Bem e mal simplesmente não existem. São duas vertentes tão
enganosas quanto um sem número de entidades espirituais benéficas ou malignas
criadas pela imaginação do homem, seja para lhe dar esperança, seja para
justificar suas ações. A mesma necessidade de se crer em algo para que a
ciência do próprio fim não nos leve à loucura, e a esperança de redenção e o
medo de punição façam seu papel, que é manter a humanidade nos trilhos, faz com
que o ser humano tenha necessidade de uma vida espiritual desde que o mundo é
mundo. Afinal, como confiar numa espécie que necessita de códigos de ética,
crenças religiosas e regras escritas para não se autodestruir?
Não haverá bons ou maus no fim. Deus ou o que quer que
comande este universo com certeza não irá privilegiar qualquer um que ache
estar certo unicamente porque seus próprios motivos o levaram a fazer algo que
achou ser correto. Sorte ou azar não têm nome, independente de não se crer em
coisa alguma ou se achar abençoado o bastante porque permitiu que alguém fosse
crucificado para pagar pelos nossos pecados como se faz com qualquer bode
expiatório, ainda mais quando este sai ganhando a eternidade depois de ter
emprestado ao Pai algumas horas de Seu próprio sofrimento. No final tudo se
resume ao que esperamos que possa acontecer, que queremos que aconteça, e que
estará eternamente à mercê de circunstâncias criadas seja por nós, seja pelo
que acontece ao nosso redor. Afinal, quando se diz que a responsabilidade é
toda sua, se diz para todos, e não unicamente pra alguns. Pego, assim, carona
no que dizem os Rolling Stones em seu clássico “Sympathy For The Devil”: “assim
como todo polícia é bandido, todo bandido é santo...”