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Artigos-->VIDA E MORTE CABRALINA -- 30/12/1999 - 18:15 (Murilo Moreira Veras) |
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VIDA E MORTE CABRALINA
– Homenagem a João Cabral de Melo Neto
– O seu nome é Cabral, não Pedro,
o luso descobridor do Brasil,
mas João, o poeta daqui mesmo
das brenhas pernambucanas.
Não tem nada de Severino, este nosso João,
mas descreveu como ninguém
a vida do severino
que severinamente neste mundo
nasceu e morreu:
pobre, faminto e retirante
das terras secas do sertão de meu Deus.
Cedo correu terras, fez nome importante
de cônsul a embaixador,
embora o ofício que mais gostasse
fosse mesmo versejador.
Ganhou medalhas e honrarias,
pelos serviços que prestou,
mas foi na feitura do verso
que enfim se consagrou,
aqui e em Sevilha, a cidade que sua poesia
versou,
também o rio Capibaribe e o Recife
sua arte
decantou
e outros lampejos,
o relógio, rede-caixão, avebala, faca,
cassaco de engenho e gaiamum,
no seu museu guardou.
Seu verso é duro e seco como a pedra
cujo sono escreveu,
a alma do poeta verteu-se em cana
caiana, coberta de lama
e suor,
como a vida do povo sofrida,
um cão sem pluma
acompanhando a vazão
deste imenso rio corrente
que se chama razão.
Agora passados os anos,
nosso João decidiu se encantar
é que a morte morrida,
vestida de passarinho,
dele veio se vingar
e tirar-lhe a vida
de um golpe
pra não sentir a morte
com vontade
de o levar.
E assim a sina
(que verdade seja dita
nunca lhe foi severina)
na hora de cumprir a sorte
deu-lhe o troco, a malvada
– uma morte bem sovina
na medida mesmo cabralina.
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