Este artigo foi escrito em Janeiro de 2015, dias depois do ataque terrorista ao Jornal satírico francês Charlie Hebdo. Foi publicando no MEU BLOG. Com o meu retorno à Usina de Letras, resolvi postá-lo agora, pois ainda me parece bastante atual.
Os ataques terroristas em Paris que culminou com a morte de 13 pessoas mexeram profundamente com o orgulho dos franceses, um povo acostumado a levar a democracia às últimas consequências. As reações aos ataques vão desde a condenação veemente do extremismo islâmico, ao maior protesto que os franceses já viram em sua história, a uma edição com milhões de exemplares do jornal satírico Charlie Hebdo -- alvo principal do ataque e onde morreram o maior número de pessoas – e o envio de mais armamentos para o combate aos extremistas. Se o único objetivo desses extremistas era assassinar os editores e cartunistas do jornal a fim de vingar o profeta Maomé pelas charges, os terroristas conseguiram seu objetivo. Por outro lado, despertaram não só a ira ocidental como também a de grande parte da comunidade muçulmana moderada, a qual não compactua com a interpretação radical do islamismo e condena o assassinato religioso. E esse despertar custar-lhes-á muito caro, pois, pela primeira vez, se vê a maior parte do mundo disposta a varrer de uma vez por todas esses extremistas da face da terra. Embora o extremismo não seja exclusividade do islamismo, já que ele está presente tanto no judaísmo quanto o cristianismo que aliás no passado praticava os mesmos atos que condena hoje em dia. Grupos assim continuaram a existir, mesmo que uma grande coalização venha derrotar e enfraquecer a Al-Qaeda, os jihadistas do Estado Islâmico, o Boko Haran e outros grupos semelhantes. Mas se o ocidente quer realmente evitar que estes grupos se reorganizem ou que surjam outros tão radicais e perigosos quanto estes, deve antes de mais nada mudar sua estratégia. Esses grupos na realidade usam a religião como meio de sedução, mas o que eles querem mesmo é, de um lado, vingar-se das grandes colônias europeias por suas décadas de colonização e exploração, onde não fizeram nada para melhorar daquele povo; e, por outro, dos EUA pelo seu apoio incondicional à Israel, o qual vem colonizando e massacrando os palestinos da mesma forma que as grandes potências europeias fizeram nos séculos XIX e primeira metade do século XX, e principalmente pelas intervenções militares no Iraque, Afeganistão e mais recentemente na Líbia e na Síria. Os protestos em Paris no último domingo mostrou a união do ocidente e de alguns países árabes, mas a união e a retórica não vencem a guerra. É preciso mostrar que esses países estão dispostos a sacrificar muito mais do que o poderio bélico e tecnológico. Mas será que realmente estão dispostos?
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