No final de 2001, acidentalmente participei de uma simulação de incêndio num dos prédios da Petrobras. Apesar da estrutura anunciada e da dedicação dos monitores, percebemos algumas falhas que comprometem o processo. Falhas estas provavelmente decorrentes de um treinamento que não é o desejado, fruto de uma contenção de despesas inaceitável quando se trata de vidas humanas. Como a política atual é de reduzir custos nas empresas, a segurança é um dos itens iniciais a serem menosprezados. Os intervalos de treinamento aumentam, o número de participantes é menor (com a saída de outros funcionários, os que sobram precisam dar conta de mais atividades) e a manutenção dos equipamentos é feita sem muita exigência por firmas terceirizadas e em épocas bem distantes. Os instrutores passam a ser elementos também terceirizados que não sabem nem onde fica a válvula de descarga dos banheiros do prédio.
Na verdade, a salvação de cada pessoa, vai depender em grande escala de seu próprio raciocínio (que na hora do pânico fica comprometido) e de sua calma no instante do sinistro. Sabemos que no momento de um incêndio em locais fechados, uma grande parcela de pessoas morrem ou se machucam gravemente pela ânsia de salvar a própria pele. E o atropelo aumenta por um erro grave de projeto nas construções dos altos prédios nas cidades. As escadas (o primeiro pensamento de fuga das vítimas) possuem a mesma largura desde o primeiro até o último andar. Na verdade, elas deveriam vir se alargando do último andar para o térreo, de acordo com a capacidade projetada de pessoas que devem ocupar o prédio. Claro que com isto, os andares inferiores teriam menos salas ou lojas. Mas seria melhor esta perda de espaço do que se tornar candidato à manchete como os prédios Joelma e Serrador em passado recente. Paliativos como passarelas entre prédios vizinhos e escadas externas também poderiam minimizar algumas tragédias. Mas não investem nem fazem manutenção posterior. Mais fácil culpar o inocente destino que não tem advogado para defende-lo quando ocorre uma catástrofe com vítimas fatais.
Aliás, que providências visando a segurança foram adotadas pelas autoridades depois daqueles sinistros que chocaram a opinião pública? Basta que os jornalistas encontrem novo destaque e as autoridades fingem esquecer os problemas potenciais. Certamente, as poucas que foram implantadas já não são seguidas com muita rigidez no momento de se conceder o "habite-se". Ao circular por grandes prédios, confira se os extintores estão em dia, se a caixa de energia não está repleta de fios desencapados prontos para um curto, se não há produtos inflamáveis armazenados dentro dos compartimentos de gás e energia, se as placas apontando escadas estão visíveis, se as indicações sobre orientação de monitores estão sobre o botão do elevador e se materiais inflamáveis estão prontos para servir de combustível para o churrasco do seu corpo. Você não vai perder mais de 5 minutos nesta prática semanal em prédios diferentes em qualquer região do país. Principalmente onde você mora e trabalha.
Quem vai impedir que um Sérgio Naia deixe de ativar seus prédios de baixa qualidade tão logo o elevador esteja funcionando?
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – Março / 2002