Alguns colegas, sem dúvida alguma com maiores conhecimentos do que eu sobre nossa história política lembram-me que entidades como OAB e CNBB tiveram papel ativo na época da ditadura. Apesar da censura da época, importantes vozes se levantaram em defesa de nossos direitos e muitos integrantes de seus quadros (Frei Tito foi massacrado pelas suas atitudes humanitárias em prol dos necessitados) sofreram perseguições e agressões. Alguns sumiram para sempre. Honra seja feita a todos estes que de alguma forma demonstraram coragem acima da média em enfrentar aquela situação incômoda em defesa de nossos direitos.
É fácil entender tanta bravura destes patriotas. Estavam acostumados com a liberdade (ainda que a bagunça envolvesse a nação, estavam livres) e repentinamente foram privados de ações e palavras. A indignidade deles com o radicalismo reinante tomou conta de seus espíritos e saíram à luta sem medir as conseqüências que certamente afetaram suas famílias. Em função desta luta inicial, outros adeptos foram se incorporando e as pressões das armas foram diminuindo. E de alguma forma retornamos ao estado de podermos expressar nossas idéias contra os atos que nos parecem prejudiciais à comunidade.
No entanto não é por terem tido esta louvável atitude numa época difícil, que tais entidades devem repousar sobre os louros e adormecer eternamente. Seria como se nossa seleção de futebol, por já ter sido campeã do mundo por quatro vezes, ter o direito de não mais buscar o título máximo, em função de suas glórias passadas. Pelo contrário: sua responsabilidade aumenta com o passar do tempo. As novas gerações criam expectativas sobre a equipe em função do que os antepassados descrevem sobre as maravilhas executadas pelos jogadores da época. Um jogador para ser convocado precisa estar em forma esplendorosa no momento da chamada. Não pode ser lembrado pelo que fez há mais de dois anos e não vem fazendo nos últimos dois meses.
Da mesma forma que o atleta é cobrado, estas entidades que agiram corretamente na época da mordaça declarada, não podem omitir-se agora por já terem cumprido papel tão importante. A cada instante, o sistema perverso está planejando novas maldades contra o povo com maior sutileza através das mortíferas armas econômicas (ou mesmo as de fogo, como no caso do Afeganistão, quando o tempo para se apossar de riquezas é exíguo). E nossas instituições sociais precisam estar sempre marcando posição em nossa defesa, mostrando a estes abutres que não estamos abandonados por estas agremiações nas quais depositamos nossa confiança em defesa de nosso patriotismo. Temos de cobrar delas atitudes que honrem suas tradições, construídas por lideranças que não deixaram se corromper pelos poderosos do poder.
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – Março / 2002