Usina de Letras
Usina de Letras
34 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62772 )
Cartas ( 21342)
Contos (13287)
Cordel (10347)
Crônicas (22564)
Discursos (3245)
Ensaios - (10535)
Erótico (13585)
Frases (51151)
Humor (20114)
Infantil (5541)
Infanto Juvenil (4865)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1379)
Poesias (141073)
Redação (3341)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1964)
Textos Religiosos/Sermões (6297)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Nacionalização da Literatura Brasileira -- 27/04/2012 - 18:57 (ALZENIR M. A. RABELO MENDES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
1 -INTRODUÇÃO

Na introdução da obra A formação da Literatura Brasileira, Antônio Cândido diz que quando a atividade dos escritores de um dado período se integra ao sistema simbólico, formado por um conjunto de produtores literários, conscientes de seu papel, um conjunto de receptores e um mecanismo transmissor, ocorre a formação da continuidade literária. Isto é o que verificamos no processo de formação da literatura de cunho nacionalista. Processo que se iniciou com as manifestações literárias do Brasil Colônia, tomou impulso com a literatura Romântica do Brasil Império, reafirmou-se com a literatura Realista da Primeira República e se consolidou com o Movimento Modernista de 1922. O termo que designa um grupo de correntes estéticas de vanguarda, contra o passado conformista, contra a tradição e o alheamento dos intelectuais quanto a realidade do Brasil.

Das correntes estéticas surgidas no Modernismo a que mais merece destaque é a Desvairista, encabeçado por Mário de Andrade, conhecido como “o Papa do Modernismo brasileiro”, cuja corrente (citada) inaugurou o caminho das reformas, não somente estéticas, mas também culturais. Mário empenhou-se pela liberdade formal, pela renovação da poesia e pela criação da língua nacionais.

Ele nasceu em São Paulo (9-10-1813) faleceu também em São Paulo (25-02-1945). Catedrático de História, música, colaborador de jornais e funcionário público. Estreou literariamente com Há uma Gota de Sangue em cada poema (1917). Participou de quase todos os movimentos de vanguarda e influenciou, com sua nova teoria poética, A escrava que não é Isaura, todos os escritores que se filiaram ao movimento modernista.

Sua teorização sobre poesia, que se inicia com uma parábola, propõe o desnudamento “da mulher” (poesia) das paramentas desnecessárias colocadas sobre ela no decorrer dos séculos. Reivindica o verso livre, a insurreição contra a gramática, a vitória do dicionário, a frase curta e elíptica, a superposição de idéias e o máximo de expressividade (herança dos nossos bons Futuristas ). Além de solicitar para a poesia todos os temas e assuntos.

Trabalharemos nesta análise com autores que marcaram a época e que conviveram com os preceitos do representante máximo do modernismo. Em especial o do grupo que abriu caminhos para os demais: o Desvairista. Dentre seus renomados, ciotam-se: Menotti del Picchia (S.P. 1892) com as obras Juca Mulato, escrita em 1917; Cecília Meireles (R.S. 1901 - 1964) Flor de Poemas; Raul Bopp (R.S. 1898), Cobra Norato e Carlos Drumond de Andrade (MG 1902-) Alguma Poesia e Brejo das Almas.

Tentaremos, através da leitura prática e teórica sobre os mesmos, incorporá-los na proposta de nacionalização da literatura brasileira, juntamente com alguns autores que se destacaram nos períodos já mencionados nesta introdução. Além de, pela observação de fundo e forma, apreender as propostas modernistas, que em muito, contribuíram para a consolidação de nossa Literatura de cunho nacionalista.



2. A PROPOSTA DE NACIONALIZAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA.



2.1 - As Manifestações e a Literatura do Império e da República.



O desejo de fazer uma Literatura voltada para os assuntos do Brasil, de criar uma tradição nativa, que rejeitasse os modelos importados, já eram anseios presentes no escritor, o qual desde os tempos do Padre Anchieta, objetiva a evangelização de colonos e nativos. Portanto escreveu poemas e peças teatrais, direcionados a eles, e uma gramática em Tupi. Tal trabalho pode ser considerado pioneiro quanto à proposta de elaboração de obras nacionalizantes.

Ainda no período colonial (Barroco), mesmo sob a censura de Portugal, surge outra voz: Gregório de Mato, “O Boca do Inferno”, que fez poemas em tom satírico, os quais vão desde severas críticas ao sistema político da época, regido pelo clero e pela monarquia, ao povo comum. Mais à frente, no Neoclassicismo ou Arcadismo, surgem as obras Uraguai (Basílio da Gama), Caramuru (F. Santa Rita Durão), poemas épicos em que o tema é o elemento nativo, o índio.

Não podemos esquecer os escritores que, movidos pelo ideal de libertação, participaram da Inconfidência Mineira, Claúdio Manoel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Mas que foi com o advento da Independência e com as propostas inovadoras do Romantismo, no séc. XVIII, que o espírito nacionalista se propagou em obras que exaltam a natureza, o índio e os fatos históricos. Mesmo que ainda impregnadas pela cultura européia, adquirida pelos brasileiros que iam estudar nas universidades do Velho Mundo.

É nesse espírito que Iracema, O Guarani, de Alencar e os poemas, I Juca Pirama e Canção do Exílio (G. Dias), ganham destaque como representantes do esforço de nacionalizar a literatura, incorporando aos seus temas os motivos e os assuntos da terra natal.

Destarte é que nesse aspecto, já prenunciando o Realismo, que surge com a poesia abolicionista, de Castro Alves, em que o negro, pela voz do poeta, reclama tratamento humano digno. E é no período Realista que a poesia social se faz como intelectuais como; Tobias Barreto e Sílvio Romero, que enfatizam os ideais apregoados por Castro Alves.

No Realismo, ou Parnasianismo ,(sec. XIX) a poesia abrange temas universais, mas não despreza os motivos históricos nacionais. Em O Caçador de Esmeraldas, de Olavo Bilac, o canto épico põe em relevo o heroísmo dos bandeirantes em busca de pedras preciosas para o enriquecimento da coroa. Em A morte do Tapir, o poeta retoma o tema de seus antecessores e canta nos moldes clássicos, o elemento nativo. Mas é com a letra do Hino à Bandeira que Bilac evidencia mais claramente o seu espírito nacionalista.



2.2 - Transição e Modernismo



O período que se estende após 1890 até 1922 é pouco passível de definições, considerando-se que houve o entrecruzar das tendências: Parnasianismo e Simbolismo em agonia . E um espírito inconformista, antecipando o “espírito modernista” dos intelectuais que organizaram a Semana de Arte Moderna, que é um marco histórico no que diz respeito a renovação da arte e da literatura brasileira.

Cinco anos antes de 1922 (1917), ainda com características parnasianas e com toque simbolista, Menotti del Picchia escreveu Juca Mulato, poema inovador por fazer do caboclo, fruto da miscigenação entre brancos e negros, o elemento central de uma obra que atende às aspirações do sentimento nacionalista dos Românticos e às propostas reformadoras do movimento de 22, do qual Menotti faz parte.

O poema antecipa a proposta poética de Mário de Andrade em A Escrava que não é Isaura, (1924) que defende a liberdade de Forma, de assuntos e temas na poesia modernista. O que Menotti fez com mestria, ao falar do caboclo e sua relação com a terra numa forma que, se não totalmente livre das fórmulas anteriores, mas, pelo menos, mais frouxa, com versos heterométricos e soltos entre as estrofes: “Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o” (parte 1). O espaço bem definido, sugere uma pausa, como se fosse o período de sono de Juca. “Juca Mulato cisma” (parte 3). Outra vez o poeta se utiliza dos espaços entre as estrofes como se fosse um momento de meditação do caboclo.

Juca Mulato assinala a retomada da temática nacionalista que encontrou escoras no movimento de 22 com o surgimento dos grupos, revistas e manifestos que reinvindicavam o “ abrasileiramento do Brasil” e de sua arte.

Dos vários grupos surgidos a partir de 22 destacamos o Nacionalista de Menotti, o Desvairista de M. Andrade, O Espiritualista, de Cecília Meireles, O primitivista de Raul Bopp — e o da Revista de Carlos Drumond de Andrade em Minas Gerais. Todos empenhados em renovar, não só a literatura, como toda a cultura, objetivando torná-la autenticamente brasileira, com exceção do grupo Espiritualista que tinha como preceitos o pensamento filosófico, a tradição e universalidade.

Nesta perspectiva se encaixam as primeiras obras de Cecília Meireles que têm como temática a brevidade da vida, a incompreensão humana, a falta de fé e misticismo. Num léxico que levou a crítica a considerá-la uma escritora mais ibérica do que brasileira.

Somente em 1953, com o Romanceiro da Inconfidência, em que canta o apogeu de minas, a Mineração, a conjuração e a paixão dos inconfidentes, Cecília foi reconhecida como uma escritora ligada aos assuntos do Brasil. E mesmo não tendo se filiado aos grupos de ruptura de 22 ela soube fazer uso da liberdade formal, do metro curto e do fazer poético consciente “Sou Poeta”. (1ª estrofe. Motivo). Por esses aspectos, Cecília já se enquadrava entre os escritores modernistas mesmo antes do reconhecimento da crítica. Além disso, a proposta da corrente Espiritualista, no dizer de Darcy Damasceno , considera a realidade brasileira integrada à realidade universal.

Em Flôr de Poemas verificamos que ela soube trabalhar, num estilo próprio, temas que envolvem os seres de todas as épocas e espaços. O Ser de Canção Excêntrica que “ [ anda] à procura de espaço / para o desenho da vida” ( verso 1 e 2) é o que podemos encontrar no nosso tempo ou em gerações passadas, no Brasil e em qualquer outra parte do mundo. Já Cenário é o percorrer da poetisa pelos cenários do país , rememorando a mineração e os mártires nacionais. “ Passei por essas plácidas colinas / ... cujo ouro já foi descoberto./... assim viveram chefes e cativos” ( v. 1 ,15, 54).

Para o grupo Primitivista a renovação consistia em buscar inspiração nos motivos primitivos da terra, nas raízes brasileiras e no elemento autóctone. Raul Bopp, compôs uma rapsódia amazônica em Cobra Norato, resgatando os mitos e lendas da floresta, adequando o vocabulário à fala do caboclo.

O poema é composto de trinta e três cantos, com coros e diálogos o entre poeta, metamorfoseado em cobra, e os seres encantados da floresta. E enquanto o Cobra Norato busca a “filha da rainha Luzia” o leitor vai entrando em contato com as “mirongas na lua nova” (canto II e V. 20); com a floresta...mal-assombrado” (canto VI-V.6) e sua “geografia em construção” (canto XIII-V.13), “com o causo do boto” (cantoXXIV-V.19) “Matin-ta-pereira” (canto XXIX), com os costumes, a comida e o vocabulário típico da Região Norte.

Com o grupo da Revista (M.G-1924) que preconizava a nacionalização do espírito e a presença de assunto cotidiano nos temas vemos a rafirmação da proposta da Antropofagia de Oswald de Andrade. No segundo número Carlos Drumond dizia: “temos de recompor a nossa faculdade de assimilação para transformar em substância própria o que nos vem de fora”.



Em Alguma Poesia (1930), Drumond coloca em prática sua proposta e diz” que o nacionalismo é uma virtude” (também já fui Brasileiro - V.5) e que “[ seus ] olhos brasileiros se enjoam da Europa” (Europa, França e Bahia. V.19). E em Explicação, além de discorrer sobre o seu versejar, ele traz para o poema “a cachaça, a taioba e a sombra das bananeiras do seu país”. (V.2, 4 e 12). Fala dos rios S. Francisco e Paraíba (v.21) diz que “de todas as burrices a pior é suspirar pela Europa”... aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só... mete a língua no governo...e no fim dá certo. (v.35 - 38). Discorrendo naturalmente sobre assuntos variados: poesia, sentimento, a terra natal e suas peculiaridades.

Tendo passado a fase iconoclasta, em que também houve fundamentação teórica com a Escrava que não é Isaura (M. Andrade), Drumond adere às propostas da 2ª fase, a de “descobrimento do país”, de nacionalização. Em Brejo das Almas (1934) ele apela no poema Hino Nacional: “precisamos descobrir o Brasil/...precisamos colonizar o Brasil/ ... precisamos louvar o Brasil”. (v.1,l2 e 20).

Nestes poemas percebemos que, para ele, o Brasil não foi colonizado e sim invadido por outras culturas, descaracterizado e violentado. Sendo necessário, para restaurá-lo, redescobrí-lo para não ter que se sujeitar a não ser brasileiro: Este não é o Brasil/ ... E acaso existirão brasileiros? “(v.35, 36).

O gosto pelo folclore também se faz presente nessa fase. Em Canção Para Ninar Mulher, percebemos a junção dos motivos de várias canções de ninar numa nova forma, misturando tercetos, quartetos, quintetos e dísticos ao invés de quadras: “ olha o bicho preto” (o boi da cara-preta); “ olha a lua nascendo”, ( as advinhações nas noites de lua cheia); “dorme que o gatuno” (cantiga de ninar) e outras cantadas e contadas pelos mais velhos ou pelas crianças nas brincadeiras de roda. Numa linguagem e sintaxe livre das imposições da gramática, começando o verso com pronome átono “ te dou ...” (v.11) ou “ quedê” expressão interrogativa ainda não gramaticalizada na época.

A poesia de Drumond, de modo geral, enfoca os assuntos do homem moderno, os conflitos gerados pelo progresso, a angústia espiritual do ser da época do materialismo, sem se desprender do ambiente familiar dos fatos políticos históricos do brasil.



3 - CONCLUSÃO



A leitura prática e teórica sobre os autores em estudo nesta análise, possibilitou-nos o reconhecimento do valor de cada autor e suas respectivas obras no que diz respeito à proposta de elaboração de obras vinculadas ao Brasil, sua gente, história e lendas.

Percebemos que “abrasileirar o Brasil”, torná-lo autêntico e vivo nas produções literárias, nunca foi tarefa fácil. Resultando para alguns em exílio, e até em suicídio, como ocorreu a Cláudio Manuel da Costa, que ao ser identificado entre os escritores que participaram da Inconfidência, foi preso e acabou suicidando-se.

Mas os ideais atravessam gerações e a atividade de alguns escritores, que permite a continuidade literária, como diz Antônio Cândido, é uma espécie de tocha que assegura no tempo o movimento , e faz dos anseios realidade.

Essa realidade, a nacionalização da literatura brasileira se caracterizou, não sem escândalo, mas com vigor. Com a ousadia de Menotti del Picchia e seu Juca Mulato, apaixonado pela filha da patroa; com a determinação de Mário de Andrade e sua proposta poética A Escrava que não é Izaura.

Merece aplausos também a criatividade e firmeza de Cécilia Meireles que não abriu mão de sua originialidade em função da crítica. Continuou mesclando sua obra com temas universais e particulares. Canção do Caminho e Cenário mostram com clareza a presença das duas tendências em Cecília.

O descedente de alemães, Raul Bopp, atravessa o país e enfia-se na pele da Cobra Norato em plena selva amazônica (1928). Conhece a fauna, a flora, os costumes , os mitos a linguagem de um mundo quase desconhecido da civilização.

Finalmente Drumond, com sua poesia do cotidiano, antilírica pelo conteúdo, mas enquadrando-se no gênero lírico pela forma. Às vêzes quase épica, como em Europa, França e Bahia (A.P) e Eterna Mágica - II Sabará, no qual fala de fatos históricos, dos bandeirantes e de Aleijadinho. Em Brejo das Almas no Hino Nacional é mais eloqüente e mais próximo da poesia épica. E como Cecília, trabalha o particular e o universal. Representando a última tendência temos, a título de exemplo Coisa Miserável, em que o poeta fala do conflito do homem moderno sem Deus (B.A).



4 - BIBLIOGRAFIA



1 - ANDRADE, C. D. de. Reunião. 6 ed. R. S. José Olímpio, 1974.

2 - BOSI, Alfredo. A Poesia. In: História Concisa da LiteraturaBrasileira. S.P. Cultrix. 1995.

3 - ANDRADE, Mário de. Obra Imatura. 3. ed. SP, Martins/BH Itatiaia, 1980.

4 - BOPP, Raul. Cobra Norato e outros poemas. 13 ed. RS Civilização Brasileira, 1984.

5 - CÂNDIDO, Antônio, A Formação da Literatura Brasileira. 5 ed. B.H. Itatiaia, 1975.

6 - COUTINHO, Afrânio. O Modernismo na poesia. In: A Literatura no Brasil. 2 ed. RS, Sul América, 1970 - V.5

7 - MEIRELES, Cecília. Flor de Poemas. 2. ed. SP, Bib. Nacional - 1972.

8 - MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira Através dos Textos. SP. Cultrix, 1971.

9 - PICCHIA, Menotti del. Juca Mulato. 37 ed. SP - Martins. 1972.

10- TELES, Gilberto. Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro. 6. ed. RJ, Vozes, 1982.



5 - NOTAS



1. Bosi, A. (l995) p.341

2. Coutinho, A. (l970) p. 4

3. Meireles, C. (l972) p. 9

4. Cândido, A. (l975) p. 24

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui