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Artigos-->O terreno baldio dos meus dias -- 15/03/2002 - 10:40 (Bruno Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Sempre acreditei ter crescido numa terra cheia de aventuras e lugares inóspitos. Nestes mesmos terrenos baldios, foi onde enfrentei girafas e elefantes, transformei-me em astronauta espacial, lutei contra a baleia branca, ou fui motorista de um comboio de caminhões, perdidos num deserto árido e acidentado, onde cresci.



Costumava ouvir falarem dos perigos da vida, dos infortúnios que ela trazia, e das agruras naturais da alma. Os adultos fantasiavam meu mundo, pra que não coubesse nada de ruim ou ameaçador, simplesmente por que têm medo. Hoje em dia eu penso assim, mas antigamente achava que havia crescido numa terra cheia de aventuras e lugares inóspitos.



Minha avó costumava passear comigo, mostrando os perigos que achava da vida – Os buracos no chão, e me levava num terreno baldio na vizinhança, bem perto de nossa casa, e eu achava uma maravilha, aquela terra toda vermelha e suja, onde a poeira assentava nos ossos. Contava os dias pra ser levado àquele terreno, por que não sabia em que direção ele ficava. Ainda era cedo demais pra minha autonomia.



Naquele tempo, todo dia era dia de um novo dia, um novo compromisso, uma nova descoberta, nova tarefa. Meus pais me ensinavam seus perigos de cada dia, e ainda nada de autonomia. Não percebia que eram meus dias felizes, e todo mundo um dia já teve seus dias felizes. Os dias felizes foram aqueles, quando nada lhes importava, e tudo mais que queriam era um bom dia de novas descobertas. Todos os dias eram cheios de nada o que fazer, e muito pouco tempo pra tanto nada a fazer.



O terreno baldio dos meus dias foi aquele que deu lugar a um edifício, um shopping center, ou mesmo um estacionamento. Pois, não me lembro onde era, nem mesmo sei o que era. Porém tenho a certeza de que na minha infância ele existia, e pra mim ele era tudo na vida que eu queria aquele dia.



Por isso, naquele dia, eu saia de casa com minha avó, pro terreno baldio dos meus dias. Lá eu seria feliz por algumas horas, até quando o sol tivesse se tornado forte o suficiente pra expulsar-me dos meus sonhos e fantasias. Seria quando eu voltaria pra casa, almoçaria, e dormiria o sono tranqüilo dos inocentes, na época mais feliz da minha vida.



Quem teve uma infância tranqüila, sabe o que os simples prazeres da vida significam. São aqueles dias inesquecíveis, onde nada deu errado, nem mesmo o nada que você tinha a fazer. Um dia cheio de novas descobertas, onde cada dia é um novo dia.











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