Usina de Letras

Não é segredo para ninguém que, sob o ponto de vista jurídico, a agora ex-presidente Dilma foi cassada injustamente. Por outro lado, é preciso reconhecer que seu governo foi um desastre em muitos pontos, mostrando-lhe o despreparo para governar o país. Não há dúvida de sua honestidade e ninguém acredita que Dilma possa estar envolvida em corrupção, até porque as investigações da Lava a Jato já duram dois anos e até o momento não apareceu uma única prova contra ela. Mas ser honesto e decente não é suficiente para comandar um país complexo e do tamanho do Brasil. Ter tino político e saber equilibrar-se no fio da navalha da política brasileira, com essa quantidade absurda de partidos políticos, onde os interesses particulares estão sempre acima do interesse coletivo, é o mais importante. Dilma quis administrar o país como se fosse uma empresa ou corporação, onde o presidente é de fato quem manda. No Brasil infelizmente a coisa não é assim. Embora o regime seja presidencialista, o Congresso tem poderes de um sistema parlamentarista. E aí a coisa não funciona se o presidente não for um hábil articulador, alguém capaz de lidar com as mais antagônicas forças e interesses. E Dilma não soube. Ela e Collor caíram pelos mesmos motivos: por inabilidade política em conciliar os interesses e manter unida sua base parlamentar. Uma inabilidade que levou a perda dessa maioria e consequentemente a ingovernabilidade e por fim a perda do mandato. Aliás, Dilma é o oposto de Lula, o qual sabe lidar com o jogo político como poucos. Enfim, Dilma sofreu o impeachment porque perdeu a capacidade de governar, não porque tenha cometido crimes que o justificasse. As pedaladas fiscais foram só uma desculpa, a única coisa que encontraram para justificar-lhe a perda do mandato. Se estas não tivessem ocorrido, teriam encontrado outra forma de tirar-lhe o mandato. Eis a grande verdade.