Quaresma em Quarentena
Quaresma em Quarentena
Um vírus letal paira sobre a Terra. Não há remédio que o mate nem
desinfetante que daqui o afaste.
A pandemia inevitável, cravada na sua cadeia genética é um
toque de recolher, ficar longe, se esconder.
É Quaresma em quarentena, igrejas vazias que pena!
Ou será que a Mãe Terra ordena: parar para pensar se como tudo
está indo vale a pena?
A natureza lá fora mais limpa, mais bonita agora, manda-nos olhar
o céu, a Terra, o mar, as águas dos rios, dos lagos, das lagoas, Que
boas!
O ar que dali vem quer nos ensinar outra forma de aqui estar.
Começa por nos dizer: na raiz de todo e qualquer problema já está
a solução.
Por que andais a errar tanto então?
Dos males do corpo a ciência se encarrega: não tarda vai aparecer
um remédio uma vacina para deste vírus o mundo se livrar, se
insistir em ficar por aqui, já não é uma ameaça, é inimigo
conhecido, fácil de derrotar.
A ciência se encarrega de curar as doenças que por aqui estão e as
que virão.
Os males da mente e da alma, também a ciência deles se anda a
ocupar.
Pregam amor à sabedoria, desprezo pela ignorância, alguns
filósofos a acusam de ser a mãe de todo o mal.
Na dimensão metafísica tentam compartilhar religião com buscas
de verdades, lógicas, passíveis de comprovar.
Até agora andamos ocupados demais com problemas e sua
extensão, focados na situação, enredados nas teias da ilusão que
os problemas tecem para mais e mais nos enfraquecer. Fracos,
opacos, sem forças, sem luz aceitamos a cruz.
Refugiados nos caminhos da ilusão, da mentira, do disfarce. Nas
vielas da escuridão cavamos nossas sepulturas, construímos
prisões, que antes de serem construções de pedra, cimento e ferro
já eram cadeias no coração.
Embriagados, enfeitiçados, bêbados a cair ao chão não
conseguíamos enxergar o mal que nos andava a rodear. Qualquer
saída por mais perigosa que fosse nos parecia a solução: cegos,
surdos, sem razão íamos, íamos até cair nas armadilhas do coração.
da ignorância, da ilusão, atraídos pela magia que nos parecia a
solução. Parecia, mas não era, era fera faminta querendo nos
devorar: és agora carne fraca, mais um humano jogado ao chão a
passar pelo teste da humildade sem dó nem piedade.
Nisto tão enredados andávamos e andamos que não conseguimos
enxergar outras saídas para além desta situação, que na verdade
não são saídas, são teias tecidas com fios de ilusão. Não há
verdade, nem sinceridade, nem amizade, nem amor, nem piedade,
é o caminho que vai dar no fim do poço e nos vai jogar ali, sem
dó nem perdão,
Ali é que se vê que andamos a servir a quem só pensava em nos
destruir. Eis aqui o inferno que andamos a construir.
Parados, calados, sem termos com quem falar desatamos a
pensar.
Voltamos à raiz do problema e começamos a enxergar a solução
que sempre esteve ali a nos estender a mão, a nos mostrar outra
forma de aqui estar. Olhamos mais um pouco e vemos o problema
real, tal qual, nem problema era, nunca foi, nunca existiu. Tudo não
passou de fruto da ignorância, do pouco saber.
A solução é o caminho da verdade, despido de qualquer maldade.
É se ver tal qual, rasgar as capas da ilusão, da falsidade, da
corrupção. É se ver nu, sem nada além de si mesmo. O que eu vou
conseguir, eu mesmo terei que construir.
Olha-se mais e vê que é do Grande Arquiteto do Universo, um filho
distante, ainda assim semelhante, não tem luz própria ainda, mas
começa a enxergar que dentro de si há um santuário, um altar ,
sobre ele uma chama trina, a nossa essência divina, e uma alma a
rezar.
Acredita, é essa chama trina que ele vem alimentar, é essa alma a
rezar que Ele vem visitar.
Lita Moniz
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