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Artigos-->Escritos Breves (1) -- 11/04/2018 - 21:20 (BRASIL EUGENIO DA ROCHA BRITO) |
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Escritos breves
Brasil Eugênio da Rocha Brito
Após um período longo sem me preocupar com produzir novos textos,
retorno, com uma abordagem, que pretendo seja diferente da anteriormente por
mim praticada. Agora, a elaboração de textos que poderiam ser classificados
como artigos, crônicas ou sei lá o que... Pretendo editar por vez, de 2 a 4 textos
reunidos num pacote designado como “Escritos breves”, à cada edição
recebendo os algarismos 1, 2, 3, n. Continuo me valendo de um expediente que
é aquele de, em razão da minha facilidade em registrar/memorizar fatos de
minha vida desde eventos de minha infância, me é dado poder com tais coisas
oportunamente lidar, para produzir os textos que virão a ser editados.
ESCRITOS BREVES (1)
Para quem, como eu, nasceu da década de 30 do passado século para
antes disso, fácil será concordar que a revista mensal “Seleções do Reader’s
Digest” publicada em português desde fevereiro de 1942 (até o mês anterior
nós, de fala portuguesa, nos valíamos das edições em espanhol das
“Selecciones del R.D.”, como fazia desde havia tempo meu avô paterno Joaquim
Eugênio da Rocha Brito, português nascido em Arcos de Valdevez – Minho -
Portugal em 1873 e emigrado com 18 anos para nosso país. “Seleções” era uma
publicação muito lida pela classe média brasileira. Tal revista era, já no original
em inglês, uma coletânea mensal de artigos publicados na imprensa norteamericana
e mesmo nas dos países europeus, com uma pequena incidência de
textos provindos de imprensas de outras partes do mundo e/ou continentes. Por
tal razão, já em inglês levava a classificação de Digest, ou seja, Seleção... Para
mim, além de certos assuntos que eram em artigos na revista abordados
(inclusive resumos de novos contos ou de roteiros de filmes em produção) me
interessavam muito (o que até hoje comigo ocorre), as secções que lidavam com
o humor, para mim um dos bem maiores que o homo sapiens cultivou e cultiva.
Adiante procurarei, o quanto a mim possível, transladar o que captei naqueles
textos, para agora exibi-los. É importante realçar que a publicação “Reader’s
Digest” existe, originalmente em inglês, desde 1922 e que a versão em português
também continua existindo desde fevereiro/1942. Registro, sem pretender estar
exato no que ouso afirmar, que talvez nos anos finais das décadas de 50 e nos
anos da década de 60 do passado século, as “Seleções”, versão em português,
me parece ter sido mais lida do que ocorre nos dias atuais, falando-se em termos
de proporções de seus leitores sobre o total de disponíveis leitores de revistas e
publicações disputando mesmo universo de pessoas nisso interessadas. Era um
tempo em que, além de serem exibidas mais veiculações de propaganda da
revista em várias mídias, e mais se comentava sobre assuntos por ela tratados
e muito mais exemplares seminovos e antigos da revista locupletavam as salas
de espera de médicos, dentistas e outros profissionais. Como fecho a esta
introdução, quero esclarecer que tudo que aqui trarei é elaborado a partir de um
processo de meu registro das leituras e sua consequente memorização, não
tendo eu nenhum exemplar de época de “Seleções” para me socorrer naquilo
julgado oportuno. Em cada um dos artigos eu porei uma imprecisa indicação de
quando julgo ter eu lido nas revistas o texto que permitiu tal retomada.
A. Do pensador, escritor, jornalista, produtor de textos de teatro Bernard
Shaw, falecido no ano de 1950 aos 94 anos de idade. Possivelmente de
exemplar publicado ao meio da década de 1950.
Um grande amigo de B. Shaw fez o seguinte relato sobre uma ocorrência:
Certo dia, tal amigo dele (com provavelmente idade para dele poder ser
um filho) estando ambos conversando na rua, em local próximo à casa de
Shaw, em ocasião em que o autor de Pigmalião estaria com 92 anos de
idade, por eles passaram duas alegres jovens especialmente bonitas, ao
que o amigo dele provocou: “ Puxa, que lindas moças! Você não tem nada
a dizer?” Ao que, de bate-pronto retrucou Shaw, após um especial
suspiro: “Ah, amigo. Quem me dera eu hoje estivesse na flor dos meus
89 anos...”
B. Comentário verídico transcrito de jornal dos Estados Unidos no “R.D.”
Possivelmente de exemplar publicado entre 1947 e 1951.
Uma senhora de classe média moradora em pequena cidade interiorana
foi mordida por um cachorro e não tomou as muito difundidas necessárias
precauções para garantir sua saúde. Apenas veio a procurar um médico quando
algumas perturbações já lhe ocorriam e a preocuparam. Ocorre que o médico,
após feitos os necessários exames, constatou que, dado o fato da demora havida
por parte da paciente em procurar ajuda médica, não haveria um outro desfecho
a não ser o fato da raiva canina ter atingido condição tal que ela viria a morrer
inapelavelmente por tal causa, fato que até trouxe embaraços enormes para o
médico vir a trazer tal diagnóstico ao conhecimento da sra. e sua família. A
contraparente desta sra., pessoa que fez o relato de tudo isso à publicação
impressa, disse que todas as pessoas parentes e amigas da inditosa mulher não
sabiam como lidar com o caso, nem sabiam como com ela conversarem, que
atitudes mais convenientes/oportunas deveriam ter nas possíveis conversas com
ela doravante mantidas, etc. Então, certo dia essa contraparente surpreendeu a
sofrida amiga tendo em mãos uma página pautada e escrevendo até com um ar
de pessoa conformada, longe de parecer tomada por profundo pesar. De pronto
a depoente soltou para ela a questão: “Fulana, você, por acaso está fazendo
uma lista de pessoas a quem deixará isto ou aquilo de seus bens, suas coisas?”.
“Que nada”, retrucou ela, acrescentando “Estou é fazendo uma lista das pessoas
que eu agora quero morder...”
C. Outro comentário publicado por informação obtida de um “cronista social”
de um jornal de uma das maiores cidades dos Estados Unidos.
Possivelmente de exemplar publicado entre 1955 e 1962.
Havia uma sra. da alta classe da cidade que era pessoa deslumbrada com
a nata do “high society”, à qual ela considerava ser legitimamente inserida e que,
por outro lado, parecia ter menos massa encefálica que as outras pessoas que
frequentavam tais rodas. Certa ocasião, conta tal cronista social, ele mesmo
apresentou um jovem de seus 18 anos, filho de um médico de altíssimo renome
inclusive muito além das fronteiras do estado, famoso em todo o país, à tal sra.,
lhe dizendo: “Sra. Fulana. Este aqui é o jovem A, de 18 anos, filho do tão ilustre
Dr. Beltrano”. Ao que tal sra., emocionada, comentou: “Mas vejam só! Um rapaz
tão jovem e já sendo filho de uma pessoa tão afamada!” (????) .
D. Fato noticiado em jornal dos Estados Unidos, que comenta uma tremenda
gafe (como se costumava chamar tal ocorrência nos anos 40/50, etc., do
século XX). Talvez de exemplar de “Seleções” de meados dos anos 40.
Em um restaurante muito conceituado de Nova York, talvez pelo meio da
década de 40 do passado século, jantavam 2 ou 3 casais desses badalados nas
colunas sociais dos periódicos da época. Ocorre que, lá por meia hora após tais
casais estarem jantando e mantendo animadas conversas, adentrou o salão do
restaurante o então muito famoso violinista Fritz Kreisler, pela crítica e pelos
amantes de música erudita considerado como um artista genial, inigualável,
mesmo nessa fase de pessoa tão idosa em que ele se encontrava. Na mesa
onde estavam os citados casais, estes tiveram atenção logo despertada por
aquele burburinho causado no salão pelos comentários que surgiram como
cascatas versando sobre a inesperada aparição de tal ilustre personagem.
Alguém dos componentes da mesma mesa teria os outros alertado, dizendo algo
como: “Puxa, olha quem está entrando: o famoso Kreisler!”. Não demorou muito
para que uma das senhoras (ou senhoritas) que estava em tal mesa afirmasse:
“Ah, eu sou cara de pau mesmo, intrometida. Vou lá arrancar do velhinho um
autógrafo...” E, isso dizendo, tomou seu exemplar de cardápio em mãos e partiu
para falar com o grande violinista. Em se acercando dele, foi logo despejando:
“Olha aqui, senhor. Desculpe minha ousadia, mas é que desde tempos, em
minha família, meus pais, eu e meu marido sempre tivemos carros fabricados
pelo senhor, sempre Chrysler, Dodge, Plymouth. Assim seria muito valioso para
nós o seu autógrafo que peço deixar neste cardápio, certo?”. Talvez o mais
incrível disso relatado é como o grande Fritz Kreisler tratou tal ocorrência ao
tomar o cardápio e dizer: “Perfeitamente, minha cara senhora. Agradeço o
contido nessas palavras que me disse e, para sua pessoa e aos seus, exprimo
meus votos de felicidade.” E aí, tomando uma caneta-tinteiro (objeto que, ao
tempo, ocupava o lugar hoje preenchido pelas chamadas esferográficas),
registrou o “autógrafo”: “Com admiração Walter P. Chrysler”. Ou seja, de modo
muito humilde ele encarou o problema e ainda procurou atender à solicitação da
pessoa até voluntariamente aceitando se fazer passar por outra criatura, algo
dificílimo de se constatar acontecer com pessoas gozando da notoriedade que
Fritz Kreisler possuía. Adicione-se a isso o fato de, para talvez emprestar
credibilidade ao expediente de que se utilizara, Kreisler apôs, como autógrafo, o
nome quase por extenso de Walter Percy Chrysler, o engenheiro fundador da
Chrysler Corporation, indústria automobilística norte-americana. Vejam vocês,
algo por mim lido, talvez pelos idos dos anos quarenta e tanto, me marcou de
modo especial, não apenas pelo modo “anedótico” exibido na gafe, no “fora”
cometido por uma senhora, mas muito mais pelo testemunho de uma atitude de
grandeza impressionante dada por um homem que nos traz até hoje uma mais
que elogiável lição de procedimentos que o ser humano deve procurar ter para
merecer a condição de “ter sido feito à imagem e semelhança do Criador”.
Apenas como mais informes que junto para melhor poder situar tudo que
comento, deveria eu dizer que em 1941 F. Kreisler sofreu um acidente ao, como
pedestre, atravessar uma rua em N. York, que até o deixou em coma por
razoável tempo. Após, ele continuou sua trajetória na música, respondendo por
recitais, composições, gravações na RCA Victor, mas impondo um ritmo mais
cuidadoso aos seus afazeres e desempenhos, até vir a falecer ao início do ano
1962. Também, quanto a Walter P. Chrysler, este veio a falecer ao meio do ano
de 1950, fatos esses que servem para um certo balizamento aplicável a se poder
considerar de como o episódio aqui comentado teria ocorrido ao se procurar
situá-lo na passagem do tempo e de como um comentário, que veio a ser
publicado na imprensa dos Estados Unidos e retomado numa nova abordagem
mais plena em exemplar do “Reader’s Digest”, poderia ter tido lugar. Isso de algo
noticiado poder ser verossímil, não vindo a poder apresentar colisões com fatos
outros bem conhecidos nas vidas de pessoas envolvidas é algo que bem
examino ao ler um texto desse tipo e que, portanto, faço absoluta questão de
aplicar a quando elaboro um texto como tal.
Creio seria até dispensável fazer a inclusão ao texto que se segue,
quando queremos pôr em evidência o fato de as palavras (no caso nomes
próprios), já presentes no texto em inglês do “Reader’s Digest”, KREISLER e
CHRYSLER, serem homófonas (de mesmo som), mas de escrita diferente, com
relação à língua inglesa, razão pela qual foi possível surgir a confusão no
entendimento da senhora que foi buscar o autógrafo...
Encerro aqui este ESCRITOS BREVES (1), esperando que, pessoas que
o vierem a ler, possam se agradar de terem tido a ocasião e interesse em isso
fazer. Muito grato.
Brasil E. da Rocha Brito |
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