Meu avô, que eu conheci quando já era um velhinho, amante da boa música, sempre dizia a minha irmã mais velha que as pessoas inescrupulosas não merecem nosso respeito. Eu, como herdeiro deste pensamento, nunca simpatizei com Richard Strauss e sua obra. Não por incompreensão, mas por sentir a falsidade na própria obra. Um grande oportunista, espiritualmente despreocupado e apenas ilustrador das tendências diversas de sua época. A evolução de Richard Strauss é tortuosa, não obedeceu a transições lógicas; foi o zigue-zague do oportunista, adaptando a gostos e modas diversas sua arte consumada. Não convém condenar os lieds e as óperas wagnerianas do compositor, mas o que acrescentam além de Tristão e Isolda? Nada.
Quanto aos poemas sinfônicos, nada vejo demais. Os últimos poemas foram a Sinfonia Doméstica e a dos Alpes; enormes recursos orquestrais, jamais empregados, para descrever uma briga em família e uma excursão turística.
Fachadas pomposas e nada por dentro. Assim como houve nada atrás da música pseudofilosófica do poema sinfônico Assim Falou Zaratustra. Uma música que já envelheceu faz tempo. O poema Uma Vida de Herói é uma autobiografia impertinente do compositor.
Strauss foi homem de vasta cultura, mas sem profundidade. Fez uma música ilusionista, imitação de ruídos. Enganou massas de pseudointelectuais, assim como Wagner, com todo respeito ao Anel, Cantores e Tristão, únicas coisas que prestam de Wagner.
Já não se pode ter dúvida: Poucas obras-primas de R. Strauss sobreviverão; muita música magnífica encerrada em blocos inúteis está condenada a desaparecer. É o preço que o grande oportunista pagou pelos seus êxitos. Seu neo barroquismo tampouco é uma analogia do neo classicismo da nova geração de 1920; foi um sintoma de crise, mas não uma solução.