Houve uma época num passado remoto em que a Igreja Católica exerceu o poder de administração de algumas nações. Por ser composta de seres humanos, também cometeu seus desatinos e algumas injustiças. E qualquer que seja a entidade que venha exercer esta função haverá de passar por esta ocorrência. Não vamos ser hipócritas a ponto de desejar a sociedade perfeita. O que procuramos é a sociedade suportável, onde as realizações sejam voltadas para a maioria, que sejam transparentes e que ao acontecer o erro, haja honestidade em admiti-lo e esforço no sentido de corrigi-lo da melhor maneira possível.
Imaginemos uma avenida longa que tenha sido construída sem retornos e por onde atravessam 20.000 veículos por dia. Surgirão reclamações de 4.000 moradores da região e de outros 40.000 que atravessam o local diariamente. Após algumas ponderações, o engenheiro explica o motivo de não existirem os retornos em seu projeto (na verdade deveria ter tentado algumas opiniões da comunidade antes da obra). Mas acaba aceitando sugestões e os abre em 4 ou 5 pontos ao longo da via. Depois disto, uns 100 moradores da região irão reclamar que tais retornos foram mal feitos, pois terão de transitar 1 km ou realizar uma perigosa contramão de 20 metros. Neste caso, não há como atender a estes insatisfeitos. É o sacrifício aceitável de 100 em prol de 43.900 pessoas.
O importante é que haja participação do maior número de pessoas e entidades representativas ao lado do governo eleito, para sugerir as prioridades sociais e fiscalizar as ações destes governantes. Hoje, sentimos que a Igreja não participa ativamente deste processo. Limita-se a suprir a fome de desesperados obtendo recursos junto a desamparados em potencial. Pouco faz junto à administração pública no sentido de evitar o surgimento de novos desamparados. Orienta para que o rebanho reze para que a luz se faça na cabeça dos governantes. Afinal de contas, riscar um fósforo não é um pecado imperdoável. Se todos nós riscarmos um palito e desfilarmos com velas acesas em frente aos palácios das elites, certamente os resultados virão com menos sessões de reza (temos de perder o hábito de apenas ficar pedindo milagres aos santos - temos de fazer nossa parte). Ela só se pronunciou com mais ênfase quando uma tv comandou a queda de Collor (dizem que a rede de tv se comprometeu a recuperar algumas igrejas despedaçadas). Estará ela contente com o atual modelo que massacra seus fiéis impunemente? Não deve se penitenciar por grotescos erros do passado. Deve mostrar sua força efetuando uma campanha pela recuperação dos valores morais e familiares, que estão sendo gradativamente destruídos por uma tv herege. Combater abertamente as novelas e programas imorais. Não ter medo dos patrocinadores. Salvar seu rebanho enquanto ele não dispersa integralmente.
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – março de 2001