Assunto extremamente em voga de alguns anos pra cá, acho
desnecessário dizer que não apenas a maioria esmagadora da população brasileira
quer o fim do desarmamento e o direito de possuir e portar armas de fogo para
sua defesa como parecem estar tomando cada vez mais consciência que o
desarmamento só serviu para fazer os estragos dos quais já cansamos de falar, tanto
que nem pretendo dar ênfase a eles. Que o Brasil concentra cerca de 10% dos
homicídios no mundo todo e que aqui se mata com armas de fogo mais do que na
faixa de Gaza em pleno vigor de um desarmamento opressor e que países como os
EUA e Suíça, onde a posse e o porte de armas são liberados, têm um índice de
criminalidade e homicídios infinitamente inferior ao nosso, não é novidade
nenhuma. Entretanto, pensando sobre o assunto e me perguntando por que existe
tanta demora no tocante à lida com o assunto, cheguei à conclusão que o
problema tem mais a ver com a nossa postura como povo do que necessariamente
com a questão das armas em si.
Pensem na briga constante entre desarmamentistas e pessoas
que querem apenas usufruir do direito de possuir suas armas para defesa de seus
lares, integridade física e prática desportiva. Eu me pergunto se existe ao
menos motivo para que esta queda de braço entre os dois lados exista.
Particularmente, acho que não. Mas me parece que o complexo de vira-lata
predominante entre os brasileiros ou, ao menos, uma boa parte deles, é tamanho
que um lado tem sempre que vencer não apenas no que diz respeito ao assunto
armas de fogo mas até em discordâncias quanto à moda, opção sexual, time a que
se torce ou o que quer que seja. Não existe uma noção de espaço próprio e de
que o direito de um termina onde o do outro começa, algo como “quem quer ter
armas que tenha e quem não quer que não as tenha”. Observemos em volta e
veremos que há uma dificuldade no geral e não apenas no tocante ao armamento
para que exista um respeito ao espaço alheio, de forma que isso afete não
apenas no que diz respeito ao direito à defesa mas, também, na nossa
privacidade em geral.
Inexistência de limite entre o que é espaço público e
privado é uma coisa que acaba refletindo em todos os aspectos da sociedade. O
mesmo indivíduo que não tem consciência de que sua música tem de ser tocada em
um local com isolamento acústico adequado para não incomodar àqueles que não
apreciam este estilo musical, que não coloca seu lixo pra fora num horário em
que esteja próximo da passagem do caminhão que irá recolhê-lo e, assim, evitar
sujeira em espaço público, ou pior, simplesmente não tem a capacidade de jogar
seu lixo imediato em uma lixeira ao passar por uma ou aguardar até que passe,
entre outros pequenos aspectos que passam despercebidos, mas que revelam muito
sobre um povo e a forma como isso irá influenciar em uma série de aspectos que
terão maior ou menor importância no cotidiano de um povo. Como no caso do nosso
interesse maior, que é a liberdade de acesso às armas; que interesse têm
aqueles (falo de cidadãos como nós) que sequer sabem como dar um tiro em vedar
acesso às armas aos que têm aptidão para tê-las? Egoísmo, imbecilidade ou, como
os governantes em quem votam, intenções escusas?
Como numa casa, o alicerce tem que estar firme. E como uma
extensão da casa é o País, onde o alicerce se chama consciência, e esta é
obtida através da educação. Armas? São parte do objetivo, mas, acima de tudo,
há de se preservar o direito de escolha, o verdadeiro alicerce que preservará
não apenas a possibilidade à defesa, mas todos os outros.
Mantenhamos o foco...