Segui rumo ao consultório de um especialista na área da audição, a fim de minimizar os efeitos que a falta dela faziam em minha vida. Relutei, a princípio, temendo não querer ouvir aquilo que para mim, celebraria o fim. O fim do conforto e da harmonia que reinavam no silêncio. Dores mudas, sentidas, eram o único incômodo que deveriam prevalecer caso o tratamento lograsse êxito. Nasceria então, o mundo dos infinitos ruídos, audíveis a mínima distância, enquanto eu recepcionaria todos os sons que invadiram minha cavidade auricular. Seria mais um ouvinte no parlatório do mundo que se recusa a ouvir. Situação temerária, pois não saberia o que fazer ao sentir tantas entonações que tocariam a membrana timpânica sem um pouco de tato. Caberiam às palavras, um pouco de habilidade para serem percebidas da melhor forma possível sem a agressão peculiar aos atores da dialética.
Ao fazer os exames, descartou-se a possibilidade de reaver o som das palavras, entretanto sentir já estava acentuado à época da razão. Fiquei feliz ao saber do resultado que diante dos fatos, seria um presente para quem não suporta as dores das palavras malditas.