NUNCA É TARDE DEMAIS[i]
L. C. Vinholes
Da mesma maneira como demorei quase um ano para escrever este texto, o povo de Nagasaki levou também muitos anos para reconhecer o valor singular de um artista e abrir um espaço para exibir seus trabalhos e, desta maneira, perpetuar seu nome entre tantos outros japoneses que dedicaram suas vidas às diferentes expressões artísticas.
Seu nome é Kaoru Kubota[ii].
Para mim, apesar de tudo que estudei sobre tradição e arte japonesa, desde o início estava convencido de que Kaoru era um dos mais importantes artistas no final do século XX e início do terceiro milênio.
Ele é singular: sem estar preso às tradições do Oriente e do Ocidente, ele mantem o que é o mais importante valor da forma japonesa de pensar: economia de elementos. Isto é usado por ele de maneira pessoal. Ninguém pode facilmente identificar Kaoru como artista japonês. Visualmente, nada claramente japonês é refletido nas suas miniaturas de criaturas estranhas e máscaras. Ele criou coisas únicas e se comportou como quem não estava em sintonia com seu tempo. Ele era evasivo, estranho, introspectivo e viveu uma vida às sós. Mas ele foi um homem do seu tempo. Tempo no qual o Japão se reconstruiu.
Assim como tantos artistas ao redor do mundo, ele foi reconhecido pelos seus compatriotas só depois de anos da sua partida à eternidade. Mas nunca é tarde demais.
Sinto-me feliz por não ter errado em dar, desde o primeiro momento, minha aprovação ao seu esforço para mostrar o poder de sua mente mediante as pequenas figuras dos seus “ton-chin-kan”[iii] e não por esculturas monumentais.
Estou ainda feliz por ele ter agora um lugar dedicado aos seus trabalhos e que muitos das próximas gerações terão oportunidade de conhecer quem ele foi e o que fez.
Nagasaki está mais rica desde o dia da inauguração do espaço dedicado a Kaoru.
A vida é um mistério e poucos de nós sabem como perpetuá-la. Kaoru soube.
[i] Texto escrito em 2002 e permanentemente exibido na entrada da Galeria de Arte Kaoru Kubota, em Nagasaki.
[ii] Atsuka 1928- Nagasaki 1970.
[iii] Nome dado por Kaoru Kubota às suas pequenas esculturas em terra cota que iniciou a produzir em Atagoyama, Nagasaki, a parti de 1954.
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