A palestra é um gênero oral formal público cuja finalidade é transmitir algum conceito/ informação inerente a um conhecimento específico; todavia, o palestrante deve possuir certas habilidades para conquistar o público que, às vezes, a depender do tema do objeto, poderá se dispersar, tendo frustradas suas expectativas.
Há que se ressaltar que a palestra não segue um esquema rígido, inflexível, em que estejam presentes apenas as “pérolas vernaculares” consoantes ao tema abordado; pelo contrário, o palestrante poderá se valer de vários artifícios para dizer a que veio: usar as linguagens informal e gestual, as metáforas populares – importantes, por facilitar a compreensão do ouvinte, assim como entoar a voz, emiti-la em som mais baixo ou mesmo mais alto, pausá-la algumas vezes, acelerá-la quando necessário, tudo para que o leitor, a partir de uma ilustração previamente construída, compreenda o objeto abordado.
O exposto até o momento encontra “corpo” nas palavras de Schneuwly e Dolz, que certa vez disseram: “A ação de falar realiza-se com a ajuda de um gênero, que é um instrumento para agir linguisticamente. É um instrumento semiótico, constituído por signos organizados de maneira regular…”. E de acordo com este raciocínio, a palestra é um gênero multissemiótico, ao possibilitar que o orador usufrua de todos os instrumentos necessários da língua para se atingir o público-alvo. Não raro, é comum se encontrar palestrante que conte uma piada e a relacione com algum fato do cotidiano do ouvinte.
Este truque linguístico é como um chamamento, porque se a plateia responder positivamente ao primeiro estímulo - e ela sempre responde, porque a piada, como parte do gênero satírico, exerce sobre o outro uma espécie de fascínio-, estará apta a receber uma dose de conceitos enquanto aguarda outra intervenção cômica. Daí a explicação por seu uso tão recorrente.
Ainda, para manter um público sobre “hipnose”, o palestrador tem de saber lidar com o vernáculo, apropriá-lo à plateia, para que as palavras ganhem o efeito esperado e ele possa ser compreendido, afinal, os públicos mudam, então as palestras também devem mudar, só dessa forma encontrarão alguma razão de ser no imaginário daquele que ouve. Numa escola, por exemplo, um orador jamais poderá usar o vocabulário técnico, aliás, até poderá, desde que amparado e entremeado numa enorme estrutura linguística do cotidiano.
A forma como a palestra será apresentada também poderá sofrer variações, assim, o orador poderá usar o discurso direto, alterando e alternando vozes, numa sequência dialogal que se aproxima de outro gênero, o teatro. Entretanto, diferentemente do teatro - quando toda a peça segue um rito ensaiado, com diálogos demarcados por um autor externo, que se vale dos atores para fazê-los saltar da tela do monitor para o palco -, o palestrante, percebendo a apatia do público, poderá sacar - se da genial “fórmula do improviso”, e transformar qualquer fracasso num estrondoso sucesso. Isso não quer dizer que ele descumprirá a agenda proposta, pelo contrário, estará apenas adaptando-se ao contexto, isto é, dando-lhe um verniz característico e facilmente reconhecível pelo público a que se prestou a explanar.
Neste momento, há de se concordar que a palestra, como um dos gêneros da oralidade, é um instrumento semiótico, complexo e compreende diferentes níveis, ao ponto de, a certa altura, ser considerada um "megainstrumento" da verbalização.
O mais importante de tudo é que todo este aparato disponibilizado pela língua tem uma única finalidade: construir um caminho fértil entre orador e ouvinte, por onde uma ideia transmitida criará raízes elementares, seja ao estudo, à informação ou mesmo à troca de experiências.