Por Luis Borges.
Peregrinação a S. João da Fraga_Pitões das Júnias_Serra do Gerês
Os moradores de Pitões das Júnias cumprem todos os anos uma tradição religiosa cuja origem se desconhece: Sobem ao alto de uma serra com mais de mil metros de altitude e numa pequena capela que ninguém sabe por que e por quem foi construída e rezam em honra de São João da Fraga. No regresso, comem a merenda, deixada na ida num carvalhal.
Esqueça os saltos altos e a melhor fatiota. Na festa de São João da Fraga, em Pitões das Júnias, no concelho de Montalegre, o que se usa mesmo, ou se recomenda, são as botas de montanha e uma vara de apoio. A capela do santo, fica a mais de uma hora de distância da aldeia. E o caminho até lá tem tanto de belo como de íngreme. Mesmo assim, no passado domingo, foram muitos os que venceram o sacrifício, ficando, assim, e, literalmente, “mais perto do céu”, diria ,mais tarde, o pároco da freguesia na hora da missa.
Pelo caminho, as conversas dos vários grupos, faziam-se ao ritmo da inclinação do terreno. Nas subidas mais acentuadas, o que se ouvia mesmo era a respiração ofegante.
“Enquanto há pernas, não há cabeça, quando vem a cabeça já não há pernas!”, desabafava para o colega do lado uma mulher de Pitões, lamentando os esforços a que submetera as pernas, que agora lhe começam a faltar.
Outro grupo rezava o terço. “É para que São João nos ajude durante todo o ano”, explicava uma das mulheres.
Já no topo, a mais de mil metros de altura, cada um ajeitava-se como podia pelas fragas que rodeiam a pequena capela, que ninguém sabe explicar quem e por que a mandou construir. “Pelo menos, 140 anos tem! O meu tio morreu com 90 anos há mais de cinco décadas e dizia que sempre se lembrava da capela”, respondia José Pereira, de Pitões, à curiosidade do vereador da cultura da Câmara de Montalegre.
Rezada a missa e feita a procissão à volta da capela com o São João da Fraga, aos romeiros espera-os o caminho de regresso à aldeia. No entanto, mais ou menos a meio, há uma paragem. Num carvalhal, onde à ida foram já deixados os farnéis, juntam-se merendas e convive-se. Para os desprevenidos, a associação cultural local partilha a carne que assa na brasa. O baile, ao toque de concertina e dos gaiteiros locais, animam o resto da tarde. À noite, a festa continua, mas na aldeia.
De tudo que aqui se diz as falas daquela senhora a quem as pernas já começam a falhar são o que no momento merece mais reflexão. Chega de esperar que a velhice traga mais sabedoria, há que nos adiantarmos a isto, e achar através da cultura, do progresso uma sabedoria que chegue antes para evitar muitos sofrimentos. Somos produto das nossas escolhas, então que chegue alguém, alguma sabedoria que mude o rumo desta história, velha, desgastada.
Lita Moniz
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