Diferente do costume criador de alguns artigos que já escrevi, percebi que se fosse explanar algumas idéias sobre a construção de uma educação popular que tem por objetivo o caráter libertador, não deveria deixar de me aproximar do científico, mas também era necessário que pudesse, através da escrita, fazer-me entendido pela simplicidade que as palavras podem ter, por mais complexo que se fizesse seu sentido.
Uma educação libertadora, pressupõe, no conceito mais amplo, perceber, assim como Paulo Freire, que ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. É preciso construir no dia a dia do mundo uma verdadeira possibilidade de perceber o outro nas suas diferenças pois, se falamos em autonomia e vivemos no coletivo, somente poderíamos viver de forma harmônica se nossa liberdade não nos levasse à prisão, seja ela de forma concreta ou no silêncio do não dito.
Na formulação mais ampla que se atribuiu ao sentido político e pedagógico da educação, a dimensão humanista e criadora de novas possibilidades nos deu as experiências do espaço educativo aplicadas à possibilidade de perceber o quanto é perigoso apenas a teorização dessas perspectivas educadoras, que para alguns campos trouxe apenas a linguagem do politicamente correto. O dizer que se acredita em outras possibilidades pedagógicas apenas para esconder preconceitos e conflitos na busca positivista de um mundo sereno.
Dialogo sobre este papel de teoria e prática, pois acreditar em um modelo transformador de educação é construí-lo justamente com a movimentação do conflito, com a possibilidade da diferença quando essa diferença não a transforma em desigualdade, pois se esta possibilidade de diferença trouxer uma deformidade de condições é porque apenas vivenciamos em nossos discursos, o que não possibilitamos ao coração. Passaríamos assim como Raul Seixas na música “Por Quem os Sinos Tocam” a dizer que convencemos as paredes do quarto e dormimos tranquilos, mas sabemos que no fundo do peito não era nada daquilo, era apenas uma forma do tempo passar.
Continuando, conforme Raul Seixas, a explorar a música, “Por Quem os Sinos Tocam” trazemosz a responsabilidade de, antes da aplicação do que chamamos de Projeto Político Pedagógico – PPP lembrando que o mesmo não se serve apenas para a Unidade Escolar, buscarmos um projeto societário que se permeie também pela educação. Devemos constantemente nos perguntar, por quem fazemos, para quem fazemos e com quem fazemos? Para que dialogo nesta perspectiva? e Essa perspectiva tem o compromisso de mudança ou de apenas manter o modelo de produção como está?
Se nosso planejamento e nossa ação servirem para a continuidade, nosso papel será, como Florestan Fernandes ressaltava, aliado daqueles que exploram. Nesse espaço, a educação apenas será o lugar do treinamento e domesticação e não o da educação que desejamos que transmitisse, em seu cotidiano com o mundo, suas possibilidades revolucionárias de pensar o diferente. Sem a possibilidade de construir o novo, apenas nos cabe o estabelecimento da ordem vigente.
Uma educação que se permita ao mundo, deve ser além de humanista, para que ela não perceba apenas a humanidade como transformadora, porque em uma ótica ambiental, nossa construção enquanto humanas e humanos trouxe ao mundo em que vivemos mais degradação do que consolidação do papel educativo, a liberdade. É importante perceber que não simplesmente buscamos educar, mas vivenciamos a educação no dia a dia do mundo, este sim não pode considerar como educador ou educando apenas os seres humanos, mas todos os seres vivos que contribuem em algum momento com a construção da vida.
Essa educação para a vida tem que perceber nas possibilidades do todo a integralidade das relações que se formam que no seu fazer coletivo; desejos de ordem individual ou coletiva se completam e não se priorizam.
Uma nova ordem societária deve ser pensada pelas vias da educação, não se pode ser concretizada se não percebemos a importância de olhar a educação não como possibilidade finalista de atuação, mas como parte de um processo em que percebamos que seres vivos ofertam, de forma individual ou coletiva, a possibilidade de uma construção do todo.
Afinal, dizemos o tempo todo que um mundo melhor precisa de Educação, porém que educação é esta? Para quem ela serve? Com quem ela se constrói? Ela está a serviço de quê?. Não acredito em uma educação que não provoque mudança.
Termino este pequeno pensamento, possibilitando, assim como Buda, uma grande reflexão que nos traz o concreto e abstrato nas nossas possibilidades de observar e possibilitar construções, pois apenas vivemos porque queremos a busca da felicidade, que me impossibilito acreditar que possa ser apenas minha, pois não vivo sozinho no planeta. Esse pensamento retrata a seguinte expressão: Se as pessoas percebessem que a única realidade definitiva é a mudança, elas seriam mais felizes. Para que eles e elas sejam felizes temos que buscar uma educação para além de tudo já proposto, mas que se proponha a se construir na dialética pela vida.