Até a década de 60 ainda era possível encontrar diversas casas em qualquer quarteirão de uma cidade de grande porte do Sudeste. Possuíam jardins e quintais onde era possível criarmos gatos, cães e assemelhados numa grande harmonia entre os humanos residentes no interior das residências e os animais habitantes no seu entorno.
Mas a explosão demográfica, a redução das famílias, o perigo em atender falsos prestadores de serviços e a queda do poder aquisitivo da população nos conduziram para a proliferação de espigões de concreto, aglomerando pessoas sem chances de melhor qualidade de moradia. E com isto, além de sermos forçados a dispensar objetos maiores (bicicletas, armários largos, sofás de 4 lugares), também tivemos de abrir mão da companhia de nossos estimados companheiros de farra. Os trocamos por pássaros engaiolados, peixes decorativos e ratinhos brancos.
E nossos estimados amigos passaram a viver nos poucos terrenos baldios, praias, sob viadutos e fundos de supermercados. Algumas pessoas ainda criam alguns dentro dos apartamentos. Apesar de gostarmos muito destes animais, temos de reconhecer que é uma situação incômoda para o animal, para o dono e para os vizinhos. Os filhos do dono correm o risco de pegar doenças respiratórias pela proximidade contínua. Assim como o perigo de serem arranhados por pisarem no bicho que esteja debaixo da cadeira. E num ambiente fechado, o cheiro acumulado após semanas de convivência torna-se desagradável.
O Estado não se preparou para tal situação. Não sabe nem administrar presídios, hospitais e escolas com humanos no seu interior. Imaginem uma área reservada para animais. São raras as entidades particulares que dão abrigo a estes animais. O custo é alto e está difícil receber contribuições espontâneas de simpatizantes, que mal possuem condições de arranjar comida para sua família. Desta forma, torna-se difícil propor que cada comunidade tente criar e manter tal espaço para reunir nossos amigos. Grandes empresas também não irão demonstrar interesse e custear tal projeto, pois o mesmo não apresenta nenhum lucro visível imediato. Algumas pessoas mais generosas e com algum tempo disponível, ainda conseguem preparar algumas refeições diárias e regularmente alimentam cães e gatos que habitam algumas poucas casas abandonadas e despedaçadas em seu bairro. Assim sendo, a tendência é rarear a aparição de cães e gatos nas grandes cidades. Nossos netos e gerações seguintes só terão chance de conhece-los através de fotos e filmes. Ou quando tiverem oportunidade de efetuar uma viagem para o interior, onde nossos estimados bichanos ainda poderão sobreviver em relativa paz por mais uns 50 anos. Até que os espigões de cimento invadam o local.