Este texto revela boa parte do que se tornou o pontapé inicial
para que “Toda Blasfêmia Será Abençoada” fosse concebido.
Um dia me peguei afirmando isso a mim mesmo... não, não
tinha como falhar. Isso é mais uma opinião própria, sem se basear em artigos
científicos ou qualquer coisa do tipo, até porque estes artigos também são, na
maior parte de seu teor, compostos mais por conclusões obtidas por seres
humanos e ou não são questionados devido às credenciais de quem as elabora ou
porque simplesmente tem-se que acreditar em alguma coisa. Como está escrito, o
justo viverá por fé, o que significa esperar que o que ouve seja exatamente
como está, já que papel aceita o que se colocar nele e o que ouvimos não é
necessariamente o que sabemos...
Seja como for, depois de refletir, ponderar, estudar, enfim,
chego à conclusão de que o Cristianismo é algo que nunca poderia ter falhado em
atingir o maior número de adeptos possíveis, por uma simples razão: como se
pode falhar desenvolvendo uma ideia cujo principal alicerce nada mais é que a
maldade inerente à natureza humana? Pois, se não fosse pela maldade em questão,
como se iria permitir que alguém que, ao menos na teoria, não deve nada,
pagasse por uma humanidade que deve até a própria alma? E, através disso, não
apenas aprendemos indiretamente a colocar nos outros a culpa pelos nossos erros
como até a não sentir necessariamente remorso quando isso vem a ocorrer. Sabem
aquela estória de “a mulher que me deste por esposa, ela me deu do fruto e eu
comi...”
E por falar na suposta inocência do carpinteiro de Nazaré,
alguém me responda à seguinte pergunta: qual o valor do suposto sacrifício que
Ele teria feito na cruz? Submisso à vontade de Deus como era, o castigo que Lhe
seria imposto em caso de desobediência é óbvio; como qualquer outro que
desobedecesse à Sua vontade, seria condenado ao inferno e, por outro lado, tão
logo tivesse conhecido o martírio no calvário, seria acolhido pela morte e
teria Seu lugar à direita do que seria o trono de Deus. Punição caso não
obedecesse, paraíso em caso de obediência, fato esse plenamente conhecido pelo
filho unigênito e que nunca foi questionado por quem passa a vida a crer na
salvação eterna e cuja crença é baseada, unicamente, na eterna busca pelo
paraíso, em uma oposição com o que seria o mesmo paraíso, ainda que mais
imediato e assumido, pleiteado por quem “vende a alma ao diabo”, como chamam os
que não seguem os preceitos do Cristianismo ou assumidamente alegam louvar ao
próprio Diabo ou outras crenças consideradas hereges, pagãs ou ímpias. Mas o
próprio cristão, embora negue ou não perceba, é o colaborador e mantenedor de
uma tradição infinitamente mais diabólica que o próprio diabo que consideram
ser o arqui-inimigo de seu Deus.
Que perfeição pode existir em um Deus que se arrependeu de
Sua criação e reconheceu haver nela tamanha maldade que seria necessário enviar
o dilúvio para destruí-la e se começar tudo de novo? E que tipo de
arqui-inimigo de Deus e Sua criação tem permissão para subir novamente aos céus
e provoca-Lo de forma a destruir por completo a vida de Jó unicamente para
responder a uma provocação? E onde consta que o referido anjo rebelde havia,
alguma vez, sido expulso do céu, fora uma passagem que se refere não a Lúcifer,
mas a um rei, que teria caído devido à sua soberba? Por que todos os
personagens bíblicos possuem seus próprios nomes e estórias, exceto este, que
seria o responsável pelo fim de toda a criação mas que mais se assemelha, ao
longo de toda a obra, mesmo quando viria para testar Jesus Cristo ou trazer dor
e desgraça à criação de Deus, se assemelha mais a um testa de ferro, um braço
direito, que a um inimigo daquele que os cristãos chamam de Senhor? Fica mais
que claro que o diabo é mais um assessor de Deus que um inimigo e que, se faz o
que faz, é devido ao Seu aval. Um último
detalhe... já perceberam que o nome “Lúcifer” não é mencionado na Bíblia uma
única vez?
Sadismo? Tédio? Apatia? Qual a razão de levar Abraão a
sacrificar seu próprio filho se, sendo onipotente, onipresente e onisciente,
podia prever como tudo acabaria e que Abraão comprovaria sua lealdade? O mesmo
no caso de Jó, por que deixar que Satanás o destruísse completamente, ainda que
depois fosse restituir tudo o que foi tirado, como se tivesse algo a provar a quem
seria seu adversário? Vaidade? Estranhamente, este Deus, criador dos céus e da
terra, que deveria ser o cúmulo da perfeição, possui toda e qualquer qualidade
que seres humanos consideram defeituosa, inclusive o fato de expor alguém que o
ama a todo o tipo de sofrimento unicamente para provar um ponto de vista a quem
seria Seu inimigo. Onde está Sua perfeição tomando uma atitude que talvez nem
um reles mortal tomaria?
Está mais do que claro que o Cristianismo nada mais é do que
uma forma de se manter na linha quem, na maioria dos casos, já comprovou que
não conseguiria manter uma conduta reta, ilibada e inatacável se não tivesse
uma muleta espiritual em quem se apoiar, sem saber que há alguém para pagar por
seus erros e outro para culpar por eles. O Cordeiro e o bode, fica mais do que
claro, tornam-se faces da mesma moeda, uma coisa só, ou, no máximo, irmão mais
velho e mais novo, todos servindo àquilo que seria o desígnio infalível de uma
criatura que seria tão diabólica e maquiavélica que usa seu alter ego, discípulo
ou capanga como se fosse Seu maior inimigo...
A linha entre quem busca os céus por amar a Deus e quem
vende a alma para obter o que quer que deseje é tão fina que não se pode
caminhar sobre ela sem se pisar dos dois lados. A única diferença entre pagão e
cristão é que um é assumido; o outro é enrustido...