CRÔNICA DE NATAL: DE UM PAI PARA AS FILHAS
Nenhuma palavra é capaz de justificar, algumas sequer explicam o tamanho do meu egoísmo. Por isso, nesta data só tenho um pedido a fazer: perdoa-me.
Perdoa-me se não tive paciência quando vocês derramavam comida sobre mim, justamente, no momento em que estava pronto para sair para o trabalho.
Perdoa-me se não dei atenção quando vocês chegavam querendo brincar, enquanto eu tentava terminar um maldito livro que de longe é infinitamente menor do que vocês.
Perdoa-me se não tive paciência para botar-lhes para dormir, pois queria assistir às terríveis notícias que se repetiam todas as noites nos telejornais.
Perdoa-me se detestei trocar-lhes fraudas, pois agora já não posso trocar de vida. O que passou, passou. Os fatos. Mas, as consequências ficaram na sua, na minha, nas nossas vidas.
Perdoa-me se tantas vezes esqueci a data de seu aniversário ou, simplesmente, de perguntar: o que você está sentindo? Posso ajudar?
Saibam que se hoje estou sozinho é porque muitas vezes deixei vocês sozinhas. Preocupei-me demais com o que eu queria fazer, ser e ter e menos com as pessoas. Queria crescer, ser o melhor, ser feliz. Quando a felicidade está em fazer o outro feliz. Como é bom ver as pessoas felizes, sempre sorrindo. É contagiante! Experimentem.
Não fiquem tristes, não mais do que eu já as deixei. Sorriam, e o mundo irá sorrir para vocês. São Francisco estava certo: é dando que se recebe. Não é exigindo. Não é se achando merecedor. Não é implorando. Não é tirando. É preciso primeiro fazer algo por alguém.
Não acredito em castigos, só em consequências. Se não colho, é porque não plantei. Plantar requer cuidado, carinho, ternura, amor e tantas outras ações.
Se ainda tenho direito de dar conselhos, eu diria: não cometam os erros que cometi. Abram os olhos. Ame. Perdoe. Sejam simples.
__________________
Autor: Miguel Júnior
|