PARANGOLÉ – CRUZ E ESPADA
Roberto Carvalho – Jornalista e escritor
Sobre o escritor Adrião Neto – sua vasta e variada produção literária – o Brasil conhece e o reverencia nacionalmente. Historiador, dicionarista – o autor apresenta “Parangolé” romance, 162 p. editora Nova Aliança, 2011, que há muito vinha sendo trabalhado no livro Eterna Aliança, agora Parangolé. A despeito do que encerra o termo “Parangolé”: relato floreado e cheio de rodeios – a signografia usada na confecção ficcional obedece a oralidade à época da colonização do norte do Piauí. Em 1822, o domínio colonial começa a enfrentar fortes resistências – as comunidades locais nutridas por ideais separatistas discordam do mando colonialista português sobre o Brasil, querem um país autônomo, independente de Portugal.
Sem “lero-lero, lábia ou conversa fiada”, a narrativa histórica bifurca-se em duas, com cortes simultâneos: a epopeia de tribos indígenas e as missões de padres jesuítas em conflitos de fixação no solo do litoral piauiense dos tempos do império. De outra parte, insatisfações, conflitos e revoltas dos habitantes da região contra os representantes das Cortes Portuguesas no Brasil. Como pararromance, Parangolé justapõe-se nesta figuração aberta – em que, Adrião Neto, filtra nos personagens seu ponto de vista imagístico atual. Aí repercute a simetria entre semelhança e realidade de vivas almas que, por fortuito transitam supimpas em nosso meio intelectual.
Os nomes Renato Aleixo, Nelson Marataoan Seixas e Silva e Didier Vignier, seriam mera coincidência de um enredo romanceado em Parangolé? Talvez – qualquer semelhança pode ser especulação – o importante é conhecer os meandros da história desbravadora do Piauí. Sem paixões ou oficialismo reducionista – e, ao invés de parnaibano, ser mesmo “paranibense” como está no livro. Fica mais sonoro às plagas do litoral de Amarração, da ensolarada Luiz Correia. Clarifica a canônica memória histórica que, por esmero da santa ingenuidade de Nelson Marataoan Seixas e Silva – o Seixa e Silva, fica por conta da imaginação – os conflitos separatistas daquele outubro de 1822, seriam resolvidos com um simples duelo de espada.
Como nos tempos medievais – Simplício Dias, e Fidié decidiriam a liberdade do Brasil no fio da espada em campo aberto, com plateia – certamente, aplaudindo o coronel Simplício Dias, parnaibense. De cortes e recortes (capítulos) – horas para os separatistas, outras para os guerreiros nativos – Parangolé contem episódios romanescos alencarinos: depois de reconhecida bravura, o índio Irajara, da tribo Tremembé casa-se com Janaina, dos Camelos. E saíram abraçados para a “Cabana do Amor, que os pretendentes da virgem formosa haviam construído no outro lado da lagoa”, p. 118, Capítulo 25, de Parangolé que tem na aventura um atrativo a mais. A plástica dialógica dos personagens imprime vida à narrativa – linguagem coloquial vigente – em cenas que podem ser revividas no teatro.
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