O Brasil é o país do futebol e talvez por isso ninguém percebeu o caos que se instalou no nosso vôlei. A organização (leia-se CBV) continua excelente, o problema é que passamos agora a ser também no vôlei o país do futuro: “O nosso objetivo é a Copa do Mundo”, diz Radamés. E o resultado? Fizemos um papelão na Copa do Mundo, fomos surrados pela Itália, perdemos para os EUA, a Rússia, e pasmem, até para o Canadá. Não garantimos a vaga olímpica e viemos disputá-la no pré-olímpico contra a Argentina, em uma partida sofrida em que São Joel nos salvou.
Bom, agora continuamos com um objetivo: as Olimpíadas. E será que a história vai se repetir? Todos torcemos para que não sejamos humilhados ou escurraçados da nobre competição. A julgar pelas partidas da Liga Mundial 2000, há motivos de sobra para preocupação. Não que o terceiro lugar não tenha sido bom, mas ele esconde os altos e baixos de uma equipe que não demonstrou a garra brasileira de sempre. A derrota humilhante para Itália, por 3x0 em 55 minutos levou o jogador Nalbert às lágrimas. “O que os italianos têm melhor do que a gente?”, indagava o grande atacante brasileiro.
E Nalbert está coberto de razão. Não dá para perder assim. Somos um país de muita tradição no vôlei, campeões olímpicos e da Liga Mundial. Isso para não falar dos inúmeros talentos que sempre produzimos: Renan, William, Bernard, dentre outros. Não nos esqueçamos que as Olímpiadas não são como a Liga Mundial, onde a instabilidade pode ser premiada com um terceiro lugar. Três derrotas seguidas podem significar o fim de um sonho.
O problema da falta de equilíbrio de nossa seleção não é novo. Parece tudo se estagnou depois da conquista da Liga Mundial de 93. De lá pra cá não me recordo de nenhuma competição ganha pelo Brasil onde os grandes do mundo estivessem presentes. Sem sombra de dúvida, aquela volta ufanista dos campeões olímpicos que jogavam na Itália (Carlão, Tande, Giovane, Maurício e Marcelo Negrão) ao Brasil em muito contribuiu para a referida estagnação. Afinal, os melhores do mundo estão no melhor campeonato do mundo: o italiano. Uma chance de intercâmbio foi jogada no lixo naquela época.
Agora temos que correr atrás. Não dá pra ficar ganhando a Argentina de sufoco e levar uma sova dos italianos. Nesse sentido, não deu para entender o porquê de Tande e Giovane não terem sido aproveitados na Liga 2000. Jogadores tarimbados e acima de tudo vitoriosos, eles poderiam agregar ao grupo o segredo íntimo dos grandes campeões. Decisões incompreensíveis do técnico Radamés.
O que se espera é que a redenção de Radamés ocorra nas Olimpíadas, que o voleibol de objetivos, do verbo no futuro, se concretize na mais prestigiada competição na face da Terra. Talentos não faltam, temos aos montes, como gafanhotos na Austrália. Garra e disposição devem ser o lema para afastar de vez “a alma do vira-lata”, como diria Nelson Rodrigues, referindo-se a nossa inferioridade psicológica diante das grandes nações.