Usina de Letras

Talvez eu seja um tanto ingênio ao acreditar que no futuro esse mar de lama no qual o Brasil está atolado chegará ao fim, permitindo que sejamos governados por pessoas decentes e honestas; pessoas que não usem os cargos públicos para interesses próprios ou para negócios escusos. Talvez seja sonhar demais, ver o mundo com os olhos de um Míchkin ou mesmo de um Dom Quixote, mas por que não acreditar? Por que não ter esperança? O que seria do homem se não fosse a esperança? Mas é óbvio que não se deve sonhar em vão, pois seria acreditar no inacreditável, como o personagem de Cervantes. Paulo Freire já dizia: “num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”. E ele não deixa de ter razão. Mas é preciso ter os pés nos chão. As coisas não vão mudar do dia para noite. O processo de criação de um país decente, de pessoas honestas é longo e difícil; passa primeiramente pela mudança de mentalidade da população, já que nossos políticos são o reflexo de seu povo. Se de fato queremos um país decente, primeiramente temos de aprender a ser honestos e decentes vinte e quatro horas por dia, temos de compreender que, por mais insignificante que seja, um ato de desonestidade, uma pequena contravenção, um pequenino desrespeito para com o próximo é a semente que germina os maus políticos. Somos nós, e não a política, quem permite que se trate o público como privado. Onde impera a honestidade não há espaço para a corrupção, para a apropriação do bem comum e menos ainda para o uso do cargo público como forma de enriquecimento. Os países do norte da Europa estão aí para nos mostrar que é possível sonhar, mesmo que a esperança seja um sonho acordado, como disse Aristóteles. Então, que se aproveite este momento, onde todos nós nos sentimos enojados com nossos representantes, e façamos nossa parte.