Pisando em espaços assombrosos.
Ana Zélia
Nuvens escuras circundam meu antigo céu de brigadeiro.
Nem se sei se um dia na vida tive este céu, ele foi sempre nublado,
Ele foi sempre negro.
Filha de nordestinos fugidos da seca, uma 2ª guerra mundial ainda
assustava o planeta.
Um filme gravado na menina que de tão danada era chamada de
Satanás em figura de gente.
Santo pra todo louvado, tocava o sino da igreja de Santa Luzia, Educandos,
Chique era quem tivesse rádio, havia um estúdio e uma Voz no ar.
Sabia de cor todas as músicas, conhecia a Rádio Baré, lá próximo ao cais do porto,
com o nome de Maloca dos Barés, no Patronato Santa Terezinha, estudava catecismo,
em todas as apresentações estava na linha de frente.
Depois veio Rádio Difusora, na rua Joaquim Sarmento, onde hoje funciona a BEMOL.
Creio que venci o mundo e hoje não consigo vencer o ar, ele me faz falta,
o médico já me viu por dentro, aguardo o resultado, espero que não seja câncer.
Tuberculose sei que não é, os exames comprovam.
Tenho medo, vários familiares tiveram câncer e partiram, estão em outro plano.
Apelei pra Cosme e Damião, médicos, Santa Terezinha, enfermeira eu me assistam e me curem com o poder de Deus,
apelei pra São Benedito, meu Padrinho, Senhora da Conceição, minha madrinha, fui batizada, num terreiro de umbanda,
Terreiro da Mãe Quintina, que tomava conta da igreja de Santo Antonio do Pobre Diabo, na Cachoeirinha.
Apelei pra todos os Santos, entidades de força, Dona Mariana, minha amiga do peito.
Escrevi caminhando rumo aos duzentos anos. Ultrapassei os 7.0, caminho para 7.4.
Enquanto vida, esperança. Não a perco, tenho compromissos com os filhos que
Coloquei no mundo. Fiz tudo na vida por eles e continuo tentando.
Mesmo que de repente os esteja prejudicando, sem deixa-los caminhar, em
Espaços assombrosos.
Meu Deus me ajude não me leve ainda, viva tenho valor, morta nada sou.
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Manaus, 01 de setembro de 2017
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