As crises em andamento em relação à Educação (em vários momentos pipocam greves de professores prejudicando a sociedade), que deveria estar sendo resolvida nas mesas das escolas, foi parar na Justiça, com a nítida impressão de que foi programada para causar um caos sem precedentes entre os jovens já sem grandes esperanças mesmo quando portadores de seus diplomas. Na verdade, esta crise vem de longe em dois sentidos: tanto no nível como no tempo.
Milhares de escolas básicas públicas (que deveriam ser exibidas na tv no horário nobre) estão literalmente caindo aos pedaços. Goteiras, janelas empenadas, vidros quebrados, instalações sanitárias entupidas (risco de doenças), fios prontos para um curto, tacos soltos, quadros pendurados com parafusos de menos e outras dezenas de componentes que trazem um alto risco potencial de acidentes graves para seus usuários. Outros agravantes para torna-las inviáveis: filas desumanas nas matrículas organizadas nas madrugadas frias, indicação de escolas longe das residências dos alunos, merenda de baixo nível (a verba é desviada antes de chegar às escolas), falta de livros nas bibliotecas, quadros negros (verdes ou brancos) sem manutenção (o giz ou o pincel não deslizam sobre a superfície estragada), falta de carteiras (dois ou três alunos em cada), corte nas verbas de cursos de aperfeiçoamento dos professores e claro, o congelamento de um salário imoral para quem tem o prazer (isto é o que ainda as mantém em funcionamento) de ensinar.
Mas estas mazelas não são exclusividade do nível básico. Visite as instalações do Pedro II, da UFRJ ou da UERJ (estive lá há quatro meses). O quadro de abandono é similar. E para garantir que o funcionamento seja inadequado mesmo que haja um sacrifício elevado de mestres e alunos, reitores impopulares são colocados no comando (lembra do Vilhena?) para garantir que o ambiente de entusiasmo não evolua.
Pensam que isto é o pior? Pois saibam que entidades de alto gabarito (IME, Agulhas Negras e outras) em passado recente, que também sofrem sabotagem para provocar a queda de qualidade de seus serviços, estão reduzindo a pressão sobre as matérias para que consigam formar turmas com mais de 10 alunos, para encobrir a falência total do sistema. Por isto já não temos patriotas como os valorosos lutadores de 50 anos atrás. No lugar do hino que poucos ouvem nas escolas, estão aprendendo as letras que revelam que realmente estamos "dominados".
Não fica difícil imaginar como anda a cultura em nossa pátria. Teatros abandonados, cinema falido, bibliotecas sendo devoradas por traças. Alguns heróicos sites tentam criar um canal de sobrevivência das letras, tendo em vista que não há incentivo de leitura de livros (armas perigosas que podem abrir mentes e formar opiniões contrárias ao regime que nos conduz). Todos este veículos sobrevivem com água no queixo. Qualquer marola mais forte os afoga. Não há nenhuma linha de crédito que os beneficie. Quem se arrisca a patrocinar uma destas entidades chega a receber "gelo" dos demais integrantes da máfia do poder.
E para culminar, mantém latente o estado de pânico, desespero e desestímulo entre os componentes que sustentam a estrutura da disseminação do saber entre os alunos. Os salários congelados e ridículos traduzem o menosprezo que os dirigentes possuem pelo povo (mas não esquecem de legislar em causa própria, propondo 13o. salário até para quem foi cassado por manipular o painel eletrônico do Senado). Com dois meses de antecedência (antes do início do ano letivo) não sentam para negociar com os professores e criam as condições para que as greves aconteçam no meio do processo já combalido.
Tal procedimento se faz necessário para que o processo de manter o povo na obscuridade continue em andamento. As elites do poder não desejam correr o risco de um despertar cívico em massa, que causará a descoberta por parte da população, do quanto foi espoliada por dezenas de anos. Se ainda tivesse sido pelo bem do país, vá lá. Mas para sustentar mordomias de ratazanas que não sabem sequer lavar um copo, é doloroso.
Só nos resta abaixar a cabeça e permanecer colônia à espera de um messias de alguma história da carochinha?
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – outubro de 2001