3 agosto, 2013 - 16:37 - Diego Mendes Sousa
O Rio São Francisco: símbolo da forte poesia de Dantas Mota
Dantas Mota é um grande poeta universal perdido no horizonte de nossa vasta literatura poética. Pouco lembrado e lido pelos " rel="nofollow" style="color: 006600;text-decoration:underline;border-bottom:dotted 1px" target="_blank">brasileiros, Dantas Mota é uma voz presente no reclame de sua ausência. Autor de uma poesia caudalosa, espantosa e recheada de beleza ( ainda rara) na dicção de sentimentos e assombros de espírito:
Dantas Mota, autor do clássico Elegias do País das Gerais.
Não é bem o receio da morte.
Antes o amor à vida ( nem me entendo),
Tal que nem vou vivendo, bem ou mal.
" rel="nofollow" style="color: 006600;text-decoration:underline;border-bottom:dotted 1px" target="_blank">Melhor seria se morrêssemos antes,
Antes da primeira comunhão,
Batizado às pressas por qualquer
" rel="nofollow" style="color: 006600;text-decoration:underline;border-bottom:dotted 1px" target="_blank">Padrinho, descer a encosta,
Carregando os ventos na face.
Viria algum anjo falar comigo?
Maria teria pena de mim?
E os meus antepassados,
Mortos sem remissão? - E minha dor?
E os meus fundos presságios?
Estaria afinal pisando zonas neutras
Ou campos antigos já do meu conhecimento?
Ou não passaria desta categoria de alma?
Ás vezes, quando os homens descem,
Me sinto só em face da eternidade.
E se grito, acordo ecos abandonados.
Se me calo, grilos cantam nas fendas de pedra.
E, se me procuro, somente a solidão.
Se me abandono, estrelas, campos e mares,
E numa estranha música convocando aos suicídios:
Oh! a " rel="nofollow" style="color: 006600;text-decoration:underline;border-bottom:dotted 1px" target="_blank">paisagem do homem e do túmulo!
Que sou afinal, meu Deus e meu Senhor?
Um publicano? Um fariseu?
Preso à vida, servo do tempo,
Patrício ou plebeu,
Só, terrivelmente só,
Diante da eternidade!
E, ao redor de mim,
A tristeza infinita da Terra.
Essa força elegíaca de Dantas Mota transcende o íntimo de seu próprio esgotamento e nos enche de bravura e " rel="nofollow" style="color: 006600;text-decoration:underline;border-bottom:dotted 1px" target="_blank">encanto:
Estão desaparecendo os sorrisos no tempo, amiga!
Estão comigo as prostitutas em orgias pela noite!
Uma clarineta geme, na sala morta, uma valsa insolúvel,
Ninguém passará, sem medo, diante de minha alegria trágica.
Escorre de mim um doce sentimento.
Tão doce que é capaz de conter o peso
De tua carícia, amiga!
Das princesas mortas, entre comidas,
Num chão pardo,
Quando o enterro inda passava pela Mongólia Exterior.
Lembro-me de ter visto,
Entre auroras, num fundo de relvas,
Outros pássaros e outras sombras,
Pendendo dos teus escuros e úmidos braços de carne
- Ciganos longos cantando antes da Morte!
Mas hoje
só vejo prostitutas e o mundo.
Elas descem nuas das ruas desertas
Ou vêm dos cemitérios chovendo,
E pousam, frias,
Sobre a solidão dos meus ombros cansados.
Nem o sol descerá sobre estas pedras,
Antes da destruição de todos os elementos.
- Nem o sol.
- Sim,
Este sol mais triste que a noite...
A imagem de sombra dos versos pungentes de Dantas Mota logo se abrem para o belíssimo canto de sua verdadeira procura de homem, poeta, louco e santo:
Este luar que desce sobre mim
É manso e tranquilo
( Tenho visto algum luar bravo
de raivas e tormentas)
Não o entenderei.
Não o abrangerei,
Ignorado estou
do seu roteiro,
da sua caminhada.
Não vem do céu.
Surge dos cemitérios,
das suas lousas frias.
Luar de ossos magros.
De pecados dormindo,
De virtudes florescendo.
Sobretudo luar,
Reflexo dalgum sono de santo...
...
Não é esta presença quase ausente que me paralisa, guerreiro!
Antes esta ausência sem nenhum caráter de interinidade.
Os que não assistiram ao declanchar dos últimos instantes,
Esses não se povoaram de emoções mais graves.
Quebra-se um conceito espacial. Uma lousa é um Tempo.
E se a pauta não registra esta nota, o contato com os objetos,
integrando a paisagem amável de um espírito,
Se povoa, na solidão, apenas do Fantasma de sum Som.
E esta teimosia em continuar a vida interrompida
É somente a contemplação do que a vida não prosseguiu,
E tem curso através da triste realidade de um sonho,
Que se esfuma, se esbate, ilógico e sem razão,
De encontro a estas duras paredes de um quarto,
Em que a morte principia, e a vida, infeliz, continua...
Dantas Mota merece as honras de uma leitura depurada, onde comparecem a exaltação e a concha de uma alma embebida de sonho e madrugada.
O chope não me traz o desejado esquecimento
Os insetos morrem de encontro à lâmpada
Ou se acoitam no sofrimento destas rosas secas.
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Agora Etelvina deixará o tempo.
Podem os telefones tilintar.
Os telefones e os amantes,
Os cáftens e os judeus,
Também as cruéis donas de pensão
Que sugaram o seu corpo pobre
sem adereços.
Etelvina era da vida
E bebeu veneno.
Aliás isso é da vida também.
Que puto de um Poeta é Dantas Mota!
Poemas de Dantas Mota
Minuta de Diego Mendes Sousa
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