A cada semana recebemos uma nova punhalada em nossa dignidade. Os escândalos surgem em todos os níveis administrativos. Os valores desviados, se acumulados, seriam suficientes para pagar a dívida externa, a dívida do FGTS, aparelhar os hospitais, alavancar a agricultura, suprir as escolas, aperfeiçoar as polícias no combate à criminalidade e ainda sobrariam milhões de reais para criar oportunidades de emprego para os jovens que estão povoando as ruas sob o manto das drogas.
No entanto, poucas vozes se levantam contra o sistema em andamento. A potência de suas vozes não é suficiente para sacudir os tímpanos dos que possuem prestígio para ajudar no combate de desinfecção de nossa pátria. O povo indignado, mas sem articulação, aguarda um sinal de fonte de credibilidade para demonstrar com vigor sua insatisfação com o sistema que lhe apodrece a alma e mancha sua dignidade.
Mas nenhuma voz de peso ecoa no vale da podridão por onde corre o rio de lama que está acabando com nossa honra de povo trabalhador e amigo. A CNBB só se apresenta em público para defender um "cidadão" de 17 anos e 11 meses que já matou 15 chefes de famílias, mas tem "direito" a ser tratado com humanidade durante as férias de alguns dias que desfruta numa unidade correcional (que aumenta seus conhecimentos criminosos). A OAB só vem a público para defender os direitos de algum dono de jornal que tenha assassinado a amante (também jornalista, mas ainda mera repórter) ou os direitos de um Lalau que tem curso superior e por isto merece hospedagem 5 estrelas nas dependências policiais às nossas custas (para não ter de gastar seus 169 milhões desviados com muito suor). O programa fundado por Betinho passou a ser meio de arrecadação de contribuições para futuras campanhas eleitorais. Não aparece para dar apoio às vítimas das famílias órfãs em função de bárbaros assassinatos. E cada uma de várias outras entidades da sociedade, estão preocupadas em defender seus membros, mesmo que eles tenham construído prédios que desabaram matando famílias e sonhos, diretores de faculdades fantasmas que recebem as mensalidades mas não poderão conceder diplomas, ou médicos que tenham causado lesões irreversíveis em operações que apenas visavam o bem estar da conta bancária dos cirurgiões irresponsáveis.
Apenas uma vez se juntaram com um digno objetivo comum: a retirada de Collor. E agora? Nada há para derrubar? Estão contentes com o sistema atual? Estão com medo ou comprometidas com os mentores da estrutura em uso? São marionetes que apenas agem ao sinal da tv que as conduzem pela coleira devido a algum dossiê comprometedor? Já viram o que ela está fazendo com Eurico Miranda e temem agir por conta própria?
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – março de 2002