Passamos dos 500 anos de existência cheios de entusiasmo, assim como um adolescente que completa a maioridade e acredita que a partir deste momento tornou-se independente e apto a dar rumo à sua vida, por sua própria conta.
No entanto, realmente somos tolos inocentes que ainda não nos livramos das amarras ditadas por forças externas, que a todo custo, tentam se apossar de nossas riquezas, após terem esgotado suas próprias fontes durante séculos de devastação desregrada.
Reunimos um cenário de causar inveja a qualquer potência mundial, por ocuparmos a parte mais bem contemplada no planeta. Temos rios abundantes de águas e peixes coloridos, esplêndidas praias extensas e uma agricultura que encobre um solo rico em minérios valiosos, compondo um celeiro para abastecer o globo por mais 500 anos.
Possuímos um coração gigante, que abraça gente de todas as partes do mundo, sem distinção, gozando das mesmas regalias e oportunidades dos nossos nativos. Paradoxalmente, não valorizamos os poucos indígenas que ainda nos restam e que oprimidos, ainda guardam nossa herança inicial.
Somos donos de uma força enorme para superar as eventuais adversidades que assolam nossas populações, quando a Natureza protesta contra nossa falta de senso em preserva-la. Neste instante, a solidariedade une todas as camadas no esforço de ajudar aos atingidos pelo destino. Mas este espírito não perdura o tempo necessário para erguermos os alicerces de sustentação de nosso projeto de vida e de fortificação da cidadania.
Passada a borrasca, rapidamente nos deixamos deslumbrar com aparatos bem montados pela mídia, que comercializa e enaltece produtos suspeitos que prometem boa qualidade e peso correto, que só estão disponíveis para uma minoria privilegiada. Logo nos esquecemos de nossos irmãos menos afortunados, sem cultura, doentes, esfomeados e destelhados, que teimosa e heroicamente sobrevivem sob condições adversas. Trocamos nossas riquezas brutas, por belos artesanatos de plástico, movidos a pilhas.
Nós, que produzimos mestres em diversas áreas (futebol, música, medicina, ...), não conseguimos manter aqui nossos ídolos. Eles são atraídos para o estrangeiro, onde existem recursos que lhes permitem desenvolver e valorizar suas habilidades físicas e intelectuais. Somos capazes de desenvolver nossos próprios produtos, voltados para nosso estilo de vida. Mas somos doutrinados a importar os pacotes que trazem em seu bojo, funções desnecessárias à nossa rotina. Custam caro e nos endividam eternamente. E não somos capazes de impedir a saída ilegal de nossa madeira, nossa fauna, nosso minério, nossos pesquisadores.
Este quadro pode dar impressão aos pessimistas, que tudo está perdido. Que estamos condenados à condição de eterna colônia sob o jugo do metal (arma ou dinheiro). Perenes escravos daqueles que comandam o mundo de forma gananciosa, que gastam bilhões em poderosos foguetes e armas, que poderiam doar sementes aos esfomeados que os ajudaram a enriquecer. Será que somos um bando perdido pelo deserto da ignorância, sem ídolos vivos que possam nos dar exemplos para seguirmos e ensinarmos?
Mas ainda há tempo. Neste novo século, estamos iniciando o período de nossa sofrida maturidade. As consciências estão despertando, se libertando da escuridão do desconhecimento. Apesar da acomodação de nossa sociedade, nossos jovens, que a cada geração nos surpreendem mais cedo com seus questionamentos quanto à visão de vida que lhes passamos, que inteligentemente contestam dogmas e paradigmas arcaicos, certamente saberão abandonar as drogas e nos conduzirão à trilha que nos levará à descoberta de uma melhor qualidade de vida, sem precisar pisotear os menos afortunados. E conseguirão isto com apenas quatro ingredientes bem dosados: cultura, perseverança, amor e esperança.