibilidades para o ingresso e o reingresso escolar. Seus números aumentam a cada tomada de consciencia dos que haviam se evadido da escola, mas que, ao serem confrontados com as exigencias do mercado, têm urgencia em recuperar o tempo perdido, adquirindo a escolaridade básica, tão valorizada no atual cenario.
3 OS QUE RETORNAM: PERFIL
O perfil dos alunos trabalhadores que se evadem e retornam à Educação de Jovens e Adultos - EJA - é bastante diversificado e bem diferente da clientela que é constituída por universitários, profissionais qualificados e pessoas que buscam apenas aprimorar seus conhecimentos. Em contraposição, são pessoas que sobrevivem de atividades braçais, domésticas, informais e esporádicas, não raro, de subempregos ou em outras situações que os colocam na condição cíclica de ingressos e reingressos na escola.
Esses trabalhadores tentam recuperar as etapas perdidas em sua formação escolar. E para concluir seus estudos se esforçam em dividir o tempo entre o trabalho, a família e o estudo, sacrificando o horario de descanso para frequentarem as aulas e realizarem as atividades pertinentes a cada disciplina.
Ao retornarem à sala de aula, eles são logo identificados por atitudes que lhes comuns: chegam muitas vezes atrasados, cansados e com sono. Por conseguinte, pedem quase sempre para sair mais cedo. Isso quando comparecem. Sem contar que não são poucos os que estão sempre com pendencias nas atividades escolares.
Outro aspecto observável neles é o sentimento negativo, uma visão pessimista sobre suas condições individuais de aprendizagem, pois muitos se sentem incapazes de acompanhar o programa de ensino. Soma-se a isso, o senso de urgencia em recuperar o tempo perdido, que os faz crerem que o programa oferecido não se coaduna com a realidade vivenciada por eles no cotidiano, surgindo daí mais um motivo para se evadirem novamente da escola.
Os alunos trabalhadores parecem presos a esse ciclo ingresso/ evasão/ reingresso, por mais que tenham consciencia da necessidade de se adequarem às exigencias da sociedade da escrita e das novas tecnologias. O ciclo repete-se até mesmo com aqueles para quem aprender é um prazer, já que também para eles a causa maior da evasão é a necessidade de trabalhar, aliada à dificuldade de conciliar trabalho e estudo.
Desnuda-se, pois, diante de nós, um fato social concreto: metade do alunado da escola media brasileira é constituída de estudantes trabalhadores, que se esforçam e se desgastam física e mentalmente para trabalhar e estudar, sob as condições impostas pela vida fora da escola e pelo cotidiano escolar. No deslocar-se da rotina diaria entre o trabalho e a escola, muitos desistem. Outros, embora em menor quantidade, ultrapassam os obstáculos e conseguem concluir esse nível de escolarização. É o que nos apresenta Zenir Maria Kock, no artigo A volta dos excluídos: como conciliar estudo e trabalho (1992).
Os jovens e adultos trabalhadores lutam para ultrapassar sua situação sócio-econômica e cultural, que está na raiz do problema da evasão. A exigencia de mão-de-obra qualificada para ocupações urbanas, o baixo nível de escolaridade, que resulta em desemprego ou em subemprego, os baixos salarios; as péssimas condições de vida e, em muitos casos, desestruturação da familia comprometem o processo de aprendizagem, o acesso ou o retorno aos estudos.
Devemos, entretanto, lembrar que tão importante quanto o acesso à escola é a garantia de que todos tenham uma educação de boa qualidade. Neste sentido, Moacyr Gadotti, em Educação de Jovens e Adultos: um cenario possível para o Brasil (2003) esclarece que não são os nossos sistemas educacionais que têm direito a certos tipos de alunos. É o sistema escolar de um país que tem que se ajustar para atender as necessidades deles. É necessário, pois, tornar a aprendizagem mais significativa, apresentar alternativas que estejam comprometidas com a formação de todos os jovens e adultos.
3.1 O universo da pesquisa
No propósito de ter uma amostra representativa da pesquisa aplicada aos reingressos na EJA, na escola Estadual Theodolina Falcão Macedo, selecionamos seis alunos trabalhadores, de faixas etarias distintas, aos quais nos referiremos por meio de pseudônimos.
Do grupo quantitativamente menor (a terceira idade), entrevistamos uma senhora de 56 anos, identificada por “D. Maria”. Da faixa etária mais jovem, que representa o segundo maior grupo dos reingressos, selecionamos duas pessoas: um rapaz e uma moça, denominados “João” e “Rita”, respectivamente. Do grupo dos adultos, que no universo selecionado é o maior, entrevistamos três chefes de família: duas mães, “Raquel” e “Clara”, e um pai, denominado “Carlos”.
O questionário, previamente elaborado, consistia de três perguntas. A primeira objetivava saber até que série eles frequentaram a escola e qual o motivo desistencia. A segunda pergunta tinha por finalidade verificar quais razões os motivaram a retornarem à escola. E a terceira visava saber como eles pretendem recuperar o tempo perdido.
Durante as entrevistas, ao fazermos a primeira pergunta, ou seja, até que série eles freqüentaram a escola e qual o motivo desistencia, “D. Maria”, a mais idosa dos entrevistados, respondeu que: “Aprendi a ler e escrever com meu pai, vim pra cidade, fiz até a 4ª série. Parei pra criar meus nove filhos”.
Ao lançar a pergunta para os mais jovens, “João” mencionou: “Estudei até a 8ª serie e tive que parar de estudar porque meu pai morreu, aí tive que trabalhar na colônia do meu tio pra ajuda minha mãe e irmãos”. Para “Rita”, o motivo da desistência não foi diferente. Sua resposta foi taxativa: “terminei o ensino fundamental, saí da escola porque passava o dia trabalhando como empregada doméstica, quando chegava a hora da aula, estava com muito sono e cansada”.
Feita a mesma indagação aos representantes dos adultos, os chefes de família, a primeira mãe, “Raquel”, relatou: “Estudei até a 4ª série, numa colônia perto de Brasiléia, desisti porque tive que trabalhar como empregada doméstica em casa de família para ajudar meu marido a criar os filhos”. A outra mãe, “Clara”, respondeu: “Fiz até a 6ª serie. Parei pra cuidar dos meus filhos. Foram 10 anos que fiquei sem estudar e sofria com problema de vista e a sala de aula era meio escura”. O pai de família, “Carlos”, reiterou as justificativas já dadas pelos demais entrevistados: “Fiz o ensino fundamental todo, desisti porque na época minha mulher engravidou e tive que trabalhar para sustentar a família”.
Para a segunda pergunta do questionário, cuja finalidade era verificar as razões que os motivaram a retornarem à escola, “D. Maria”, a de mais idade entre os entrevistados, relatou: “Retornei à escola depois dos meus oito filhos casados e com mais 25 anos sem estudar, quero melhorar minha auto-estima e a escola pode ajudar, se Deus permitir eu ainda quero se formar na Universidade Federal do Acre para Pedagogia”.
Ao ser interrogado, “João”, do grupo dos mais jovens, respondeu: “meu chefe falou que iria mim empregar, mas todos os empregados tinham que no mínimo o ensino médio”. Para “Rita” seu retorno ocorreu porque, nas palavras dela: “preciso com urgência do diploma de nível médio para poder ter mais chance de conseguir um trabalho com salário melhor e deixa de ser doméstica em casa alheia”.
Dos adultos, chefes de família femininos, “Raquel”, a primeira mãe entrevistada explicou: “Arrumei um trabalho numa papelaria, e todos os funcionários tem o nível médio e outros já tem faculdade, eu fiquei envergonhada de ser a única sem diploma na mão”. A segunda mãe, “Clara”, justificou seu retorno do seguinte modo: “Meus filhos estão crescidos, quero procurar um emprego e com o nível médio fica tudo mais fácil”. Quanto ao representante masculino dos chefes de família, “Carlos”, relatou: “Voltei à escola porque com estudo posso ganhar mais, subir de cargo na Empresa a qual trabalho”.
Quanto às respostas à terceira pergunta, sobre como pretendem recuperar o tempo perdido, “D. Maria” relatou emocionada: “A EJA é minha segunda família, sinto acolhida por todos na escola, do porteiro a diretora, eu adoro estar na escola, tenho maior carinho pelos professores. Deus mim deu uma segunda chance para estudar, ainda pretendo que meus filhos e netos mim vejam formada”.
“João”, um dos representantes dos jovens, deu a seguinte resposta: “Eu quero recuperar o tempo perdido terminando o ensino médio e prestar vestibular pra engenharia”. Ao responder à mesma pergunta, “Rita” declarou: dedicação total aos estudos, sou filha de trabalhares rurais, vou ser única da família a ter o ensino médio completo”.
O grupo dos adultos, dos chefes de família, a começar por “Raquel”, respondeu: “Acho bonito, a pessoa que estuda, quero aprender muito aqui na EJA e mais tarde quero fazer universidade”. A segunda indagada, “Clara”, relatou: “Quero aprender muito, ter conhecimentos, os estudos é uma porta aberta na minha vida”. O pai de família “Carlos” respingou: “Quero sair do EJA e ir direto para uma faculdade, por isso mim dedico muito as aulas e as explicações dos professores, pois sei que tudo vai mim servir futuramente”.
No delineamento do perfil dos entrevistados, reiteramos o conhecimento previamente adquirido sobre essa clientela. Nesta, existem pessoas que já se inserem na terceira idade, jovens que mal saíram da adolescencia e adultos em fase produtiva, pais e mães de família. Alguns destes, com elevado número de filhos. De modo geral, são alunos com carencias sociais comuns à grande maioria dos que pertencem ao universo dos não privilegiados: trabalhadores braçais, colonos, atendentes de loja, empregadas domésticas e donas-de-casa.
A análise dos dados permitiu-nos identificar os motivos mais relevantes da evasão e do retorno dos alunos da EJA à escola, representada aqui pela escola Theodolina Falcão Macedo. A necessidade de trabalhar foi o principal motivo tanto do afastamento dos estudos como do reingresso a eles, diferenciando-se somente nas circunstancias em que se dão.
Na primeira situação, aquela em que o aluno se evadiu, a necessidade de trabalhar para sobreviver, independente da qualificação profissional, foi que o moveu para fora da sala de aula. Na segunda situação, em que ocorreu o reingresso, a busca pelo saber escolarizado, uma imposição do mercado de trabalho, foi decisiva para que o individuo buscasse a exigida qualificação e retornasse à escola.
No contingente dos entrevistados, constamos que a realidade dos alunos da EJA, no Acre, não é diferente daquela vivenciada em outras localidades do Brasil. Ou seja, a necessidade de trabalhar tem sido o motivo principal da evasão escolar. E que essa mesma causa impulsiona os alunos de volta à sala de aula.
Quanto às expectativas deles e como recuperarão o tempo perdido, a pesquisa também permitiu-nos inferir que os alunos da EJA fazem o possível para corresponder ao anseio da escola: tornarem-se cidadãos do saber. E que o fato de os estudantes almejarem prosseguir os estudos sugere um grau de confiança depositado por eles na escola, por vislumbrarem nela uma saída potencialmente capaz de transformar suas vidas. Como resposta essas expectativas, uma nova estrategia metodológica pode efetivar uma prática pedagógica com melhor qualidade, maior envolvimento, abrangencia e, consequentemente, melhores resultados para os alunos, garantindo-lhes o acesso e a permanencia na sociedade do conhecimento.
Um aspecto que não pode ser minimizado é a estrutura física do espaço escolar, que deve ser apropriado para esses alunos, os quais se encontram cansados ao fim de cada jornada de trabalho e, por conseguinte, propensos a dormir no banco da escola. Isso ocorrerá com maior frequencia se o ambiente da sala de aula e o material didático forem inadequados para mantê-los atentos. Se a iluminação, a título de exemplo, for insuficiente, os alunos trabalhadores ficarão em situação bastante desconfortavel para o desenvolvimento dos processos da real aprendizagem, resultando quase sempre em desistencia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fato de chegar à última etapa deste trabalho não significa conferir-lhe um caráter definitivo. Ao contrario, a intenção é apontar o que foi apreendido no transcorrer da pesquisa e apontar, com isso, indicadores que ajudem de alguma forma na reflexão sobre melhorias no combate à evasão e no processo de integração dos discentes da EJA à escola.
Da necessidade de compreender a problemática da clientela que se evade e retorna à sala de aula, e em busca de aprofundamento sobre o assunto, realizamos a pesquisa na escola Estadual Theodolina Falcão Macedo. Detectamos que entre as causas da evasão, a principal é a necessidade de trabalhar para sustento proprio ou familiar. De modo geral, os resultados dessa pesquisa revelam que, para os alunos, a escola representa sinônimo de ascensão social.
Para que isso ocorra é necessário inserir esses individuos no ambiente escolar, visando à inclusão social. E estes são os objetivos da EJA: uma educação possibilitadora da aquisição dos conhecimentos básicos para o usufruto pleno das prerrogativas garantidas a todos os cidadãos brasileiros, não somente na LDB, mas também e, principalmente, na Constituição Federal em vigor.
Uma inclusão ampla pressupõe o conhecimento das especificidades dos jovens e adultos como sujeitos do ensino-aprendizagem. Os gestores públicos precisam, portanto, conhecer essa clientela, e assim, chegar às causas da evasão, bem como avaliá-las no contexto em que elas ocorrem. E a partir desse conhecimento, será possível o desenvolvimento de estratégias específicas para, de fato, dirimir a exclusão social de jovens e adultos trabalhadores.
São necessários investimentos, não apenas para esses individuos, mas também para todos os que vivenciam carencias sociais. Desse modo, a qualificação para o competitivo mercado de trabalho não venha ser um fator a mais de exclusão e sim de incentivo. Para isso, os governos devem propor parcerias com a iniciativa privada, no sentido de promover programas de estágios remunerados e de meio período para os alunos de EJA, a exemplo do que já ocorre com o ensino regular.
Em relação à escola, percebe-se que esta ainda é propensa à seletividade, ou seja, a priorizar os alunos que estão em situação regular quanto à idade/serie, em detrimento dos que se encontram em defasagem. Além do mais, é notório que a escola à qual nos reportamos ainda não aprendeu a lidar com essa clientela. E que em razão da lacuna entre o modelo de ensino vigente e a necessidade da maioria dos excluídos, urge medidas eficazes para que possamos obter bons resultados.
Os agentes responsáveis pelo ensino devem buscar uma maior aproximação com a realidade social dos alunos que pertencem ao universo dos excluídos, a fim de traçar políticas voltadas para torná-los aptos a se integrarem e a solucionarem os problemas emergentes. É primordial, portanto, propiciar aos educandos, por intermedio da escola, a conscientização de seus direitos e deveres tornando-os aptos para reivindicar sob amparo legal a efetivação das prerrogativas constitucionais.
Os jovens inseridos na EJA, embora em descompasso idade/serie com o ensino-aprendizagem, uma vez incorporados a essa modalidade de ensino, têm chances de concluir o ensino fundamental e o medio em tempo recorde e sair da condição de excluídos do processo. Alcançar êxito nessa empreitada requer a criação de condições para atraí-los e mantê-los na escola até que concluam, pelo menos, a formação básica.
O reingresso de jovens e adultos trabalhadores na sala de aula tem como objetivo imediato possibilitar-lhes a conclusão da etapa escolar básica e, assim, completar o processo educacional, o que lhes ampliará o crescimento individual e profissional. Não obstante essas finalidades, reinserir os alunos evadidos no ambiente escolar é mais do que oferecer-lhes os meios para melhorar sua vida intelectual e econômica, é também propiciar-lhes o aumento da autoestima, capacitá-los para recuperar o tempo perdido e extirpar de sua historia as marcas da exclusão.
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