A AES Eletropaulo conseguiu uma proeza que outra companhia da mesma área de sua atuação jamais alcançara em todo o Estado de São Paulo: deixar a população de Vargem Grande Paulista e Cotia mais de 24 horas sem energia elétrica. Não bastasse tal irresponsabilidade, seu telefone de emergência não resolvia qualquer problema, até porque, não se conseguia contatá-lo, o tempo todo estava ocupado. Talvez fosse possível algum esclarecimento da empresa por meio de Chico Xavier, se ele estivesse vivo.
O dilema teve início na manhã do domingo, 23 de janeiro de 2011, e até ontem à tarde, um dia e meio depois, havia bairros sem energia. Ninguém possuía uma explicação oficial para o fato, sabia-se apenas por um ou por outro que o desserviço era resultante das intempéries climáticas, queda de árvores, manutenção dos equipamentos e outros tantos blablablás.
É crível que o tempo tenha mesmo grande parcela de culpa pelos transtornos causados. Todavia, nada justifica uma empresa que trabalhe com este tipo de adversidade não se preparar para enfrentá-la ao longo do ano com iniciativas preventivas, principalmente em regiões mais vulneráveis, como nas encostas dos morros ou à beira da mata. O que se percebe diante do caos narrado é que a AES Corporation, gestora privada da Eletropaulo, está completamente despreparada para atender a enorme demanda, agindo apenas em casos isolados e relegando a terceiros a preservação da rede, uma de suas principais atribuições.
Mas a culpa não pode ser atribuída somente à distribuidora; cabe também ao poder público parte da responsabilidade, principalmente às agências reguladoras do setor, por ocasião, aqui denominadas fartos cabides de emprego. Há um ano, neste mesmo período, questionei a ARSESP, a agência paulista responsável pela fiscalização das concessionárias privadas de energia e saneamento do Estado de São Paulo, sobre as sucessivas panes ocorridas na região. A mensagem, por sinal robótica, pecou pela padronização: “Sr, o tempo pode causar interrupções no fornecimento energético, isso não decorre apenas do mau gerenciamento das operadoras, como sugere em seu e-mail.” Só faltou citar que São Pedro era o culpado; melhor, Deus, por ter inventado a chuva.
Se a ARSESP se esquiva do problema, servindo apenas como advogada da infratora, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica- parece mais interessada no assunto, afinal, disse, à época, em português rebuscado – uma raridade nos dias atuais, que apuraria os fatos e, se fosse o caso, comprovada a ineficiência, puniria a distribuidora. Lá se foram 12 meses e até o momento a única punição coube aos contribuintes, que pagam caro por um serviço de péssima qualidade e não recebem a devida atenção daqueles cuja lei estabelece como órgãos de proteção do CONSUMIDOR e não das Companhias de capital privado.
Em Vargem Grande Paulista e em Cotia, os apagões não se restringem apenas aos meses de chuva, como podem pensar alguns leitores. Durante o ano todo, semana após semana, sem qualquer motivo, lá se vai a energia... A população se revolta, os comerciantes procuram as autoridades, pedem uma explicação elucidativa; como numa roleta russa, o problema é jogado de mão em mão. E em quem a arma dispara? Preciso ser mais direto?
No final das contas, cansados de acumular tantos prejuízos e de esperar uma decisão favorável ao ressarcimento dos danos por parte da “célere” Justiça brasileira, os empresários resolvem o problema adquirindo geradores, enquanto o custo dos mesmos, como reza o folclore nacional, quem paga é o contribuinte, por meio do aumento de preços. Já aos desprovidos de tal importância financeira cabem a paciência e o inconformismo, apesar de os contratos de privatização responsabilizarem as operadoras por qualquer dano sofrido pelo consumidor.
Não parece ser o caso da Eletropaulo, que opta por cansar o reclamante ao lhe fornecer um grupo de protocolos de atendimento sem qualquer valia (aqueles números fornecidos no início de cada solicitação), até que ele desista da queixa. É a política do enrola-enrola, a mesma usada pelos caciques da politicalha há anos e que multinacionais como a norte-americana AES Corporation adotam por simples conveniência. E por ser uma empresa estrangeira, até que ela aprendeu rapidinho o macete tupiniquim, não acham?