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Artigos-->A FÓRMULA DO PALANQUE FÁCIL -- 07/12/2012 - 10:20 (JOSÉ RICARDO ZANI ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



 





Protestos coletivos e manifestações de rua são uma onda que avança pelo mundo, principalmente na Europa, nas Américas e até no Oriente Médio. A informação cada vez mais acessível, a globalização de crenças e valores e a internet como meio de compartilhar problemas e ideias, tudo contribui para rápidas mudanças no cenário político e social de muitos países. Em geral, são protestos e expressões de uma consciência social que se vai apurando e a vibração de uma voz coletiva cada vez mais potente.



No Brasil, algumas mobilizações entraram para a história, como a campanha Diretas Já, nos anos 80, os caras-pintadas pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992, e a campanha pela lei da Ficha Limpa, em anos mais recentes. Outras aconteceram aqui e ali, auxiliadas pelas facilidades de articulação nas redes sociais, mas muitas vezes dispersas ou sem objetivos claros.



Contudo, surgiu uma forma de manifestação que se vem propagando com características peculiares. São episódios diferentes quanto às reivindicações, mas semelhantes nos meios adotados: o bloqueio de avenidas e rodovias.



Esses movimentos se multiplicaram por muitas regiões nos últimos anos. Saíram de cena quando se aproximaram as eleições municipais de 2012 e retornaram assim que passou o segundo turno.



A fórmula é fácil e rápida: obstáculos e pneus em chamas são colocados sobre a pista, em pontos e horários estratégicos. O congestionamento cresce, o calor aumenta, o sangue esquenta... Sobe a fumaça e objetos podem voar. É previsível que, nos momentos seguintes, repórteres cheguem ao local. Então, nessa altura, estará instalada a expectativa de que um negociador autorizado se apresentará.



NEM TUDO É O QUE PARECE



Haja ou não negociador, seja justa ou não a reivindicação, essa forma de protesto sempre pisoteia propositalmente em um campo sagrado nos fundamentos das liberdades individuais: o direito de ir e vir. Logo, por se tratar de um direito fundamental, resguardado em cláusula pétrea, não há o que discutir. Nenhum argumento justifica sua violação. Também não há como aceitar a ideia de que o poder público deva curvar-se habitualmente a interlocutores que se impõem com a prática dessa barbárie.



Afinal, como pode exigir tratamento justo o movimento que faz refém o primeiro incauto que lhe aparece pela frente? Como tolerar a desumana arbitrariedade de quem aprisiona crianças, idosos, gestantes e enfermos no interior de veículos? Se falta aos manifestantes empenho ou coragem para levar a revolta diretamente ao seu alvo ou para marchar onde se encastelam os que supostamente os desprezaram, isso não é motivo para direcionar sua fúria contra pessoas indefesas, que só desejam ter acesso ao trabalho, à escola, à residência ou ao hospital. Que mérito existe nas lideranças que, em vez de encararem as verdadeiras barreiras que julgam oprimi-las, encenam atos de valentia para deter famílias e trabalhadores pacatos?



Essa forma de pressão tem-se mostrado um palanque tão fácil, gratuito e impune, que passou a ocorrer até por causas desprovidas de dimensão política ou social, como foi o bloqueio de uma BR, motivado pelo descontentamento de moradores com uma poça de água na periferia do Distrito Federal.



COM A PALAVRA, AS AUTORIDADES



Do lado das autoridades, é compreensível que, a princípio, procurem identificar nos protestos o livre direito de expressão e democráticas manifestação em defesa de causas justas, porque liberdade, justiça e capacidade de mobilização social são pilares de sociedades desenvolvidas e politizadas.



Contudo, quando se pautam apenas pela preocupação com sua imagem certinha, na ilusão de que assim preservam a pose politicamente correta, podem errar de forma grosseira, especialmente se subestimarem a gravidade das agressões ao cidadão e a violação de seus direitos. Errarão outra vez se derem as costas ao compromisso com a ordem e com o estado de direito para cortejar redutos de truculência, incorrendo na inépcia de quem não consegue distinguir entre um movimento social legítimo e uma irresponsável demonstração de força bruta. Nesse caso, já não se darão conta de que uma das competências essenciais de qualquer esfera de governo é lidar distintamente com cada uma das situações.



Aos que se apegam à crença de que não há revolução sem transgressão, uma aula de reforço ensinaria que nem toda desordem é revolução e nem todo movimento é justo, sobretudo quando existe o propósito de ganhar estatura fazendo de inocentes os degraus de uma tribuna ou quando os oponentes fazem do ringue o calvário daqueles que nada têm com a luta.



PAPEL DA IMPRENSA



A análise conduz, inevitavelmente, a outra linha de reflexão. Ocorre que, nessa onda de manifestações, às vezes a mídia tem um papel mais decisivo do que o dos políticos. Em certos casos, a ação da imprensa pode cair como luva nas prováveis pretensões desses movimentos, sobretudo se repercutir os protestos independentemente da legitimidade da exigência e da legalidade dos meios empregados.



É claro que não se discute o trabalho essencial de informar nem a necessária imparcialidade diante de conflitos comuns. Discutem-se os efeitos das diferentes abordagens: da notícia que informa sobre o bloqueio de uma rodovia e daquela que adiciona o grito ou a cara de um movimento explicitamente manipulador e ofensivo.



Por tudo isso, é natural que se espere dos meios profissionais uma visão sensata da relação entre as coberturas e seu provável efeito multiplicador, à medida que possam servir de incentivo a atos do gênero.



É verdade que não cabe à imprensa nem ao repórter julgar as razões do protesto ou a legitimidade dos meios, para só depois decidir se faz a cobertura. Mas em episódios que se tornam frequentes, basta um pouco de experiência e discernimento para reconhecer um padrão que se repete. É como confronto entre torcidas de futebol. Nas primeiras vezes em que aconteceu, certamente algum repórter correu lá para ouvir as partes envolvidas. Hoje, é pouco provável que o faça.



De modo geral, a imprensa tem mostrado senso de responsabilidade em situações delicadas e maturidade para reconhecê-las. Assim é, por exemplo, com a divulgação de matérias que possam exacerbar a dor das vítimas ou de suas famílias. Nos casos de suicídios, os grandes veículos costumam se posicionar com especial sensatez.



A divulgação de certos fatos negativos também pode ter efeito multiplicador, seja por mecanismos de indução comportamental ou pelo simples impacto da notoriedade. Situações típicas de apresentações artísticas e de eventos esportivos fornecem exemplos desses desdobramentos. A exibição de imagens do fã que mancha o espetáculo ao se lançar no palco ou do torcedor que invade o gramado durante o jogo frequentemente assume maior relevância como incentivo do que como ilustração ou notícia.



Felizmente, grande parte da imprensa brasileira parece bem consciente diante dessas questões. Por isso, até mesmo em relação ao bloqueio de avenidas e rodovias, pode-se afirmar que eventuais casos em que a mídia tenha atuado inadvertidamente fazem parte das exceções.



Mas como o problema está aí, vivo e atual, sua rediscussão se torna uma alternativa oportuna para amadurecer visões e posturas, por meio das quais seja possível distinguir protestos legítimos de movimentações duvidosas, ilegais e desvirtuadas.



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