Nestes tempos em que vivemos a inebriante dinâmica da sociedade baseada na competitividade e na malfadada busca por “levar vantagem” em tudo e sobre todos, torna-se, para alguns, constrangedor cogitar o balizamento dos rumos humanos, em seus mais variados aspectos, na instrução crística de elevar o Amor, elemento construtor do universo, muito acima dos píncaros das mais avançadas cartilhas do conhecimento catedrático. É a contradição de agora: Contar com a maior força existente – o Amor de Deus - soa como fraqueza nas altas rodas decisórias, responsáveis pelos rumos sociais.
Analisando com imparcialidade e objetividade, compreende-se, sem maiores esforços, que permear as frentes de pesquisas científicas e políticas pelas lições elevadíssimas da Lei Divina, acaba tornando-se um absurdo compreensivelmente ignorável, se o prisma pelo qual se observa as Ordens do Alto, for o mesmo pelo qual olharam aqueles que quiseram restringir o Cristo à fragilidade dos vitrais artísticos dos templos religiosos, embora não possamos, em momento algum, desprezar as intenções nobres daqueles que os edificaram. Mas o fato é que, se Jesus não for fitado como o maior e mais atual exemplo de pragmatismo, nunca será matéria obrigatória nos currículos escolares. Retórica e teorias mirabolantes não enchem barriga, popularmente definindo.
Como, dessa forma, transfundir a sabedoria das admoestações de Jesus para a inquieta dinâmica da corrida diária pelo pão e pelo teto?
Reencontrando o Cristo. Redescobrindo a profundidade de suas palavras e, conseqüentemente, despertando a ciência divina que habita intimamente em cada um de nós. É o garimpo do ouro da fortuna que não perece, multiplicando-se pelos séculos da eternidade, elevando-nos, gradualmente, em direção ao Criador. Este é o tema mais urgente da história da humanidade, porque a história está prestes a assumir rumos absolutamente novos. Novos e, paradoxalmente, velhos como o mundo, por serem os rumos naturais da evolução dos orbes, dos povos, dos homens, das almas. Deus, como já sabemos, não cria e jamais criou regras eventuais para o caminhar das criaturas. O “Apóstolo dos Gentios”, Paulo, alertou-nos para o fato de que de Deus não se zomba. Deus, por sua vez não zomba de nós. Ama-nos.
Decididos, pois, a abrir caminhos para a única Luz que não conhece obstáculos, aproximamo-nos da condição ideal para compreender a complexidade, edificada na simplicidade das coisas elevadas. A ciência do viver o presente, munidos das experiências do pretérito, construindo, responsável e espiritualizadamente, o futuro.
A primeira lição é elementar: A administração pública ou privada é uma das faces do jogo de xadrez chamado convívio social. A sociedade é a multiplicação de nós mesmos e, assim compreendendo, naturalmente não se pode ponderar acerca da aplicação das Regras Divinas na chamada “alta administração”, sem antes com elas permear a administração íntima de cada um de nós, de nossos lares, nossas famílias, nossas vidas. Essa é a manifestação da compreensão de que se altera algo movendo as peças que o constituem. Aqueles que se debruçam sobre os estudos da microbiologia sabem bem o que isso significa.
A segunda lição nos chega através das entrelinhas do tema mais debatido deste final de milênio: A globalização. Pela forma como este fenômeno econômico tem se dado, a economia e, por conseguinte, a saúde, a educação, a produção e a política de países como o Brasil, passam a ser administrados por controle-remoto, à distância.
Engolimos a isca da promessa multicolorida de estarmos sintonizados às mais “avançadas” nações do planeta e, sorvido o fluido adocicado das possibilidades de compras e comunicações mais ágeis, surge imediatamente o incomodo anzol da “senzala interativa”, cuja abrangência não se resume à parcela mais pobre do povo.
Quando o que faz a diferença é o acúmulo de benefícios materiais individualmente e não se convive com a desagradável visão daqueles que acabam ressequidos pelo processo, o Ser Humano passa a ser apenas mais uma peça do jogo, muitas vezes menos importante que uma esteira rolante ou um terminal de computador.
Diante deste quadro pode parecer que a globalização é perniciosa, assim como foi julgado o processo da industrialização no passado. Indagações pairam no ar: Que será dos pobres? Que destino terão os empregos? Como preservar a cultura típica dos povos?
A resposta, mais uma vez, expressa-se pela simplicidade das Instruções Crísticas: Fazendo o procedimento da globalização banhar-se em Amor, Fraternidade, Solidariedade e, até mesmo, bom senso, já que a falência das massas não conduz ao progresso das elites. O povo, faminto e frustrado pode até não se rebelar (uma hipótese pouco provável, tendo em vista que, como um dia foi dito, “a fome é má conselheira”), mas acabará, cedo ou tarde, tão imprestável como a terra de lavradores imprudentes e gananciosos. Estéril.
A globalização, por conseguinte, não é má em sua função primeira, que é a de facilitar a aproximação dos povos visando multiplicar o progresso, porém, se perscrutarmos os seus mecanismos, constataremos que essa aproximação nivela-se acima da grande massa populacional, como se vivêssemos uma nova e cruel forma de holocausto, vendo o proletariado econômico e cultural (e cultural!) ser varrido para debaixo dos tapetes da supernação globalizada, que alguns preferem chamar de aldeia global.
Como regular, assim compreendendo, as engrenagens da globalização, sem emperrar sua tão importante movimentação?
A resposta é clara: A classe religiosa não pode furtar-se de cooperar no processo, por ser dela a missão de insuflar no organismo social o sentimento de irmandade e solidariedade. O religioso que ausenta-se da participação na administração dos rumos dos povos, brevemente poderá não ter a quem pregar em seu templo.
É fato: Deus espera mais do que palavras e a redenção do homem se dá pelo suor sagrado que dele brota. Não só fé. Não só trabalho. Mas da Fé Realizante.
Nossa posição, portanto, não se coloca em favor de um dispositivo de redução da velocidade dos avanços científicos e sociais, exigindo que aqueles que comigo concordem esquivem-se da rota dos que estão escrevendo a história contemporânea, com seus erros e acertos típicos de quem não está inerte. Isso seria apenas omissão. Não há nada de errado com os avanços tecnológicos, quando é levada em alta consideração a avançadíssima tecnologia do Amor e da Justiça Divina.
Para globalizar contando com a proteção de Deus é preciso se pré-qualificar pela obediência às Suas determinações, tendo em vista que a vitória sedimentada não pode ser obtida pelos atalhos da iniqüidade. Mesmo daquela iniqüidade que, por algum período, traje-se com os vestidos da modernidade. O egoísmo não é moderno, mas também não será eterno. O Amor sempre o foi, é e será, porque é o próprio Deus circulando em essência pelas artérias do universo.