A dúvida tem um logotipo: o círculo. Sem solução que não ele mesmo.
Isso que começa e termina no próprio começar, prisioneiro, não é uma bolha de sabão para alguém sair por aí estourando. Senão estaria resolvido, e a dúvida sucumbiria à amnésia. Quem duvida do que quer que seja, meu filho, há de ter memória livre para manter a dúvida funcionando, numa teimosia maior que o querer. A pessoa em dúvida é atormentada de dores e temores. Que certeza? Só uma breve desconfiança. Quem não experimentou bafejar no espelho o hálito de viver? Mas só de querer enxergar a respiração já não se respira direito, porque toda certeza é temporária e não dura um átimo, enquanto a respiração continua a marcha. Assim, ninguém nunca sabe. Olhos o que enxergam é puro silicone. A pupila é um troço muito frágil e não se desnuda por completo. Seminua, ela se resguarda com um tapa-sexo. Ei, meu filho, não confundir o rímel de fora com o brilho de dentro estrepando o ar! Registros de ocorrências. Coisas que cheiram, a despeito do nariz. Coração latejando na córnea. Globos oculares farolando na ilha sem fronteira. E por dentro da piscina contida das órbitas haveria um peixinho nadando em águas meigas, que mãos obedientes desenhariam em retardo. Esferas destemidas e feitas de pedra, rolando indistintos mistérios. Cores daltônicas.
Do posto de gasolina sai uma carroça anunciando o fim do mundo, puxada por um jegue de tanque cheio. Na parada de ônibus, o PM abraça a melancia, engasgado de tanto amor. A distância entre dois asfaltos é eterna. A dona sabe que o ônibus já vai longe, mas ainda assim dá com a mão e sorri uma coisa boa de café coado na hora. Essa imagem se repete tanto, que mal se enxerga e já passou.
O erro pode estar na generosidade de presentear o outro com experiências ilusionistas que são nossas e só nossas. Ninguém enxerga com olhos alheios.