Usina de Letras

Muito provavelmente a presidenta Dilma será derrotada neste domingo, na votação da Câmara do processo de impeachment, ao não obter o número necessário de 25% dos parlamentares contra o relatório que recomenda ao Senado a abertura de impeachment contra ela. Essa provável derrota não será por causa das pedaladas fiscais, como está no processo, mas sim pela incompetência do governo Dilma em construir uma base parlamentar de apoio ao seu governo, devido aos vários erros na condução da política econômica, a qual deu origem à crise pela qual o país vem passando, e pelos escândalos de corrupção envolvendo o seu partido, o PT, embora não haja uma única prova do envolvimento dela nesses crimes. É óbvio que esses tipos de erros não levam ao impeachment, por isso a oposição teve que usar outros argumentos, como foi o caso das tais pedaladas fiscais, as quais foram, no passado, praticadas por outros presidentes e ainda são por governadores, sem que isso lhes tenha causado um processo de impeachment ou perda de mandato. O fato é que Dilma está pagando o pato pelos erros do PT ao longo dos últimos 12 anos, por ser a primeira mulher a governar este país, pela agenda progressista no tocante à igualdade de gênero, cor e raça, o que vem desagradando os conservadores, os evangélicos e uma considerável fatia da sociedade que vê nos negros, homossexuais e nordestinos uma raça inferior. Além do mais, o inconformismo dos perdedores com a derrota nas eleições de 2014 e de uma parcela mais abastarda da população, as quais também foram fundamentais para que o processo contra Dilma chegasse aonde chegou. Talvez o maior erro de Dilma foi, no primeiro dia da nova legislatura e na qual se elegeu o Presidente da Câmara, ter afrontado Eduardo Cunha e permitido que ele se elegesse. Ali começou a queda da presidenta, pois além de ter feito de Cunha o maior inimigo do governo também mostrou a incapacidade do governo Dilma de fazer articulações. Hoje se vê que Eduardo Cunha, apesar de todos os crimes cometidos por ele, os quais já viraram processo, e provavelmente vão lhe causar a perda do mandato, ele continua mandando e desmandando na Câmara dos Deputados como se fosse o homem mais poderoso do país. Da mesma forma que Cunha vem manipulando a seu favor o processo contra si, continua manipulando o processo contra Dilma. E assim o fará até o último minuto. Tudo isso e mais o agravamento da crise econômica criou um ambiente propício para que qualquer deslize jurídico da presidenta culminasse num pedido de impeachment. E foi o que aconteceu. Dilma está perdendo o mandato não porque cometeu algum crime, mas devido aos erros de gestão e falta de habilidade política, que aliás sempre foi uma marca pessoal sua. A desastrosa tentativa de trazer Lula para o governo é a mais clara prova disso. Se isso tivesse sido feito meses antes, Lula não teria passado pelo constrangimento que passou e muito provavelmente ele teria conseguido salvar o mandato da sua cria política. Mas agora parece ser tarde demais.