O Fórum Social Mundial transforma atitudes, redefine horizontes e acalenta sonhos.
Conversamos com pessoas dos mais variados recantos da terra. Imprescindíveis indivíduos que, certamente, não encontraremos mais. Entretanto, estaremos sempre juntos pois partilhamos das mesmas fantasias e somos parceiros das mesmas andanças. Retribuímos largos sorrisos e jogamos ao vento o adeus com lenço branco. Se um mundo de paz é utopia, somos cúmplices desta utopia. Todos somos um pouco Fórum Mundial. Todos queremos o mundo ideal. Todos queremos o mundo possível.
No período entre 31 de janeiro a 05 de fevereiro de 2002, Porto Alegre foi o centro das atenções do planeta. Para quem acredita que a história acabou e sonhar não é possível, o FSM provou justamente o contrário, que o mundo pode e deve ser mudado. O Fórum Social é uma plenária mundial de discussões, testemunhos e debates com a grandeza e o talento de homens e mulheres que escrevem a história da humanidade. Muitas vezes com enorme sacrifício.
Todos nós somos um pouco os povos da floresta que choram, impotentes, diante do grito de madeira. Somos seringueiros, pescadores e ativistas do meio ambiente. Somos excluídos, sem-terra e sem-teto, mas temos a certeza que os cidadãos a cidadania inclui, terra se conquista e moradias nós construímos tijolo a tijolo.
Todos vemos através de uma burca e percebemos que sem burca o mundo é mais bonito, mesmo que nosso olhar seja para uma paisagem árida afegã. Somos Palmares e como Zumbi lutamos. Somos Sete Povos e como Sepé pelejamos. Todos somos um pouco argentinos porque batemos panelas e nos indignamos, somos cara pintadas porque temos juventude em nossas ações, somos maio de 68 porque temos coragem e apenas pedras em nossas mãos. Sonhamos com a justiça e com a liberdade, porque vemos uma bandeira vermelha que tremula em uma sacada de um edifício próximo ao arco-íris.
Todos somos Rigoberta com uma face angelical e palavras amáveis, reclamamos a desumanização dos nossos adversários, porque se homens fossem com eles nós conversaríamos. Somos um pouco Esquivel porque para termos paz no mundo devemos ter paz em nossa aldeia, em nossa família e em nossos corações. Todos somos um pouco revolucionários, porque revolucionário ama e brinda a paz entre as nações.
Todos nós brindamos, como brindam os companheiros de Castilla.
- Arriba!
- Abajo!
- A la izquierda!
- Adentro!
E tomamos vinho, cerveja, água, suco, vodca, uísque, cachaça, tererê, champanha e chimarrão. Quando reverenciamos à saúde dos povos brindamos com a alma e com a paixão, com a solidariedade e a união, com o afago e a solidão. Nos emocionamos com a lágrima de uma sueca sentimental, com o sorriso do Lula e com a mão espalmada do Olívio.
Somos solidários quando recebemos de presente uma singela bala de banana e percebemos que após 4 horas de conferência era o que mais queríamos. Somos companheiros quando respondemos “I don´t speak english” a pergunta do americano perdido no meio do auditório. Os olhares se cruzam e as mãos se tocam em um calorosa saudação. Um flash distraído de uma máquina fotográfica registra este simples momento do fórum.
Somos revolucionários porque somos um pouco Lamarca pois queremos a paz e por ela até fazemos a guerra. Somos revolucionários porque somos um pouco Clara, companheira de Marighela, incansável, persistente e sonhadora.
Somos um mundo melhor porque olhamos atentos a dimensão de pôr-do-sol, acreditamos que em nosso parque há harmonia e somos um gigante na beira do rio. Enfim somos 60 casais num porto cada vez mais alegre.