Ao fazermos uma breve análise da obra O Ensino da Literatura percebe-se a preocupação de Coutinho em demonstrar, inclusive historicamente, as dificuldades da produção literária no Brasil.
Segundo Coutinho, essa dificuldade reside no fato de não haver uma relação salutar entre a produção literária e o Ensino da Literatura. Destaca que em muitas universidades, se valoriza a vida do autor e suas relações sociais e pessoais em detrimento de sua produção o que acabada produzindo um estudo mórbido, sem vida, descontextualizado da estética (beleza) que reside em toda obra de arte.
Evidencia o autor que a produção literária sendo antes de tudo uma criação espontânea, é “produto” da cultura brasileira permeada de seu valores, e sua dificuldades de crescimento e da maior idade, reside justamente no fato de inexistir no Brasil uma política de valorização permanente da produção literária. O autor também nos revela que o empobrecimento de nossas análises tem alicerce na dualidade nos aspectos históricos e filosóficos, deixando de lado o estético que dá brilho, ritmo, harmonia e beleza a obra de arte, ainda que esta verse sobre uma tragédia ou um conto romântico. Revela – nos que esta postura provocou o estudo da literatura como o estudo da história dessa produção relegando a segundo plano a magia contida nas obras. Em contra ponto, o estudo filosófico restringiu a produção literária a mera figura de análise da linguagem empobrecendo desta forma a essência da criação da obra : a leitura de mundo, os valores do autor, a sensibilidade do leitor, o próprio emprego estético das figuras de linguagens que ajudam a formar as imagens que contam a história de um dada produção. Ainda segundo o autor para se compreender verdadeiramente uma obra literária não se deve analisa-la de um único ângulo ou aspecto, A obra literária como uma pintura ou uma fotografia, está permeada de historicidade, de verdades , de posturas sociais (filosóficos) , descreve o modo de vida do contexto social no qual foi concebida, portanto, segundo o autor, não se pode diminui a grandeza de uma obra a uma análise resumida, da mesma forma que não se pode tolhir a criação , mesmo dos escritores que não possuem conhecimentos acadêmicos, haja vista a riqueza cultural desta obras. Todavia, acrescentando, o autor adverte que a literatura brasileira precisa crescer e isso , segundo ele, é possível quando se estuda nas academias a visão de totalidade presente em cada obra, despertando a paixão nos leitores, incentivando o surgimento de escritores cultos que além de possuírem, quando da criação, a espontaneidade , terão a seu dispor toda a riqueza e beleza presente no formalismo da linguagem , o que dará um novo tom ao ritmo da produção literária e a enriquecerá de detalhes. Conclui o autor relevando que todos esses cuidados objetivam tornar a literatura e sua produção um instrumento de reflexão e melhoria da pessoa humana, principalmente o aluno que sai do ensino médio e vai para a academia, incentivar nele o gosto e o prazer da leitura. Entretanto, embora se pregue a liberdade na produção para que esta alcance o seu verdadeiro apogeu, o ápice, torna-se necessário o espírito critico do escritor no trato da produção, vendo – a como um ato científico que requer estudo, dedicação, conhecimento da língua e da cultura brasileira. Da mesma forma que não se pode nas academias e nas escolas de ensino médio promover o ensino de literatura abordando apenas os fatores históricos e filosóficos.