O fato que vou resumir abaixo foi noticiado ontem, 07/05 às 22 horas nos programas esportivos. Assim sendo, se houver necessidade de "provas", basta solicitar cópia às emissoras.
O popular clube Flamengo (RJ) efetuou uma transação de compra de um jogador do Corinthians (SP) há alguns meses. O próprio Presidente do clube (Edmundo Santos Silva, aquele que "chorou" quando se viu sem argumentos dentro de uma CPI há poucos meses) serviu de avalista. Como o clube não honrou seus compromissos, o Corinthians recorreu à Justiça para receber o que tinha direito. O advogado deste clube e uma Oficial de Justiça, estiveram no clube com mandado de prisão contra o Presidente do Flamengo, que saiu pelas portas dos fundos. Eles foram obrigados a comparecerem à residência do citado, que lá também não foi encontrado. Numa manobra estranhamente veloz, o advogado do acusado conseguiu uma suspensão da prisão assinada pelo próprio juiz que havia decretado o mandado de detenção.
Enquanto isto, uma diarista doméstica em São Paulo, cuja casa (barraco) está encoberta pela sombra da fome, subtraiu uma lata de sardinha do armário de sua patroa para saciar o desespero de seus filhos. A patroa (nem o juiz) não a perdoou e a colocou na prisão. Às 22:30 o repórter entrevistou o Edmundo que sentiu-se injuriado pela ação do advogado do Corinthians, dizendo que ele tomou uma atitude nojenta e petulante por ter comparecido à sua residência incomodando sua família na hora do jantar. Cada um que faça suas comparações.
Vou fazer as minhas, mesmo correndo o risco de ser acusado de estar "generalizando".
Tal fato é apenas a ponta de imenso iceberg que representa as transações realizadas pela MAIORIA dos grandes clubes brasileiros, envolvendo compra e venda de jogadores sem o recolhimento adequado de impostos, contratos com a tv pela exibição de jogos e desvios das rendas dos jogos. Na década de 80 (creio – as rádios e jornais ainda devem possuir registros para comprovar), Eurico Miranda, do Vasco (RJ), foi para casa com a renda de um jogo de seu clube. Naquela mesma noite, foi "assaltado" por três marginais e até hoje não existe uma ponta de cigarro que sirva de pista para "solucionar" o caso.
Após a copa de 1994, na euforia da conquista do título, qualquer integrante da comitiva (que recebe polpudos salários – alguns até merecidamente) era considerado "herói" nacional (e o operário esfomeado que sobrevive com menos de U$ 100,00?). Nesta euforia, quaisquer embrulhos pertencentes aos "heróis" passavam pela alfândega sem empecilhos. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira (outro que não explicou nada na malfadada CPI citada acima) trouxe uns três "containers" que transitaram sem vistoria pela fronteira. Como será que armas e drogas entram em nossa pátria?
O que acontece nestes clubes, ocorre na MAIORIA dos municípios, estados e dentro da área federal. Afinal de contas, os mais exóticos modelos de corruptos que dirigem nossos destinos são exibidos sorridentes e realizados diariamente na mídia, facilitando e incentivando as mesmas práticas nos mais variados segmentos da sociedade, que se acham no mesmo direito e descobrem que a Justiça só é eficaz contra quem furta latas de sardinha e não tem meios de contratar um advogado do padrão que defende Edmundo Santos Silva.
Não se surpreendam se dentro de alguns meses o "juiz" Lalau entrar com uma ação de danos morais contra a união por estar numa cela onde sua tv não apresenta muita nitidez. Afinal, como é que ele vai assistir a copa do mundo de futebol nestas precárias condições?
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – Maio / 2002
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