Apesar de Brasil e Portugal serem países amigos e falarem o mesmo idioma, não é raro cairmos nas armadilhas impostas pela semântica lexical. Durante estes 17 dias em que estou em Lisboa, Portugal, deparei-me com termos cujos significados variam de acordo com a região e/ ou com o modo como são enunciados.
Um exemplo clássico é o termo "facto" - que já não existe mais no vocabulário português brasileiro (pt-BR), que pode se referir a um acontecimento ou a um terno (roupa), caso se retire a consoante “c” . Este, aliás, é um dos motivos que fez com que a classe intelectual de Portugal criasse um abaixo-assinado on-line a fim de barrar no Parlamento a adoção do novo acordo ortográfico, conforme determinado outrora pela CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o foro em que se reúnem os oito países falantes do português para definirem o futuro do respectivo idioma.
Ao retirar-se o “c” de “facto” (fato), a palavra passaria a ter apenas um significado, provavelmente “acontecimento”, como já ocorre no léxico tupiniquim. Mas o que parece simples aos nossos olhares, para o português de origem arcaica representa o empobrecimento da língua. E aí reside o entrave-mor do alardeado acordo. Todavia, enquanto os países não chegam a um consenso, vejamos outros exemplos relativos à diferenciação de significados.
Aqui, não se diz banheiro, mas casa de banho; criança é miúdo, puto é rapaz (inacreditável, não?), rapariga é moça direita (adjetive qualquer mulher do Brasil com este termo para ver o que lhe acontece), bébé é bebê, alguidar é bacia e biberon é mamadeira. Já sacola de plástico, daquelas usadas em supermercado, é saco; bolinha é pão francês, estufar é cozinhar, lume é fogo, levar ao lume é levar ao forno; ônibus é autocarro, rotunda é rotatória (via), comboio é trem metropolitano, metro é o metrô, deitar fora é desfazer-se de algo, e, pasmem, ao atender ao telefone eles não dizem os habituais "alô" ou "pronto", mas "tô" ou “tó”, abreviações do verbo estar.
Não bastassem estas pérolas linguísticas, há também a tal da bicha, que aqui, como muitos no Brasil já sabem, é fila. Assim, quando uma fila tem muitos clientes, é comum vozearem “como a bicha está grande”. Se esta moda pega...
* Original de Carlos Rogério Lima da Mota, direto de Alvalade, Lisboa / Portugal.