Apesar de não restar mais dúvidas quanto ao uso de armas químicas contra a população civil na Síria, as quais provocaram centenas de mortos, os EUA e seus aliados estão reticentes em promover um ataque em represália ao país. Qualquer um que acompanha de perto a política internacional sabe que essa falta de uma ação imediata não faz parte da tradição norte americana e que portanto é um elemento novo na política externa dos Estados Unidos. Mas afinal por que tamanha reticência? Embora muitos podem estar achando que isso é fruto do temor dos EUA com um possível agravamento do conflito na região e do envolvimento do Irã, na verdade não é nada disso, apesar de que há de fato esse receio. No entanto, o verdadeiro motivo está relacionado com a invasão do Iraque há dez anos, quando os EUA atacaram o país com a justificativa de que o Estado iraquiano dispunha de armas de destruição em massa e de que o então presidente iraquiano, Sadan Hussein, poderia usar essas armas para causar mortes em Israel e outros países do Oriente Médio que fossem aliados dos EUA. A comunidade internacional se oponha a essa guerra. Após a invasão do Iraque descobriu-se de fato que as tais armas de destruição em massa não existiam e que portanto o governo iraquiano estava falando a verdade quando negava veemente possuí-las. Agora os Estados Unidos, embora é sabido que a Síria não só possui as tais armas como também já chegou a usá-las contra seu próprio povo, não quer cometer o mesmo erro; prefere esperar os relatórios dos inspetores da ONU a fim de que tenha toda a certeza de que realmente foi o regime sírio e não os rebeldes que tentam derrubar o presidente Assad os responsáveis pelos ataques químicos. Os Estados Unidos também não querem atacar a Síria sem o aval de grande parte da comunidade internacional, embora terá de fazê-lo sem a autorização da ONU, já que Rússia e China – aliados de Assad --, bloqueia qualquer tentativa de uma resolução que permita uma resposta armada. Não será uma tarefa fácil para os EUA já que a maioria dos países da Europa continuam mergulhados numa crise financeira, a qual poderia inclusive se agravar com o início de mais um conflito. Até porque a Síria não é o Iraque e muito menos a Líbia, invadida cerca de um ano atrás. Assad não mediria esforços em transformar essa guerra num conflito regional a fim de mergulhar o Oriente Médio numa guerra sangrenta. E é perfeitamente sabido que, se isso vier a ocorrer, vai sobrar literalmente para todo mundo, inclusive para nós brasileiros.
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