Usina de Letras
Usina de Letras
27 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63224 )
Cartas ( 21349)
Contos (13301)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3248)
Ensaios - (10676)
Erótico (13592)
Frases (51739)
Humor (20177)
Infantil (5602)
Infanto Juvenil (4944)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141306)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6355)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O POEMA QUE MORREU -- 08/03/2002 - 12:59 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O POEMA QUE MORREU

(Ricardo França)



Um assassinato.

Tudo indicava assim.

E o coitado do poema, estirado,

era coceira na curiosidade pública.



Chegou o delegado

- e cismado -

foi tecendo em pensamento

as inconstantes formas da dúvida.



Uma interrogação passeava ali.

Crescia e engordava

- proporcional -

a cada pessoa que parava

na pele da já recém formada

multidão.



Não demorou muito e apareceu o legista.

Ele era meio esquisito,

tinha tique nervoso

e coceira na vista.

Examinou o já lido poema

e constatou o consumado fato:

- Morrera de amor, não de infarto.

Suicídio ? Assassinato ?

Quem faria o fatídico ato ?

- Quem ??? perguntava o delegado.



E com um ar sherloquiano

pegou o morto nas mãos.



Sob os olhos atentos da multidão

exclamou a primeira descoberta:

- Não era amador o assassino, era poeta !

“Poeta ?” Indagou a multidão incrédula.

- Poeta! Confirmou alisando o imeeeenso bigode.

Chegaram então os repórteres,

a lavadeira,

o bêbado ainda de porre,

a dona Julieta, o doutor Onofre,

e todos, do sul ao norte,

mastigavam a mesma pergunta:

“Um poeta, mas como é que pode ?”

- Simples! - Explicou o delegado...

A tristeza, num homem apaixonado,

dói além do sustentável.

No peito, abre um buraco.

Tanto insiste

que não resta escapatória,

com o dedo em riste,

atrás da porta,

persiste o crime.

A arma utilizada

não foi revólver,

não foi faca.

Foi um sentimento amargurado

delineado no papel

por uma caneta esferográfica.

Já a paixão - continua -,

foi a vítima,

de vez esquecida,

varrida,

morta.



Não é caso de polícia.

por aí morre um amor por dia,

é uma palavra prolixa, doída.

Dor nenhuma deve virar notícia,

fez bem o poeta em matar essa paixão.



E terminou largando o poema no chão.

Seguiu em frente, sumiu na multidão

que por sua vez se desfez

com a mesma rapidez

que se formou.



Mas do vazio que ficou - dilacerado,

permaneceu solitário

um adolescente

com os olhos molhados

e uma caneta na mão.

Em passos lentos, assimilados,

aproximou-se do poema

no chão largado

e guardou no bolso

a história do amor

que minutos antes havia escrito,

e por qualquer descuido

perdido...











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui