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Artigos-->PRISIONEIROS DA VELHICE -- 17/10/2018 - 19:41 (GERALDO EUSTÁQUIO RIBEIRO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estou sentado na recepção do asilo.

São quinze horas de um sábado ensolarado, mais um dia sem visitas para quebrar o silencio que incomoda. Os treze degraus da escada, e a pequena passarela de cimento que leva até o portão parecem obstáculos instransponíveis.

O portão fechado parece o de uma prisão.

Pessoas passam na rua. e de vez em quando alguém acena para um morador, que segura grade da janela do seu quarto, como um prisioneiro da velhice.

Todos vão envelhecer!

A grande maioria olha para os idosos como algo que já não serve mais, todos esquecem que se não quiserem ficar assim terão que morrer ainda jovens.

Ninguém nem com todo o dinheiro do mundo pode afirmar com absoluta certeza, que um dia não irá morar em um asilo. ou ficar confinado em cima de uma cama.

Aqui dentro o silencio é quebrado pelo som de um radio que toca qualquer coisa, e que a maioria finge escutar, também é quebrado pelas rusgas entre moradores por qualquer motivo banal.

O barulho da água do aquário parece gritar, contrastando com o silêncio dos peixes e dos moradores.

Muitas vezes nem os velórios são tão silenciosos.

Tem-se a impressão que o morador fica esperando a morte tomá-lo pela mão, para tirá-lo da agonia da indiferença.

Incrível!

A maioria sofre de algum distúrbio psíquico, e para eles, viver é apenas ficar olhando o vazio, mas mesmo na sua insanidade sabem a hora certa das refeições, e reclamam quando são mal atendidos.

Tenho certeza que há esta hora muitos parentes estão passeando, curtindo a vida em um clube, ou tomando sua cerveja saboreando um churrasco.

Para que visitar?

Ele (a) está bem cuidado (a)!

E assim os dias vão passando e a tristeza parece entranhar nas paredes, saídas dos gemidos de saudade.

Os moradores do lar só olham para frente.

Tudo ficou para traz.

Casa.

Filhos e maridos, ou esposas.

Netos e irmãos.

Amigos.

Todos são apenas vagas lembranças.

Quase sempre amargas, com raríssimos lampejos de doçura.

Por coincidência, o telefone tocou e o filho de uma moradora quis saber se sua mãe ainda estava viva; morando a cem quilômetros, não a vê há mais de quatro anos. E de fato, no outro dia ele veio visitá-la, e eu lhe dei este texto para ler na viagem de volta.

Pelo que sei até hoje não voltou para uma nova visita.

No entorno do asilo estão instaladas varias igrejas de todos os credos.

Os fieis das igrejas fingem não ver o asilo, acham que Deus os espera apenas nas igrejas e nos templos, os ministros de vestes brancas nem sequer olham para o prédio que é a morada do verdadeiro Cristo.

Não se lembram do que foi dito: “Eu estive doente e me visitastes”.

A tarde vai caindo e os últimos raios do sol vão embora, levando junto a esperança de receber uma visita.

A noite cai, é hora de ir para cama lutar contra o pensamento que teima em espantar o sono.

Aqui, o dia de sábado, com algumas exceções, é dia de agonia.

Os dias parecem se repetir.

As horas parecem eternas.

E seria tão fácil mudar esta rotina.

Não estamos pedindo muito.

Precisamos da presença de pessoas para dar um colorido diferente, no preto e branco da vida dos moradores.

O carinho dos funcionários não é suficiente.

O afeto do dia-a-dia no cuidado e na manutenção da casa, não permite um atendimento individualizado.

Fazemos o possível para amenizar a nostalgia que se transforma em tristeza.

Muitas vezes nos sentimos impotentes e tiramos da impotência estímulos para amenizar a vida de quem desaprendeu a arte de viver



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