Cada pessoa humana tem o potencial de saber e conhecer a verdade, desde que procure ser capaz de adquirir as informações necessárias para conhecer as diversas versões sobre os fatos – suas causas e efeitos relacionados de modo direto e indireto, como fatores que explicam os motivos dos acontecimentos.
A constituição da história de qualquer nação – depende fundamentalmente dessas condições, a partir das ações pessoais e sociais dos indivíduos nos seus grupos, em qualquer lugar ou território habitado, onde se encontram, trabalham e fazem as demais atividades.
Para que assim seja – a condição essencial reside na liberdade de ver, pensar e falar que deve existir para cada ser humano, desde o seu tempo de criança até a sua velhice ou no decorrer de toda a vida, sem haver restrições, tampouco a dominação, autoritarismo, perseguição e tirania dos poderosos.
Se assim fosse no Brasil, desde o tempo da colonização ou dominação, certamente a nação em que vivemos – seria outra na expectativa do progresso, desenvolvimento, cultura, dignidade, respeito e justiça para a maioria de sua população que vem sendo tratada pela violência estabelecida na esteira dos cinco séculos.
- Então, nunca tivemos períodos de paz e harmonia?
Por incrível que pareça, certamente, não!
Quando for constituída a Comissão da Verdade – toda a história brasileira, desde o seu início, deverá ser examinada e analisada, pois depois de cinco séculos – ainda temos os grandes problemas de miséria, abandono, ignorância e alienação fazendo o retrocesso da cultura, progresso e desenvolvimento do povo.
Se formos explicar todos os motivos para justificar esta situação – haverá uma série de questões bastante complexas, considerando o tempo de estudo e pesquisa acerca dos fatores históricos e políticos quer permanecem escondidos ou guardados nos porões dos arquivos incompletos e comprometidos com os vencedores.
Sabemos e temos certeza, sem dúvidas, de que os indígenas são as maiores vítimas do descaso e acomodação da maioria dos civilizados europeus que vieram ocupar, dominar, explorar e tirar o bastante proveito da natureza brasileira, assim como fazer a perseguição e extinção genealógica dos nativos.
Em decorrência da resistência dos índios – sobre o genocídio deles, o sistema colonialista, a partir de Portugal – fez a importação dos escravos africanos para a mão de obra nos engenhos da cana de açúcar no Brasil, mediante o apoio e autorização dos governantes portugueses, europeus, mais dos brasileiros que, facilmente saíram da pobreza para a riqueza.
Nas matas, rios, vilas, cidades, além das serras e planaltos do território na fase inicial da exploração – o sangue humano corria por toda parte, especialmente nas áreas litorâneas do Nordeste, onde estavam os colonizadores fazendo as ocupações das terras indígenas.
A libertação dos índios e dos escravos foi adotada, em diversas oportunidades, de forma relativa e conseqüente aos acontecimentos mundiais, sem atingir a raiz ou a base do direito à liberdade com justiça e dignidade, ou seja – criando as condições para que o homem ou mulher nessa condição saíssem da subordinação em que viviam e tivesse outro meio de sobrevivência.
Quase todas as providências tomadas pelos políticos e governantes da história que se diz nacionais – foram incompletas, sem os necessários fundamentos da política na dimensão política, social, econômica, administrativa e cultural inerentes ao futuro do ser humano – em sua linha natural da paz e justiça para a sua realização na vida.
Os estudos, pesquisas e conclusões históricas da nacionalidade brasileira – jamais deixaram de ser feitos em favor dos poderosos e tiranos, mediante as suas disponibilidades financeiras, seus títulos e dominação dos bens materiais ou da riqueza que dispunham, mediante os incentivos dos governantes.
Algumas exceções, neste sentido, poderiam ser colocadas, mas, o pequeno número delas não oferece razões para que tenhamos a expressão de grande destaque na mesa do jogo de dominó em que vivemos e temos conhecimento, onde os espertos e habilidosos sabem como vencer cada jogada ou partida diante dos admiradores.
Nos séculos 18 e 19 outros movimentos foram realizados em diferentes regiões do país, sobretudo as de maior expressão populacional e econômica, nos quais os pobres estiveram na dianteira, muitas vezes sob a liderança de pessoas mais esclarecidas que tiveram a disposição e coragem de enfrentar as classes da burguesia.
Os líderes militares, em diversas ocasiões estiveram à frente dos conflitos e revoltas, ao mesmo tempo em que souberam ficar distantes dos interesses sociais e coletivos, em defesa dos seus direitos localizados – quartéis, vencimentos e armas com que se mantêm fortes e capazes de “salvar a pátria” nas horas difíceis.
O maior exemplo dessa natureza – foi registrado de 1964 a 1988, quando os líderes militares fizeram a imposição de cinco governantes que se disseram defensores do patrimônio nacional, em nome das recomendações feitas pelos Estados Unidos – Washington, para erradicar o perigo comunista do país, feito pelos “subversivos” que pretendiam chegar ao poder.
Outra vez – o sangue humano foi derramado em todo o país, com a morte, perseguição, prisão, acusações falsas e demais absurdas desumanos praticadas às escondidas nas casernas das forças militares, assim como nos aviões e navios em que os acusados foram massacrados e jogados nas águas marinhas.
Em cima dessa história insólita, macabra e ignorada – a Comissão da Verdade deverá marcar o seu primeiro campo de ação, partindo da atualidade para o passado e até mesmo o futuro que pretendemos fazer, visando alcançar o conhecimento sobre a história brasileira, sem estabelecer o propósito da vingança e do ódio em torno dos fatos sanguinários.
Após a criação das quarenta Comissões da Verdade existentes no mundo atual de 196 países da ONU – estamos na expectativa de ter mais uma – do Brasil, no início de 2011, com a qual haverá o reforço das demais para que outras 156 atendam e reconheçam o desejo dos seus habitantes – pela opção da Verdade com a paz social.*Jornalista e Sociólogo – UFRN.