Em outro artigo de minha autoria, “Mudanças no sistema
penitenciário”, apresentei a colegas de trabalho meu parecer a respeito da
responsabilidade do agente de segurança penitenciária não apenas no tocante às
responsabilidades cotidianas dos estabelecimentos prisionais mas, também, na
cobrança às nossas autoridades quanto à apresentação de soluções, haja visto
que somos responsáveis pela guarda daquilo que não deu certo no mundo exterior
e, consequentemente, sofremos de forma penosa, insalubre e perigosa pelo
trabalho nestes locais que eu, particularmente, chamo de esgoto da sociedade,
onde desaguam os inadequados ao convívio social. Leia-se, temos de ser os
primeiros a querer que tudo funcione para que o mínimo de cidadãos possível
seja recolhido ao cárcere.
Entre os problemas que eu citaria, que transformam o sistema
penitenciário em uma bomba cujo pavio pode ser mais curto ou mais longo
dependendo do momento, estão questões legislativas, educacionais e, de certo
modo, culturais. O encarcerado, que muitas vezes bate a mão no peito e tem
orgulho de autodenominar-se criminoso, não tem medo da prisão, do sistema
judiciário ou dos profissionais de segurança pública, que têm de se submeter ao
cumprimento das leis. Eles sabem que, se forem recolhidos à prisão, terão a
assistência dos “irmãos” de facções criminosas, que existem canais para que
tenham acesso a drogas, celulares e a toda manutenção de suas atividades
ilícitas, sejam estas executadas através de servidores corruptos, visitantes ou
outros meios, variando de acordo com a estrutura do estabelecimento e das
possibilidades oferecidas por ele. Remissão de pena, condicional, semiaberto,
proteção total da lei, visitas no final de semana, enfim, todo tipo de regalia
possível que transformam a cadeia num mal necessário, mas que não inibe, seja
no interior da prisão ou logo após o alvará de soltura, a ação do malfeitor.
Ressocialização? Seja sua obtenção através do estudo ou do trabalho no presídio
é apenas mais uma forma de se conseguir a liberdade de modo mais rápido, nada
mais, além de criar a frustrante sensação de que o detento possui mais direito
a trabalho e a estudo que quem está em liberdade, cumprindo suas obrigações de
cidadão e pagando seus impostos.
Não defendo a tortura ou tratamento desumano, mas, enquanto
o sistema legislativo não for reformulado e a prisão se tornar algo que
realmente cause terror no criminoso, o problema da superlotação não só não
diminuirá como pode até aumentar. A sensação de segurança é tamanha que mesmo
em presídios de perfil diferenciado, que abrigam estupradores, pedófilos e
criminosos afins, se sentem como se o mundo lhes pertencesse e parecem só
aguardar a oportunidade de sair para, logo em seguida, voltarem a ser presos.
A curto prazo, acredito que uma solução a ser apresentada é
evitar a prisão de indivíduos responsabilizados por delitos pequenos, como
furtos (salvo o qualificado e que implique formação de quadrilha e reincidentes
em furtos pequenos) e até crimes sexuais que são enquadrados como estupros por
nossa legislação atual, mas, muitas vezes, se resumem em relacionamentos que
ocorreram, inclusive, com o consentimento da suposta vítima (homem adulto que
tem um relacionamento com garota de treze e que, por sinal, sabe mais sobre
sexo que muitas mulheres de 40 ou, ainda, professora que tem relacionamento
sexual com aluno adolescente). Delitos menores podem se tornar maiores, não
resta dúvida, mas acredito que não haja solução, no caso do primário, que trabalhar
com a possibilidade de que o delito não se repetirá ou, simplesmente, aplicar
uma pena alternativa, afastando a prisão e deixando-a apenas para crimes
hediondos e reincidentes, pessoas que realmente tem natureza criminosa e que
realmente tenham de estar aprisionadas. Ainda, no caso do infrator menor, sendo
este reincidente em crime de menor potencial, caso condenado, que fique ciente
que a partir de determinada data passará a cumprir sua pena em estabelecimento
prisional, data esta que será quando haverá vaga que poderá ser ocupada por
ele, procedimento que poderá ser aplicado caso possua residência fixa e
ocupação lícita.
A longo prazo, bom... A única solução para o caso é um
investimento pesado em educação, segurança pública e emprego, mudança na política
fiscal e política (acredito que saibam do que eu falo) bem como uma mudança na
política de execução penal. Seja como for, o estrago feito com as gerações
atuais, onde a maioria dos presidiários tem entre 18 e 23 anos, não terá como
ser desfeito, devendo-se, agora, pensar nas gerações futuras enxugar gelo com
as atuais. Entre elas os filhos de presidiários que, graças a nossas leis,
entram nos presídios nos finais de semana e estão crescendo cercados de todo
tipo de criminosos e sendo condicionados a acreditar, desde cedo, que estar
preso é algo normal.
Mantenhamos o foco...