Vivemos dias de crescente borbulhar político no Brasil. Em 2002, mais uma vez, o povo irá às urnas para eleger aqueles que devem representá-lo nas mesas decisórias dos destinos de cada Estado e do próprio País. É a democracia fazendo sua parte na reedição da esperança de que podemos construir uma sociedade melhor, mais justa, não apenas para nós, mas para todos aqueles que conosco convivem, desde a intimidade do lar até a coletividade total dos Seres Humanos.
Os eleitos deste ano estarão no comando das ações políticas, sociais e econômicas desde agora até meio da primeira década do novo século, embutido no novo milênio que já chegou. Não é uma mera análise de calendários, mas uma colocação de significado amplo, envolta em todo o simbolismo da chegada da Terceira Onda, imaginada anteriormente como um tempo de fantásticas revoluções tecnológicas, mas que, como já percebemos, tem a feição mais ou menos bela de acordo com o que pudermos e quisermos fazer para que se desenvolvam harmoniosamente a ciência, a saúde, a educação, a cultura e, como muitas vezes acabamos nos esquecendo, o sentimento de fraternidade.
Um novo tempo é obra de nossas próprias mãos. O poder público tem recursos para construir o que de estruturalmente, fisicamente necessitamos para ter mais conforto, mas nenhuma construtora, por mais moderna que seja, pode revestir o ambiente social de solidariedade. Isso somente o esforço do povo pode erigir.
Independente deste ou daquele partido político, desta ou daquela liderança eleita no pleito do final do ano, alimentar a esperança de um futuro melhor firmado tão somente no êxito da escolha eleitoral popular é plantar frustrações para colher muito em breve. Não porque os virtuais candidatos sejam mais ou menos incapacitados para exercer as concorridas funções, mas porque as dores maiores, que mutilam os sorrisos, nascem, em especial, de nossa falta de cuidado com o que nos une, independente da classe social ou étnica: A nossa essência e origem espiritual; um compromisso compulsoriamente assumido entre todos os que compõem não apenas o País, mas o planeta por inteiro.
Isso manifesta-se, por exemplo, desde a atitude de uma pessoa que destrói, por puro vandalismo, uma árvore que enfeita e dá vida a um parque ou praça, até a atitude de quem, sob o pretexto de levar uma vida “agitada demais”, não repara na dor daqueles que vivem em condições desumanas, abrigando-se nos espaços que ainda restam em meio aos prédios e avenidas.
Há muitos anos alguém afirmou que “não há regime bom enquanto o homem for mau”. Isso leva a outra certeza: Se tudo o que consideramos necessário para a felicidade, materialmente falando, nos for concedido, então, mais facilmente, perceberemos que ainda nos falta algo, sem o qual não podemos amenizar a angústia que afeta o coração. Este “vazio” - perceberemos todos - é o da ausência de Amor, a “mola-mestra” do organismo social e, via de regra, a estratégia segura para a construção de uma vida mais digna. Amor em seu sentido mais amplo e menos egoísta, longe do desejo de tudo ter para si, situado na dimensão do doar de si.
Pode não parecer aos olhos dos mais apressados, mas trata-se da verdadeira função da política, que deve ser praticada para organizar e reestruturar a sociedade, operando reformas, primeiramente, naqueles que a compõem.
Assim compreendendo, podemos concluir que, embora tenhamos a oportunidade de, como eleitores, agir concretamente no especialíssimo processo de desenvolvimento geral do nosso País, conscientemente selecionando aqueles que definirão a destinação dos recursos do erário nacional ou estadual, somente estaremos cumprindo o nosso papel quando vivenciarmos a Cidadania Plena, muito mais ampla e abrangente, globalizando, antes de tudo, o sentimento fraterno.
Por mais que muitos tenham tentado nos convencer do contrário, seres humanos não são e não podem ser vistos apenas como elemento de gráficos, como matéria de estudos geopolíticos, como temas de teses mirabolantes e estéreis, como corpos que, num dado momento, voltarão à terra para alimentá-la. Governa bem, aliás, só governa quem, sem deixar de lado as carências físicas, não perde de vista as necessidades espirituais de seus liderados. Sem o ranço da intolerância religiosa; sob a luz da solidariedade universal. Eis um recado para todos aqueles que receberão nas urnas os votos de confiança do povo brasileiro.